EDITORIAIS
A redução da população jovem
O Estado de S. Paulo
Chegou-se à fase chamada de país maduro. A população mais idosa tende a crescer mais rapidamente. Cresce também, obviamente, a idade média da população
É universal o fenômeno do envelhecimento da
população como decorrência das mudanças no modo e na qualidade de vida. Na
grande maioria dos países, vive-se mais e melhor. Ainda que esperadas, as
transformações demográficas podem, porém, ser impressionantes. No Estado de São
Paulo, por exemplo, a população em idade escolar diminuiu 15,7% em 21 anos. Em
2000, havia 9,33 milhões de crianças e adolescentes com idade entre 4 e 17
anos; hoje, são 7,86 milhões.
Isso significa que, no período, a população
do Estado de São Paulo nessa faixa de idade encolheu em 1,47 milhão de pessoas.
Em termos proporcionais, a redução é igualmente expressiva. Em 2000, as pessoas
com idade entre 4 e 17 anos correspondiam a 25,3% da população paulista; em
2021, a 17,5% do total. São dados do mais recente boletim sobre a demografia de São
Paulo publicado pela Fundação Seade.
Em nenhum sentido se pode dizer que esta é uma mudança trivial, embora fosse previsível. Ela implica, por exemplo, transformações substanciais no mercado de trabalho, nos ganhos de eficiência da economia (e na sua capacidade de crescer e gerar riqueza), nas demandas por programas sociais e, de imediato, na busca pelo sistema de ensino, começando da pré-escola, passando pelo fundamental I e pelo fundamental II, e alcançando o ensino médio. Progressivamente vem diminuindo a necessidade de construção de escolas e de formação e contratação de profissionais de ensino para essa faixa etária. Mas crescerão, como já estão crescendo, as demandas por políticas de atendimento a idosos, que envolvem lazer, transportes públicos, assistência social e de saúde, além, naturalmente, das pressões sobre o sistema previdenciário.
A mudança do padrão demográfico como esta
observada no Estado de São Paulo ocorre em todo o País. A pirâmide demográfica,
como é conhecida a representação gráfica da população por faixa etária (os mais
jovens na base) e sexo (um à esquerda e outro à direita no gráfico), tinha, de
fato, a configuração de pirâmide (base ampla e se estreitando linearmente até o
topo) até os últimos anos do século passado. Era o desenho de uma população
predominantemente jovem.
As últimas décadas vêm registrando mudanças
notáveis nesse padrão. As faixas correspondentes aos mais jovens estão
diminuindo e as de mais idade crescem. O caso de São Paulo pode ser tomado como
exemplo dessa mudança. A Fundação Seade estima que, no fim deste ano, a
população paulista chegará a 44,9 milhões de pessoas, 20% maior do que a de 20
anos antes. “Esse comportamento foi acompanhado de relevantes modificações na
composição etária da população, representada na forma de pirâmide, com forte
estreitamento da base correspondente aos mais jovens e alargamento nas faixas
etárias mais avançadas”, diz a instituição em outro estudo.
Estudos do IBGE indicam que a população
brasileira deverá parar de crescer a partir de 2047. O Brasil terá chegado,
então, ao amadurecimento demográfico já observado em alguns países de renda
alta, mas sem ter usufruído inteiramente de fase mais auspiciosa de sua
evolução populacional.
Há alguns anos, o Brasil chegou ao apogeu
do que os estudiosos chamam de bônus demográfico, momento da evolução
populacional em que o número de pessoas em idade ativa cresce mais depressa do
que a população total. Obviamente a população em idade ativa (PIA) continua a
crescer, mas não mais do que a população total.
Chegou-se, então, à fase chamada de país
maduro. A população mais idosa tende a crescer mais rapidamente. Cresce também,
obviamente, a idade média da população. Em São Paulo, a idade média da
população era de 30 anos em 2000; hoje é de 36,5 anos. Paulatinamente, a
representação gráfica da população, antes nitidamente uma pirâmide, vai
assumindo a forma de um vaso de diâmetro menor na base do que no terço
superior. As demandas sociais vão se transformando na medida em que muda o
gráfico populacional.
