Uma nova meta de inflação tornou-se objeto de debate entre autoridades e observadores da economia. Trata-se de decidir se o Banco Central terá como missão levar o índice dito oficial de preços, o IPCA, a uma taxa inferior a 4,5% ao ano, objetivo fixado desde 2005.
A discussão foi reavivada pelo impulso reformista do governo e pela perspectiva de que a carestia continue em baixa até o final do ano que vem. Recentemente, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou que a meta deveria baixar a 3%, no longo prazo.
Em geral, há vantagens em fixar metas mais ambiciosas –desde que críveis. De mais importante, a expectativa de taxas menores tende a reduzir a indexação formal e informal de salários e contratos.
Assim, pode-se evitar a persistência de alta de preços e, em decorrência, o custo de contê-la por meio de taxas de juros exageradas.
Nossa inflação não é elevada apenas na comparação com as cifras do mundo desenvolvido. Em emergentes como Chile e México, a política monetária já persegue o percentual citado por Goldfajn.
Uma conjunção de fatores torna o momento atual da economia brasileira particularmente propício para definir um cronograma de baixa paulatina da meta.
As atuais equipes do BC e da Fazenda dispõem de credibilidade e, até onde a vista alcança, de autonomia para a condução de suas políticas –o que não havia durante o governo de Dilma Rousseff (PT).
Ao derrubar o emprego e o consumo, a recessão brutal acabou por reconduzir os índices de preços à trajetória de queda. Há otimismo com o avanço das reformas que, se confirmado, tornará factível o reequilíbrio orçamentário do governo a longo prazo.
Nesse cenário, a busca de uma inflação mais civilizada pode, em tese ao menos, ser conduzida sem a necessidade de aperto da política monetária –ou, mais precisamente, sem interromper o atual ciclo de abrandamento dos juros.
O Conselho Monetário Nacional deliberará sobre a meta em junho. Até lá haverá tempo bastante para que se confirmem ou não os prognósticos favoráveis.
O cuidado a ser tomado, evidentemente, é com a incipiente retomada da atividade econômica, após quase três anos de retração aguda. A política do BC deve zelar pela recuperação do crédito e do emprego, em meio a riscos advindos do cenário político que tão cedo não estarão dissipados.
Como quase tudo em economia, o tema divide os analistas, havendo os mais e menos ortodoxos. Mais que discussão teórica, impõe-se uma decisão pragmática. O objetivo está correto; a questão é em quanto tempo atingi-lo.
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