sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Lula tripudia, mas o futuro é incerto, por Andrea Jubé

Valor Econômico

Duas questões exigirão atenção máxima dos governistas: o risco de vitimização de Bolsonaro e a CPMI do INSS

Com a política em chamas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tripudiou ontem, no interior paulista: “Um mandato do Lula incomodou muita gente, dois mandatos incomodaram muito mais, três mandatos muito, muito mais, imagina se tiver o quarto mandato”.

Lula faz graça quando todos estão doidos por uma certeza inapelável e fatal do destino do país após as eleições de 2026. Voltando no tempo, quando a Europa era um barril de pólvora em meados dos anos 30, a apreensão era tamanha que o então vice-cônsul em Hamburgo, Guimarães Rosa, decidiu consultar-se com Frau Heelst, a famosa horocopista de Hitler. Perguntou à astróloga se haveria guerra. Conto a resposta no final da coluna.

De volta ao presente, e ao nosso cenário de incertezas, a percepção de interlocutores do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é que duas variáveis envolvem sua eventual candidatura presidencial.

A primeira delas é a instabilidade da família Bolsonaro. Nessa quinta-feira (21), a coluna ouviu de um empresário bem-informado que espera ver o governador na corrida sucessória, que “se Bolsonaro não atrapalhar, Tarcísio será candidato [a presidente]”. Publicamente, o mandatário tem reiterado que disputará a reeleição.

Nessa semana, a turbulência na cúpula do bolsonarismo, que contamina a direita, ficou ainda mais evidente na troca de mensagens em que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), xingou o pai de “Ingrato do c...” Em outro trecho, sugeriu que Tarcísio não seria um aliado confiável porque não atuaria pela anistia: “Se o sistema enxergar no Tarcísio uma possibilidade de solução, eles não vão fazer o que estão pressionados a fazer”.

No fim de semana, os tiros partiram do vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), que chamou de “ratos” os governadores que miram o capital político do ex-presidente para disputarem a sucessão. O recado velado teve como alvos os governadores Ronaldo Caiado (União), de Goiás, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, além de Tarcisio.

“Tentei, até agora, ser a pessoa mais paciente possível diante desses chamados governadores democráticos”, publicou Carlos. “Todos vocês se comportam como ratos, sacrificam o povo pelo poder e não são em nada diferentes dos petistas que dizem combater (..) Querem apenas herdar o espólio de Bolsonaro, se encostando nele de forma vergonhosa e patética”, disparou. Eduardo compartilhou.

A segunda variável que pode influenciar a decisão de Tarcísio sobre concorrer ao Planalto é a conjuntura econômica. Um aliado do governador ponderou à coluna que o esperado alívio em índices macroeconômicos em 2026, como a queda dos juros e da inflação, pode favorecer a reeleição de Lula. Segundo o boletim Focus, a inflação projetada para 2026 é de 4,40%, com Selic na casa de 12,5%.

Em paralelo, o governo espera que a partir de janeiro, cerca de 10 milhões de brasileiros sejam beneficiados com a ampliação da faixa de isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil. Com a bondade, o governo estima que 65% dos declarantes do IR pessoa física, uma massa de 26 milhões de pessoas, estarão livres do tributo, e com mais dinheiro no bolso.

A nova pesquisa Quaest, divulgada nessa semana, mostrou que Lula ganhou fôlego eleitoral, ao se descolar de adversários no segundo turno. O petista agora aparece com vantagem de 8 pontos sobre Tarcísio. Na pesquisa anterior, em julho, o cenário era de empate técnico. A rejeição ao petista caiu de 57% em maio para 51% em agosto, enquanto a do governador paulista cresceu 6 pontos, para 39%. A desaprovação ao governo continua maior, mas a diferença caiu para 5 pontos percentuais, sendo que foi de 17 pontos em maio.

Entre aliados de Lula, uma preocupação, entretanto, é a desconexão entre os indicadores favoráveis da economia e a percepção dos brasileiros. A taxa de desocupação é uma das menores da série histórica, em 6,2%. No entanto, para 55% dos entrevistados da Quaest, está mais difícil arrumar emprego.

Uma fonte que transita na cúpula do governo ponderou que a economia não é a única variável que favorecerá a recuperação da popularidade de Lula. Observa que mesmo com índices positivos, o humor dos brasileiros estava péssimo, e agora “está somente ruim”.

Outra avaliação é de que antes do tarifaço de Donald Trump, que deu impulso a Lula, a recuperação da popularidade do petista começou com a campanha nas redes por justiça tributária, pela maior taxação dos “BBB”, “bancos, bets e bilionários”. “A ideia de justiça social pegou”, afirmou a fonte. Ao mesmo tempo, comemora que a “lavação de roupa suja” entre os Bolsonaros colocou em xeque a imagem da “família tradicional” que o ex-presidente sempre cultivou.

Essa fonte alerta que duas questões exigirão atenção máxima dos governistas: o risco de vitimização de Bolsonaro, sobretudo quando advier a provável condenação no julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), e a CPMI do INSS, da qual a oposição assumiu o controle.

O futuro é incerto, e nem Hitler, que tentou, conseguiu decifrá-lo. Ao perguntar a Frau Heelst, que atendia o “fuhrer”, se haveria guerra, Guimarães Rosa ouviu: “De modo nenhum, sossegado esteja”. Doze dias depois o conflito eclodiu.

 

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