Obsessão por eleições
O Estado de S. Paulo
Bolsonaro faz a mais sórdida campanha
contra o direito de voto a que o País assiste desde 1988
Tendo sido deputado federal por sete
mandatos, Jair Bolsonaro foi eleito em 2018 presidente da República. Também
conseguiu eleger, para vários cargos e por várias vezes, familiares e amigos.
Não se pode dizer que o sistema eleitoral lhe seja prejudicial. Poucos grupos
políticos tiveram tamanho êxito nas urnas eletrônicas como o clã Bolsonaro. Por
exemplo, com mais de 1,8 milhão de votos, Eduardo Bolsonaro, o terceiro filho
do presidente, é o deputado federal mais votado da história nacional.
Paradoxalmente, Jair Bolsonaro tem se
dedicado, com intensidade crescente, a criticar as urnas eletrônicas. Pelo teor
de suas falas, a pretensão é transformar o assunto em prioridade nacional. O
País não vê o presidente da República trabalhando por mais vacinas, pela
criação de empregos ou pela aprovação de reformas estruturantes. Mas o tema da
suposta fraude eleitoral está constantemente em seu discurso.
Jair Bolsonaro não trouxe nenhuma evidência
contrária à urna eletrônica, mas a sua crítica contra o sistema de votação
vigente é cada vez mais forte. Não tem limites. Em um primeiro momento, o
presidente Bolsonaro disse que as urnas eletrônicas eram suscetíveis de fraude.
Era uma acusação grave, que difundia desconfiança. No entanto, sem estar
amparada por nenhum indício, a denúncia da suposta fragilidade das urnas não
produziu nenhuma comoção especial.
Então, Jair Bolsonaro subiu o tom, em
descarada tentativa de criar confusão. Em março do ano passado, durante viagem
aos Estados Unidos, o presidente Bolsonaro afirmou ter provas de que sua
eleição, já no primeiro turno, em 2018, foi fraudada. “E nós temos não apenas
palavra, nós temos comprovado, brevemente eu quero mostrar”, disse.
Até agora, Jair Bolsonaro não trouxe
nenhuma prova da suposta fraude. No mês passado, foi instado pelo Supremo
Tribunal Federal a prestar informações sobre suas declarações envolvendo as
eleições de 2018. Também o Tribunal Superior Eleitoral deu prazo de 15 dias a
Jair Bolsonaro para a apresentação de documentos e provas que fundamentem as
acusações contra as urnas eletrônicas.
“Eu apresento (as provas) se eu quiser”, disse Bolsonaro a apoiadores.
Até agora, repita-se, nenhuma prova contra as urnas eletrônicas foi
apresentada. A rigor, tal omissão deveria invalidar a pretensão de suscitar
dúvidas sobre o sistema eleitoral. Jair Bolsonaro disse que houve fraude e
prometeu provas. Passado mais de um ano, as provas não apareceram e o assunto
deveria estar encerrado.
No entanto, contrariando toda a lógica, o
presidente Bolsonaro deu um passo além. Agora, afirma que, sem voto impresso,
as eleições de 2022 serão necessariamente fraudadas. “Se não tiver o voto
impresso, não interessa mais o voto de ninguém”, disse Jair Bolsonaro no início
de julho.
Não é mais uma afirmação sobre uma suposta
fraude ocorrida no passado ou de uma suposta fragilidade do sistema. É a
peremptória declaração de que, sem voto impresso, a fraude será um imperativo.
Sem deixar margens à dúvida, Jair Bolsonaro explicitou aonde queria chegar. “Ou
fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”, disse no dia 8 de
julho.
