Folha de S. Paulo
Nos EUA, comandantes deixaram claro e
público que não aceitariam palhaçada
No governo Bolsonaro, ameaça de golpe é
como mil
brasileiros mortos por dia por doença que já tem vacina: todo dia tem.
Em geral, as ameaças
são seguidas por um desmentido no dia seguinte, depois que os golpistas nos
quartéis e delegacias já foram informados que tem gente no topo que os
apoiaria. Ninguém nunca é preso.
Na semana passada, reportagem do jornal O
Estado de S. Paulo denunciou que o ministro da Defesa, Braga Netto, disse ao
presidente da Câmara que não haverá eleições em 2022 sem voto impresso.
O ministério da Defesa respondeu com uma
nota em que não negou ter dito nada. Só negou que tivesse usado intermediários
para falar com o presidente da Câmara.
Essa nota não interessa, como, aliás, não
interessaria uma nota negando a ameaça golpista.
Não basta que as Forças Armadas não participem do golpe de Bolsonaro. Elas têm que se declarar, desde já, dispostas a abrir fogo contra ele. É dessa nota que precisamos.
Devem abrir fogo mesmo
se os golpistas forem militares ou policiais que, por terem alma de
desertor, escolham Bolsonaro contra a pátria. Se o próprio presidente da
República der a ordem do golpe, deve ser preso. Se resistir, deve ser morto.
Enquanto não houver uma manifestação clara
sobre isso, sobrarão incertezas sobre
o quanto o Brasil pode confiar em seus militares. E as instituições civis
continuarão excessivamente cautelosas na punição dos crimes de Bolsonaro, como
têm sido até agora. Essa complacência, em 2020, nos custou centenas de milhares
de brasileiros mortos.
Bolsonaro quer dar um golpe para não ser
punido por seus inumeráveis crimes. Os senhores oficiais querem ajudar
Bolsonaro a fugir da cadeia? Por que o consideram "um dos seus"?
Oficiais, me desculpem, mas, se Bolsonaro ainda for um dos seus depois
do meio milhão de mortos, o Brasil é que não pode mais contar com os
senhores entre os seus.
O exemplo norte-americano é instrutivo.
Quando Donald Trump anunciou que daria um golpe se perdesse as eleições, os
comandantes das Forças Armadas deixaram claro e público que não aceitariam a
palhaçada. Isso são instituições funcionando.
E há entre os senhores gente que precisa
reaprender a respeitar a democracia.
Vejam o caso do comandante da Aeronáutica,
Carlos de Almeida Baptista Júnior. Ele é eleitor e admirador declarado da
deputada Bia Kicis (PSL-DF). Em qualquer República funcional, Kicis
já estaria presa por sua participação nos atos golpistas de 2020 e na
disseminação de notícias falsas durante a pandemia. No Brasil de 2021,
é presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados.
Na semana passada, Kicis encontrou-se com
Beatrix von Storch, líder do partido de extrema direita Alternativa para a
Alemanha e, vejam que beleza, neta do ministro da Fazenda de Hitler.
Brigadeiro Baptista Jr., o momento mais
glorioso da força que o senhor comanda foi quando pilotos brasileiros
enfrentaram a turma da dona Storch nos céus da Itália.
Naquela época, quando os militares
brasileiros viam um fascista, sabiam para que lado atirar.
Nós, os brasileiros democratas, contamos que os senhores honrarão essa tradição sentando o dedo nos bolsonaristas que se meterem a engraçados contra a democracia. Em jogo estará o juramento dos senhores à bandeira.
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