O Globo
Alguns preços continuarão pressionados, mas a
inflação de alimentos deste ano será mais baixa do que no ano passado
No preço dos alimentos, o pior passou. Quem
diz é o economista José Roberto Mendonça de Barros. Isso não significa vida
fácil. Alguns preços continuarão pressionados, mas a inflação de
alimentos deste ano será mais baixa do que no ano passado. A supersafra de soja
deve derrubar deve derrubar as cotações internacionais, reduzir o preços da
ração, que, por sua vez, diminui o custo de aves e suínos. Carne bovina
continua no ciclo altista do boi. O café continuará amargo.
O custo do alimento é o mais sensível, bate no orçamento familiar, aumenta o mau humor da população com os governos, mas as intervenções estatais no passado deram muito errado. Há medidas que o governo pode tomar, mas é bem menos óbvio do que parece aos políticos. O assunto virou parte da guerra dos bonés, mas, nesse ponto, a oposição não tem razão alguma: os preços de alimentos explodiram no governo Bolsonaro. Quando a demagogia entra no assunto, o melhor remédio é olhar os números.
José Roberto Mendonça de Barros diz o
seguinte sobre o que deve acontecer este ano:
— A minha percepção é que o pior ficou para
trás. Estamos entrando numa safra que será boa e o preço de vários produtos
tende a cair. Com isso, o índice médio de inflação agrícola será menor. A
inflação no domicílio deste ano deve ficar em torno de 6% a 6,5%. Tudo depende
muito do que vai acontecer com a taxa de câmbio.
Há um grupo de produtos que não vai cair
porque tem escassez global, como o café.
— A quebra de safra do Vietnã foi grande,
então a demanda pelo café robusta conilon do Espírito Santo está muito forte e
extravasou para o resto. O Brasil exportou bastante, 50,4 milhões de sacas, mas
não tem café no mundo. A safra que será colhida está projetada em torno de 50
milhões de sacas, mas não é uma ‘safrona’ para derrubar os valores praticados.
O segundo problema é a laranja: as plantações foram atingidas pelos furacões
que devastaram a Flórida.
Tem ainda o problema do “ciclo do boi”, que
continua presente. Depois da grande venda de bois em 2023, que derrubou os
preços, veio a outra parte do ciclo, a renovação do rebanho. Por isso, a carne
bovina não tem expectativa de queda, apesar da redução do custo da ração que
afeta outras carnes.
— As notícias recentes são de que a produção
de soja, apesar de alguma quebra no Mato Grosso do Sul, no Paraná e no Rio
Grande do Sul, será excepcional no Centro-Oeste e alguns falam em 170 milhões
de toneladas. Isso é grande. Aí derruba mesmo os preços internacionais.
Provavelmente, acontecerá o mesmo com o milho. A safra de grãos será boa e dá
para dizer que os preços terão um alívio. A ração fica mais barata e há uma
redução dos preços dos suínos, frango, ovos e mesmo na carne vermelha. Isso
será de grande ajuda. O leite vai depender. Se chover bem, o preço ao produtor
fica bom e a produção aumenta. Há produtos que caíram bastante: cebola caiu
35%, tomate, 25%, batata, 12%, cenoura, 18%.
No ano passado, os preços de alimentos
subiram muito, depois da deflação em 2023. Laranja teve alta de 48%, carnes
20%, café, 40%. Tudo isso e o câmbio subindo no fim do ano puxaram para cima o
IPCA.
No
IGP-DI de janeiro, houve mudança forte em alimentos processados no índice de
preços ao produtor. Saiu de uma alta de 1,61% para uma queda de 0,64%.
Óleo de soja, açúcar e carnes mudaram o sinal. O economista André Braz acha que
é preciso esperar um pouco para ver a tendência, mas neste momento há alguns
preços com possibilidade de redução.
Os preços de alimentos obedecem a um
sem-número de variáveis, mas ter uma política econômica previsível ajuda. Uma
crise internacional pode atingir a cesta de consumos. E foi isso que aconteceu
na pandemia. Mas não foi a única razão. A condução da crise sanitária pelo
governo —errática, conflituosa e sem estratégia — piorou tudo.
Pelos dados do Banco
Central, de 2020 a 2022, o grupo de alimentação no domicílio acumulou alta
de preços duas vezes superior ao IPCA. Ficou em 44,8%. Sendo que cereais e
leguminosas subiram 50%, tubérculos e legumes, 115%, frutas, 60% e carnes, 30%.
Mas o fato é: os preços de alimentos subiram
muito no governo Bolsonaro e o boné com a inscrição “comida barata novamente”
aposta que o consumidor não tenha memória do que ocorreu em sua própria mesa.
Por outro lado, o governo atual tem que ter uma estratégia de agir apenas onde
possa ajudar, sem querer repetir o que, no passado, deu muito errado.
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