Gravíssima, a ameaça recebeu as devidas
reprovações de diversas autoridades. O Congresso mobilizou-se para rejeitar a
PEC do voto impresso, instrumento do braço parlamentar do bolsonarismo para a
campanha difamatória contra as eleições. A proposta ainda não foi oficialmente
negada – sua votação na comissão foi adiada para depois do recesso parlamentar
–, mas até o presidente Bolsonaro reconheceu. “Eu não acredito mais que passe
na Câmara o voto impresso”, disse no dia 19 de julho.
Mas Jair Bolsonaro não encerrou o assunto.
No mesmo dia, insistiu na falácia. “Eleições não auditáveis não é eleição, é
fraude”, disse. Isso não é opinião política, tampouco faz parte da “dinâmica
eleitoral”, como disse certa vez a Advocacia-Geral da União, tentando explicar
as declarações de Bolsonaro. Trata-se da campanha mais descarada e sórdida
contra o direito de voto e o regime democrático a que o País assiste desde
1988.
Na falta de consciência cívica, a lei
O Estado de S. Paulo
Decisão do TRT-2 lembra que a vacinação é uma estratégia de proteção coletiva
No curso de uma pandemia, o interesse
particular não pode se sobrepor ao interesse coletivo quando o que está em jogo
é a saúde e a vida de nossos concidadãos. Negligenciar cuidados básicos – como
usar máscaras corretamente e evitar aglomerações – e recusar vacinas, por
qualquer razão que não de ordem clínica, são comportamentos que vão muito além
da incivilidade. São atitudes potencialmente mortais. É de esperar, pois, que a
ameaça de um vírus que já causou a morte de quase 550 mil brasileiros faça
prevalecer a consciência cívica de cada cidadão. Mas, quando esta faltar, que
prevaleça a lei.
Em boa hora, o Tribunal Regional do
Trabalho da 2.ª Região (TRT-2) confirmou uma decisão da 2.ª Vara do Trabalho de
São Caetano do Sul (SP) que, em fevereiro deste ano, considerou legal a
demissão por justa causa de uma funcionária de uma empresa prestadora de
serviços que se recusou a tomar a vacina contra a covid-19 quando chegou a sua
vez. Em fevereiro, o Ministério Público do Trabalho (MPT) já havia se
posicionado por meio de Nota Técnica sobre a legalidade da demissão por justa
causa nos casos de “recusa injustificada” em receber a vacina contra covid-19.
O caso julgado pelo TRT-2 é exemplar.
Cristiane Aparecida Pedroso era contratada da empresa Guima Conseco para
prestar serviços de limpeza no Hospital Municipal Infantil e Maternidade Márcia
Braido, em São Caetano do Sul. A empresa provou em juízo que realizou extensa
campanha incentivando a vacinação de seus funcionários, sobretudo os que
trabalham em hospitais e postos de saúde. No dia marcado para receber a vacina,
a auxiliar de limpeza simplesmente não compareceu e foi demitida por “ato de
indisciplina e insubordinação”. A defesa alegou que, ao ser “forçada” pelo
empregador a tomar a vacina, a sra. Cristiane Aparecida teve sua “honra e
dignidade humana” feridas. Nenhuma razão de natureza clínica que a impedisse de
receber o imunizante foi apresentada em juízo.
Tomando-se como certo que a vacinação é uma
estratégia de proteção coletiva, a mais eficaz medida de saúde pública para
conter o avanço de uma infecção viral, como é o caso da pandemia de covid-19,
qualquer recusa individual e voluntária em receber o imunizante enfraquece
aquela estratégia e, pois, prolonga desnecessariamente o sofrimento de toda a
coletividade. O caso julgado pelo TRT-2 é ainda mais grave porque a funcionária
que se recusou a receber a proteção trabalhava em um hospital maternidade.
Todos os profissionais que atuam no setor
de saúde, não só médicos e enfermeiros, foram colocados no topo das prioridades
de vacinação por uma razão elementar: é nestes ambientes em que há uma maior
concentração do coronavírus. Antes de ser demitida por justa causa, a auxiliar
de limpeza for advertida expressamente pelo empregador, mas seguiu recusando a
vacina sem apresentar razões plausíveis para sua perigosa escolha.
