Não faço poemas como quem chora,
nem
faço versos como quem morre.
Quem
teve esse gosto foi o bardo Bandeira
quando
muito moço; achava que tinha
os
dias contados pela tísica
e
até se acanhava de namorar.
Faço
poemas como quem faz amor.
É
a mesma luta suave e desvairada
enquanto
a rosa orvalhada
se
vai entreabrindo devagar.
A
gente nem se dá conta, até acha bom,
o
imenso trabalho que amor dá para fazer.
Perdão,
amor não se faz.
Quando
muito, se desfaz.
Fazer
amor é um dizer
(a
metáfora é falaz)
de
quem pretende vestir
com
roupa austera a beleza
do
corpo da primavera.
O
verbo exato é foder.
A
palavra fica nua
para
todo mundo ver
o
corpo amante cantando
a
glória do seu poder.
-
Thiago de Mello, no livro "De uma vez por todas". Civilização Brasileira,
1999.
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