Segundo projeções, centrista Emmanuel Macron iria para o segundo turno e venceria Marine Le Pen, líder da extrema direita da França
Andrei Netto / Correspondente | O Estado de S. Paulo
PARÍS - A pouco mais de dois meses do primeiro turno, a eleição presidencial da França tem um surpreendente favorito. Ex-membro do Partido Socialista (PS) e ex-ministro da Economia de François Hollande, Emmanuel Macron, de 39 anos, aparece em segundo lugar. Pelas projeções de segundo turno, ele venceria a líder de extrema direita Marine Le Pen, da Frente Nacional (FN).
O duelo representa o enfrentamento entre duas visões de mundo: Macron, uma espécie de Tony Blair francês, candidato pelo movimento independente En Marche!, defende o ideário da terceira via e o socialliberalismo, é pró-globalização e pró-União Europeia. Le Pen defende o retorno ao nacionalismo e das fronteiras, o rompimento com Bruxelas e a implosão do bloco econômico.
“Há um espaço eleitoral para um projeto que seja pró-globalização e liberal nos temas sociais. Macron ocupou esse espa- ço, encontrando uma forma própria de tratar a minoria mu- çulmana e o direito da minoria LGBT, por exemplo”, disse ao Estado o cientista político Thomas Guénolé, autor de La Mondialisation Malheureuse (A Globalização Infeliz).
Em uma campanha que já vitimou líderes como Hollande, o ex-presidente Nicolas Sarkozy, o ex-premiê Alain Juppé e a lí- der ecologista Cécile Duflot, analistas consideram a eleição imprevisível. Nesta semana, uma sondagem do Centro de Pesquisas Políticas (Cevipof) indicou a liderança de Le Pen, com 26%, seguida de Macron, com 23%. Em terceiro, o ex-premiê François Fillon, do partido Republicanos (direita), com 18,5%, e Benoit Hamon, do PS, com 14,5%. Ou seja: a líder tem apenas 11,5 pontos porcentuais a mais que o quarto colocado.
O cenário de instabilidade prevê que Macron possa perder fôlego quando apresentar seu programa de governo, em 2 de março, ou por não contar com uma base partidária sólida. Em um país em que a oposição esquerda-direita é histórica, sua mensagem centrista é arriscada. Outro empecilho pode ser a eventual candidatura do líder centrista François Bayrou, fundador do Movimento Democrático (MoDem), partido que há 10 anos tentou implantar a cultura do centro na França, sem sucesso.
Macron também terá de resistir à propaganda difamatória e à ofensiva “pós-verdade”, similar à que ajudou a eleger Donald Trump. Há 10 dias, o ex-ministro ironizou rumores de que, mesmo sendo casado, teria um caso homossexual com o diretor da Radio France Internationale (RFI). “Como minha mulher compartilha toda a minha vida, da manhã à noite, ela se pergunta como seria fisicamente possível”, brincou.
Todos os desafios e rumores não têm abalado sua imagem. Um estudo recente apontou Macron como a personalidade política favorita de 40% dos franceses. De acordo com Jérôme Fourquet, diretor do instituto Ifop, “Macron é o único que tem um discurso otimista. É o único a não ter vergonha da UE”.
A pergunta que muitos analistas se fazem é se o centrista pode vencer. Para tanto, entende Guénolé, o ex-ministro precisa contar com o desmoronamento de uma das candidaturas de partidos tradicionais. É o que está acontecendo com Fillon, investigado pelo Ministério Público por corrupção.
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