“Considerando a gravidade e a amplitude da
pandemia, resta patente que se revelou inadequada a recusa da empregada, que
trabalha em ambiente hospitalar, em se submeter ao protocolo de vacinação
previsto em norma nacional e referendado pela Organização Mundial da Saúde”,
decidiu o desembargador Roberto Barros da Silva, relator do processo. O
magistrado, corretamente, asseverou em sua decisão que “o interesse pessoal da
reclamante” em não receber a vacina não pode prevalecer sobre uma estratégia de
imunização coletiva que tem por objetivo dar fim “a uma doença altamente
contagiosa que ocasionou o colapso de sistemas de saúde e um aumento expressivo
do número de óbitos”.
A decisão do TRT-2 também tem o mérito de
lembrar a todos os cidadãos que, sim, há lei que obriga a vacinação. O
desembargador Barros da Silva bem referiu em sua decisão à Lei 13.979/2020, que
no art. 3.º, inciso III, prevê a vacinação compulsória e outras medidas
profiláticas baseadas em evidências científicas como formas de contenção da pandemia.
A vacinação é o passaporte para a volta à vida normal, ou ao menos à vida sem a angústia causada por uma doença mortal. Espera-se que o Judiciário seja poupado, a responsabilidade individual prevaleça e todos se vacinem quando chegar a vez.
Alerta energético
Folha de S. Paulo
Projeção mostra risco de escassez de
eletricidade, o que exige senso de urgência
São alarmantes as novas
projeções divulgadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS),
a apontar para maior risco de escassez de energia até o fim da estação seca, a
mais rigorosa em 91 anos.
O ONS atualizou as estimativas de consumo
de eletricidade, que ficaram cerca de 20% maiores para os próximos meses em
razão de maior crescimento esperado da economia neste ano (4,5%, ante 3% da
projeção anterior) e da demanda de setores mais intensivos no uso de energia,
como a indústria.
Em um dos cenários imaginados, o mais
conservador, o problema pode ser mais grave porque a disponibilidade de energia
termelétrica calculada diminuiu após estudos mais detalhados considerarem
fatores capazes de impedir o fornecimento de algumas usinas.
Levando em conta apenas as projeções de
consumo, sem medidas compensatórias, nesse panorama mais pessimista de uso das
térmicas o nível dos reservatórios atingiria patamares mínimos —de 10% no
subsistema Sudeste/Centro-Oeste e de 9,5% no subsistema Sul, que juntos
respondem por 74% da capacidade de fornecimento.
Há mecanismos para melhorar a oferta, como
a antecipação da entrada em operação de usinas térmicas em construção,
reprogramação de paradas para manutenção, importação de energia e também o
desestímulo à demanda por meio de tarifas mais altas, que já estão sendo
praticadas.
Mesmo no cenário mais positivo a incorporar
todas essas ações, contudo, o sistema operaria perto dos limites até novembro,
quando o início da estação chuvosa tende a aliviar a situação.
Não se descarta ao final do período seco o
risco de insuficiência de potência para atender o consumo em horários de pico,
o que pode causar apagões, ainda que não haja perspectiva de racionamento
generalizado neste ano.
Na verdade, o problema não é tanto 2021,
mas o que pode ocorrer no ano que vem. Todas as simulações do ONS levam em
conta o cenário até novembro e, a partir daí, contam com o fim da crise hídrica
para recompor a capacidade e afastar o risco de falta de energia.
Mas, se as chuvas forem novamente
insuficientes, como tem sido a regra nos últimos anos, os níveis dos
reservatórios podem não subir o suficiente para afastar a probabilidade de
problemas maiores.
É essencial que o planejamento do setor
considere o que pode ocorrer nessa hipótese mais pessimista. E até aqui tudo
sugere que não existem ainda planos claros para lidar com essa contingência.
