Valor Econômico
Siglas intensificam conversas pensando em
fortalecimento e sobrevivência, mas experiências fracassadas, como
PSDB/Cidadania, evidenciam riscos do arranjo
A aproximação do calendário eleitoral de 2026
intensificou as negociações entre partidos para a formação de federações, como
alternativa para o ganho de musculatura política ou a própria sobrevivência.
Apesar da multiplicação de tratativas entre dirigentes nos bastidores, o
fechamento de acordos esbarra em interesses locais e na disputa de comando. A
iniciativa mais recente é a da aliança entre Solidariedade e PRD, que foi
anunciada na semana passada e adotou estratégia para tentar se blindar de
atritos.
No arranjo da federação, que começou a funcionar no país em 2021, duas ou mais legendas fazem uma espécie de consórcio para disputar eleições e devem atuar em conjunto, no território nacional, por no mínimo quatro anos. Na prática, cada uma mantém sua identidade, mas a atuação delas precisa ser alinhada. Hoje o Brasil tem, oficialmente, três federações: PT/PCdoB/PV, Psol/Rede e PSDB/Cidadania. Outras, no entanto, estão em processo de formação ou discussão.
A federação União Brasil/PP, lançada no ano
passado como uma “superforça” no Congresso - com 109 deputados e 13 senadores
-, ainda precisa oficializar o registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
que homologa a aliança. A composição entre as duas siglas será relevante nas
definições da corrida presidencial, mas precisa antes resolver questões
internas, como o controle nos Estados - disputa que pode levar à saída de
parlamentares na janela partidária, em março.
Outra federação discutida é a que pode unir
Republicanos e MDB. Segundo dirigentes, as conversas têm sido tocadas pelos
presidentes das siglas, respectivamente Marcos Pereira e Baleia Rossi, que vêm
tentando driblar conflitos em Estados onde há rivalidade entre elas. Um
interlocutor a par das conversas diz que “há boa vontade” das duas partes para
buscar um consenso, favorecido por afinidade política.
O cálculo de partidos de porte médio,
sobretudo no campo do centro e direita, é que eles podem acabar engolidos, nas
disputas legislativas do ano que vem, pelas grandes forças. Além da federação
União Brasil/PP, o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro se firmou como um polo
competitivo - com 89 deputados, o partido responde pela maior bancada da Câmara
e, até o momento, descarta se federar a outra sigla.
Legendas como PSD, Podemos, PDT, PSB e Avante
também se envolveram em discussões sobre federações, mas as conversas entraram
em compasso de espera por diferentes razões.
No caso das agremiações menores, a
aglutinação desponta como tábua de salvação, para tentar atingir a cláusula de
barreira e ter direito ao fundo partidário e à propaganda eleitoral em TV e
rádio. A cada eleição, a exigência de desempenho fica mais rígida. Para superar
a cláusula em 2026, os partidos precisarão eleger 13 deputados federais,
distribuídos em pelo menos nove Estados, ou ter 2,5% dos votos válidos para a
Câmara, espalhados em pelo menos nove Estados, com mínimo de 1,5% dos votos
válidos em cada um.
Segundo o presidente do Solidariedade,
deputado federal Paulinho da Força (SP), o risco de perda de deputados na
janela partidária e a dificuldade de completar chapas para o Legislativo
levaram à confluência com o PRD. “A federação é uma tendência, porque, de certa
maneira, os que pensam um pouco igual vão se juntando para ter mais força
política. Além disso, queremos criar um polo de centro, para tratar das
questões essenciais para o desenvolvimento do Brasil, longe de extremismos”,
afirma.
Para evitar atritos, Solidariedade e PRD -
que somam dez deputados federais - definiram um esquema em que o comando da
federação, nos âmbitos municipal e estadual, terá representação igualitária de
ambas as siglas e a obrigação de unanimidade para a tomada de decisões. Caso um
impasse precise ser arbitrado na instância nacional (também paritária), será
necessária a concordância de 75% dos membros.
Das federações existentes, a mais
problemática é a que une PSDB e Cidadania, firmada em 2022. O segundo partido
já decidiu formalmente deixar o acordo, mas é obrigado a permanecer nele até o
ano que vem. Os dois lados divergiram no pleito de 2024 e chegaram a apoiar
candidatos distintos no Rio de Janeiro.
As federações em torno de PT e Psol também
têm episódios de desgaste interno entre os parceiros. Alas do PV já defenderam
rompimento com os petistas, mas há pressão para que as rusgas sejam superadas
por causa do risco de esvaziamento. A Rede também avalia a relação com o Psol,
mas há consenso na sigla fundada pela ministra Marina Silva de que é necessária
a aliança com alguma outra agremiação para assegurar seu futuro.
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