Há sinais animadores nas contas externas do País, prenúncios de uma fase de reativação econômica, depois de mais de dois anos de recessão. Em janeiro, tanto as exportações como as importações superaram as de um ano antes. As vendas totalizaram US$ 14,86 bilhões e foram 33,46% maiores que as de janeiro do ano passado. As compras somaram US$ 12,36 bilhões, com crescimento de 17,89% na comparação anual. O aumento do valor importado indica um mercado interno mais movimentado e com expectativa de maiores gastos de consumidores e de empresários. Também cresceram os gastos com viagens, um dos itens comprimidos no ano passado. O superávit comercial, de US$ 2,50 bilhões, foi 287% maior que o de janeiro de 2016. Mas, com o aumento do déficit nas contas de serviços e rendas, o buraco nas transações correntes passou em um ano de US$ 4,82 bilhões para US$ 5,08 bilhões, segundo os números publicados pelo Banco Central (BC).
Esse resultado negativo foi muito facilmente coberto com investimentos diretos de US$ 11,53 bilhões, um surpreendente recorde para o mês na série histórica. A atração de investimento direto, uma aplicação geralmente de longo prazo, é importante por mais de uma razão. Esse tipo de operação beneficia diretamente o setor empresarial, pode contribuir para o fortalecimento da capacidade produtiva e é um claro sinal de confiança nas perspectivas da economia nacional.
No ano passado entraram US$ 78 bilhões de investimento direto líquido, um número especialmente notável num ambiente de contração econômica e de crise política, e para 2017 a previsão do BC é de ingresso de US$ 75 bilhões. Esse valor será muito mais que suficiente, de novo, para cobrir o déficit esperado nas transações correntes.
A economia brasileira sairá do atoleiro e recomeçará a crescer neste ano, segundo o BC, e essa expectativa continua inscrita em sua projeção das contas externas para 2017. Com os primeiros passos da recuperação, deverá inverter-se o cenário observado nos últimos dois anos.
Durante a recessão, a contração dos negócios, com desemprego em alta, consumo em baixa e investimento produtivo em queda livre, provocou um ajuste doloroso no balanço de pagamentos.
O saldo comercial aumentou em 2016, mas isso ocorreu porque as importações caíram mais que as exportações. O déficit em conta corrente diminuiu e chegou a US$ 23,53 bilhões, como reflexo do superávit no comércio de bens e da menor saída de dólares pelas contas de serviços e de rendas.
Com maior atividade no mercado interno, em 2017, aumentará a demanda de bens estrangeiros e o gasto com importações chegará a US$ 151 bilhões, valor 8,32% maior que o do ano passado. A receita de exportações crescerá 5,75% e atingirá US$ 195 bilhões. Com as importações crescendo mais que as exportações, o saldo comercial diminuirá de US$ 45,03 bilhões para US$ 44 bilhões.
Levando-se em conta o crescimento esperado de outros gastos, o déficit em transações correntes deverá aumentar de US$ 23,63 bilhões para US$ 28 bilhões e será coberto com grande folga, mais uma vez, pelo investimento direto, pelas projeções do BC.
A previsão de superávit comercial menor e déficit maior em transações correntes está associada, claramente, à expectativa de maior atividade econômica e de expansão da demanda interna. Essa expansão deverá ocorrer, de acordo com os planos oficiais, mesmo com o esforço de contenção dos gastos orçamentários do governo federal. A maior demanda interna deverá resultar do maior consumo das famílias, da reativação da atividade industrial, da reanimação da construção civil e, espera-se, de programas de investimento de capital privado em grandes obras de infraestrutura.
Apesar de alguma piora inicial das contas externas, o Brasil atravessou a recessão sem crise de balanço de pagamentos, com reservas cambiais acima de US$ 370 bilhões. Os fatos parecem ter decidido a discussão sobre os custos e vantagens de manter esse volume de reservas. A resposta, tudo indica, foi claramente positiva.
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