Além do uso mais eficiente dos recursos disponíveis, cabe antecipar o planejamento para contratação de muito mais oferta, de todas as fontes possíveis. Construir essa capacidade é tarefa que não se leva a cabo em poucas semanas
Triste Hungria
Folha de S. Paulo
Com embate entre premiê Orbán e comunidade
LGBT+, país avança no obscurantismo
Em 15 de junho, o Parlamento da Hungria
aprovou lei vetando a disseminação a menores de 18 anos de materiais
identificados como promoção da homossexualidade e da mudança de gênero.
À semelhança do presidente russo Vladimir Putin,
responsável por uma legislação de 2013 contra suposta “propaganda gay”, o
premiê Viktor Orbán busca, com a nova medida, consolidar seu poder.
No comando do país desde 2010, Orbán
enfrentará nova eleição em 2022, desta vez desafiado por uma oposição mais
unida. Em busca dos votos conservadores, a Hungria tem restringido direitos de
grupos hostilizados pelo premiê.
É antigo o embate do líder nacionalista com
a comunidade LGBTQIA+ —que no
sábado (24) recebeu o apoio de milhares de pessoas em protesto contra
a lei húngara.
“É uma vergonha”, afirmou a presidente da
Comissão Europeia, Úrsula von der Leyen, sobre a legislação. Incluída em um
projeto destinado a proteger crianças contra a pedofilia, a norma afeta
programas educacionais, publicidade, obras culturais e programas de televisão.
Em dezembro do ano passado, o Parlamento da
Hungria, controlado pelo Fidesz, o partido de Orbán, aprovou emenda à
Constituição para redefinir o conceito de família, o que efetivamente vetou a
adoção por casais homoafetivos.
Antes, em maio de 2020, o país já adotara
uma lei que proibia pessoas transgênero de alterarem seus documentos pessoais.
Apesar das críticas veementes de
autoridades do continente, incluindo uma declaração de 14 países da União
Europeia contra a nova lei, as limitações institucionais do bloco europeu são
evidentes.
Desde 2018, o governo húngaro sofre um
procedimento disciplinar, acusado de violar valores essenciais do bloco. Privar
Orbán de seu direito de voto no Conselho Europeu, no entanto, exigiria
aprovação unânime dos outros 26 países —o que depende de aliados do país, em
particular a Polônia, também sob investigação.
Diante desse cenário, Budapeste dobrou a
aposta e anunciou um referendo sobre a legislação, como forma de desafiar
Bruxelas.
Internamente, o premiê busca o apoio do
eleitorado conservador, em especial das zonas rurais; no âmbito externo,
reforça a imagem de defensor da nação contra a burocracia liberal europeia. E
assim avança o obscurantismo.
Prévia da inflação mostra sinais da crise
hídrica
Valor Econômico
Itens de energia tiveram alta expressiva de
preços e pesaram na inflação de julho, medida pelo IPCA-15
A prévia da inflação de julho, medida pelo
IPCA-15, mostra que a crise hídrica atravessada pelo país neste ano já cobra
seu preço no custo da energia. O IPCA-15, calculado pelo IBGE, atingiu 0,72%, a
maior variação no mês de julho desde 2004, quando o índice foi de 0,93%. Em
julho de 2020, a variação havia sido de 0,30%.
Os números mostram que a inflação em 12
meses, que é o parâmetro que realmente importa na análise macroeconômica, segue
em processo de aceleração. De junho de 2020 a julho de 2021, o IPCA-15 foi a
8,59%, acima dos 8,13% registrados nos 12 meses até junho.
No ano, o IPCA-15 acumula variação de
4,88%, uma evidência de que, neste ano, a inflação ficará acima da meta oficial
(3,75%) e do teto de tolerância (5,25%) fixados pelo Conselho Monetário
Nacional (CMN).
