Folha de S. Paulo
Os ruídos entre Poderes desmentem a
'sintonia' celebrada nos discursos das chefias
Harmonia foi a palavra campeã nas falas dos
comandantes dos Três Poderes por ocasião da reabertura
dos trabalhos do Legislativo e do Judiciário. Os recados detectados nas
entrelinhas ficam na conta livre das interpretações.
A se enxergar o ambiente pelo prisma dos discursos de Luiz Inácio da Silva (PT), Hugo Motta (Republicanos), Davi Alcolumbre (União) e Luís Roberto Barroso, a conclusão seria a de que o perfeito entendimento reinaria sobre a República.
Ocorre que a necessidade de reafirmar
afinidades com tanta veemência e insistência já demonstra que suas excelências
falaram justamente do que faz falta.
A amizade com os chefes da Câmara e do Senado preconizada
por Lula,
a promessa de ajudar o governo feita por Motta e Alcolumbre e as loas à
convivência entre pessoas "que se querem bem" tecidas pelo presidente
do Supremo Tribunal Federal, contrastam com a realidade dos ruídos e disputas
por protagonismo constantes no convívio das instituições.
No
chão do Parlamento vimos a guerra de bonés e palavras de ordem entre
governistas e oposicionistas num clima que antecipa dificuldades para a
construção de consensos em torno de pautas caras ao Planalto.
O presidente da Câmara, Hugo Motta, já avisa:
se não mudar o rumo da gastança, Lula não terá apoio no Congresso e pior, tende
a se dar mal na eleição de 2026.
Na agenda do STF os temas
não falam exatamente a respeito de convergências. No meio dos embates, o
Executivo se posiciona de forma hesitante para não desagradar a nenhum dos
dois.
A sintonia da teoria não existe na prática. O
desequilíbrio entre os Poderes é patente e a tensão permanente. Não se pode
falar em normalidade num cenário em que o Planalto escora sua fragilidade no
Judiciário que, por sua vez, serve como estuário de contestação a decisões do
Legislativo que desagradam o lado perdedor.
Os ditos na reabertura serão testados no
decorrer dos trabalhos, a começar pelo enrosco das emendas de cuja solução
dependem a reforma ministerial e a aprovação do Orçamento.
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