Os ingressos de investimentos estrangeiros diretos no país somaram o representativo montante de US$ 11,528 bilhões em janeiro e, num quadro ainda de muita incerteza sobre a recuperação cíclica da atividade, significam uma forte aposta no potencial de crescimento de longo prazo da economia brasileira.
Uma boa parte desse fluxo de capitais está ligada à venda de ativos por empresas nacionais endividadas, que têm dificuldades de navegar pela mais profunda recessão da história. Também traduz uma dose do oportunismo de investidores estrangeiros que aproveitam o dólar mais forte ante o real para fazer algumas barganhas.
Em janeiro, cerca de 60% dos ingressos de investimentos diretos foram dirigidos ao setor de eletricidade, gás e outros serviços de utilidade pública. O Banco Central, responsável por compilar as estatísticas do balanço de pagamentos, não abre as estatísticas por negócios individualmente, mas é bem provável que o grosso desse fluxo esteja ligado à compra da CPFL Energia pela empresa estatal chinesa State Grid.
Mas seria um erro resumir todo o fluxo de investimentos diretos apenas à busca de pechinchas. Em janeiro de 2016, quando a cotação do dólar superou R$ 4, o fluxo desses capitais somou "apenas" US$ 5,455 bilhões. Ou seja, menos da metade do volume registrado em janeiro de 2017, quando o câmbio havia se valorizado em mais de 20%.
Há uma tendência maior de recuperação dos investimentos diretos. O fluxo desses capitais caiu 23% entre 2014 e 2015, à medida em que a crise econômica e política se agravava. De forma surpreendente, manteve-se estável em 2016 acima de US$ 70 bilhões, que representa mais de 4% do Produto Interno Bruto (PIB), mesmo durante o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Em fins de 2016, voltou a se recuperar, justamente quando o câmbio se apreciava, refletindo o fortalecimento da confiança nos ajustes macroeconômicos encaminhados pelo governo. Os ingressos acumulados em 12 meses chegaram a US$ 85,001 bilhões em janeiro, que equivalem a 4,66% do PIB.
Embora os dados não abram quanto desses investimentos diretos está ligado à aquisição de ativos no Brasil e quanto representa aportes em novos empreendimentos, a avaliação qualitativa do Banco Central é que tenham ambas finalidades.
Mesmo quando esse capital estrangeiro se dirige a compra de empresas brasileiras já em operação, ele traz ganhos importantes à economia. Entre eles, a manutenção e até criação de novos empregos, a transferência de novas tecnologias que ajudam a aumentar a produtividade e a perspectiva de novos ingressos de investimentos diretos para ampliar a capacidade produtiva no futuro.
Também representam uma fonte estável de financiamento das contas externas. Em 4,66% do PIB nos 12 meses até janeiro, os investimentos diretos são mais do que suficientes para cobrir o déficit em conta corrente, equivalente a 1,3% do PIB no mesmo período. Há, ainda, uma "sobra" de capitais de alta qualidade disponível no mercado de câmbio que deu tranquilidade para as empresas brasileiras reduzirem o seu o endividamento externo.
Os benefícios incluem, ainda, a melhora na composição do passivo externo. Hoje, o Brasil tem mais investimentos diretos no seu passivo (53,5%) do que empréstimos tomados no exterior (13,7%), por isso os déficits em conta corrente se ajustam de forma mais suave nos períodos de restrição de financiamento externo.
Apesar de ter se mantido relativamente forte durante a crise fiscal e política e de ter iniciado trajetória de recuperação, os fluxos de investimentos diretos seguem abaixo dos volumes de até US$ 100 bilhões observados no início da década e das imensas oportunidades do mercado interno e externo. Os ingressos certamente passarão a crescer com mais vigor quando a atividade estiver em estágio mais avançado de recuperação, e a capacidade da economia - hoje ociosa - estiver preenchida.
Mais do que o ciclo econômico, porém, é sobretudo a tendência de crescimento de longo prazo da economia que atrai capitais produtivos. Por isso será necessário o Brasil avançar nas reformas fiscais, em especial a da Previdência, prosseguir com a agenda de reformas microeconômicas e garantir um ambiente estável e previsível para as concessões de serviços públicos.
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