Ao divulgar o Relatório Trimestral de
Inflação em junho, o Banco Central (BC) estimou que a probabilidade de a
inflação superar o teto da meta em 2021 passara de 41%, em março de 2021, para
74%. Quando a inflação fica abaixo do limite mínimo (2,5%, neste ano) ou do
teto de tolerância (5,25%), a diretoria do BC é obrigada a escrever carta
pública explicando as razões do descumprimento da meta.
Dos nove grupos de produtos e serviços
pesquisados pelo IBGE, sete tiveram alta de preços no IPCA-15. O maior impacto
(de 0,33 ponto percentual) e a maior variação (2,14%) vieram de habitação. A
segunda maior contribuição veio dos transportes (1,07% e 0,22 ponto
percentual), embora tenha desacelerado em relação ao mês anterior (1,35%). Na
sequência, veio alimentação e bebidas (0,49%), cujo resultado ficou acima do
IPCA-15 de junho (0,41%) e contribuiu com 0,10 ponto percentual no índice do
mês.
Quando se observa o grupo Habitação, com
alta de 2,14% em julho, o que pesou foi a alta da energia elétrica (4,79%), que
acelerou em relação a junho (3,85%) e exerceu o maior impacto (0,21 ponto
percentual) no IPCA-15 de julho. A bandeira tarifária vermelha (patamar 2)
vigorou em junho e julho.
Desde 1º de julho, houve reajuste de 52% no
valor adicional dessa bandeira tarifária, que passou a cobrar R$ 9,492 a cada
100 kWh consumidos. Antes, o acréscimo era de R$ 6,243. Além disso, de acordo
com o IBGE, o resultado é consequência dos reajustes tarifários de 11,38%
ocorridos em São Paulo (6,29%), desde 4 de julho, e de 8,97% em Curitiba
(9,41%), em 24 de junho.
Outros itens de energia tiveram alta
expressiva de preços e pesaram na inflação de julho, medida pelo IPCA-15. No
segmento habitação, os preços do gás de botijão (com reajuste de 3,89%) e do
gás encanado (2,79%) contribuíram para a aceleração do índice oficial de
preços. No subitem gás encanado, a alta decorre do reajuste de 9,63% no
segmento residencial em São Paulo (4,90%).
No grupo dos transportes (com alta de
1,07%), a principal contribuição para a alta do IPCA-15 foi das passagens
aéreas, que subiram impressionantes 35,64% (0,11 ponto percentual no índice) -
em junho, que haviam recuado 5,63%. Ainda nos transportes públicos (alta de
4,14%), ônibus urbano subiu 0,16%, com o reajuste de 5,49% nas tarifas em Porto
Alegre (2,20%), a partir de 2 de julho.
Os preços dos combustíveis (com alta de
0,38% captada pelo IPCA-15) desaceleraram em relação a junho (3,69%). Ainda
assim, a gasolina subiu 0,50% em julho e acumula alta de 40,32% em 12 meses.
Para o cálculo do IPCA-15, os preços foram
coletados entre 15 de junho e 13 de julho de 2021 e comparados aos vigentes de
14 de maio a 14 de junho de 2021. O indicador refere-se às famílias com
rendimento de 1 a 40 salários mínimos e abrange as regiões metropolitanas do
Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém,
Fortaleza, Salvador e Curitiba, além de Brasília e do município de Goiânia.
De acordo com o BC, a inflação recente tem sido “particularmente afetada” pelo “significativo aumento” dos preços de “commodities” e a situação só não tem sido pior graças à apreciação da taxa de câmbio verificada desde abril. No Relatório Trimestral de Inflação, o BC também considerou que a “persistência do cenário de restrições de oferta” de alguns materiais e insumos e a “deterioração do cenário hídrico”, que tem rápida repercussão sobre o preço da energia elétrica mediante o acionamento de bandeiras tarifárias, também têm pressionado a inflação nos últimos meses. “Esses fatores mais do que compensaram os efeitos desinflacionários do recrudescimento da pandemia sobre os preços de serviços e da recente apreciação do real”, avaliou o Banco Central.
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