terça-feira, 1 de julho de 2025

Partidos negociam federações para 2026 e tentam superar divergências - Joelmir Tavares

Valor Econômico

Siglas intensificam conversas pensando em fortalecimento e sobrevivência, mas experiências fracassadas, como PSDB/Cidadania, evidenciam riscos do arranjo

A aproximação do calendário eleitoral de 2026 intensificou as negociações entre partidos para a formação de federações, como alternativa para o ganho de musculatura política ou a própria sobrevivência. Apesar da multiplicação de tratativas entre dirigentes nos bastidores, o fechamento de acordos esbarra em interesses locais e na disputa de comando. A iniciativa mais recente é a da aliança entre Solidariedade e PRD, que foi anunciada na semana passada e adotou estratégia para tentar se blindar de atritos.

No arranjo da federação, que começou a funcionar no país em 2021, duas ou mais legendas fazem uma espécie de consórcio para disputar eleições e devem atuar em conjunto, no território nacional, por no mínimo quatro anos. Na prática, cada uma mantém sua identidade, mas a atuação delas precisa ser alinhada. Hoje o Brasil tem, oficialmente, três federações: PT/PCdoB/PV, Psol/Rede e PSDB/Cidadania. Outras, no entanto, estão em processo de formação ou discussão.

A federação União Brasil/PP, lançada no ano passado como uma “superforça” no Congresso - com 109 deputados e 13 senadores -, ainda precisa oficializar o registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que homologa a aliança. A composição entre as duas siglas será relevante nas definições da corrida presidencial, mas precisa antes resolver questões internas, como o controle nos Estados - disputa que pode levar à saída de parlamentares na janela partidária, em março.

Outra federação discutida é a que pode unir Republicanos e MDB. Segundo dirigentes, as conversas têm sido tocadas pelos presidentes das siglas, respectivamente Marcos Pereira e Baleia Rossi, que vêm tentando driblar conflitos em Estados onde há rivalidade entre elas. Um interlocutor a par das conversas diz que “há boa vontade” das duas partes para buscar um consenso, favorecido por afinidade política.

O cálculo de partidos de porte médio, sobretudo no campo do centro e direita, é que eles podem acabar engolidos, nas disputas legislativas do ano que vem, pelas grandes forças. Além da federação União Brasil/PP, o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro se firmou como um polo competitivo - com 89 deputados, o partido responde pela maior bancada da Câmara e, até o momento, descarta se federar a outra sigla.

Legendas como PSD, Podemos, PDT, PSB e Avante também se envolveram em discussões sobre federações, mas as conversas entraram em compasso de espera por diferentes razões.

No caso das agremiações menores, a aglutinação desponta como tábua de salvação, para tentar atingir a cláusula de barreira e ter direito ao fundo partidário e à propaganda eleitoral em TV e rádio. A cada eleição, a exigência de desempenho fica mais rígida. Para superar a cláusula em 2026, os partidos precisarão eleger 13 deputados federais, distribuídos em pelo menos nove Estados, ou ter 2,5% dos votos válidos para a Câmara, espalhados em pelo menos nove Estados, com mínimo de 1,5% dos votos válidos em cada um.

Segundo o presidente do Solidariedade, deputado federal Paulinho da Força (SP), o risco de perda de deputados na janela partidária e a dificuldade de completar chapas para o Legislativo levaram à confluência com o PRD. “A federação é uma tendência, porque, de certa maneira, os que pensam um pouco igual vão se juntando para ter mais força política. Além disso, queremos criar um polo de centro, para tratar das questões essenciais para o desenvolvimento do Brasil, longe de extremismos”, afirma.

Para evitar atritos, Solidariedade e PRD - que somam dez deputados federais - definiram um esquema em que o comando da federação, nos âmbitos municipal e estadual, terá representação igualitária de ambas as siglas e a obrigação de unanimidade para a tomada de decisões. Caso um impasse precise ser arbitrado na instância nacional (também paritária), será necessária a concordância de 75% dos membros.

Das federações existentes, a mais problemática é a que une PSDB e Cidadania, firmada em 2022. O segundo partido já decidiu formalmente deixar o acordo, mas é obrigado a permanecer nele até o ano que vem. Os dois lados divergiram no pleito de 2024 e chegaram a apoiar candidatos distintos no Rio de Janeiro.

As federações em torno de PT e Psol também têm episódios de desgaste interno entre os parceiros. Alas do PV já defenderam rompimento com os petistas, mas há pressão para que as rusgas sejam superadas por causa do risco de esvaziamento. A Rede também avalia a relação com o Psol, mas há consenso na sigla fundada pela ministra Marina Silva de que é necessária a aliança com alguma outra agremiação para assegurar seu futuro.

 

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