Folha de S. Paulo
Perda do comando da CPI mista do INSS expõe
erosão do capital de autoridade de Motta e Alcolumbre
Mais que um fiasco da base governista,
a perda do
comando da CPI mista do INSS foi uma derrota pessoal dos
presidentes da Câmara dos
Deputados e do Senado.
Davi
Alcolumbre (União-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB)
levaram um passa-moleque inédito e surpreendente para comandantes do Congresso
eleitos há poucos meses em situação de quase unanimidade.
Uma acelerada erosão de capital de autoridade
que pode ser atribuída tanto a um revide pela posição dos dois no episódio
do motim de deputados
e senadores quanto à percepção de que se dispuseram a prestar
serviço ao Palácio do Planalto na indicação de presidente e relator amigáveis.
O fracasso, sabemos, não tem pai nem mãe, mas no caso a filiação é
compartilhada pelo presidente Luiz Inácio da Silva (PT) em sua desatenção ao
Congresso neste mandato, pela incompetência de seus líderes no Parlamento e
pelo excesso de confiança de Motta e Alcolumbre nos respectivos tacos.
Salto alto, cochilo, imprevidência e o que mais se possa listar para explicar o
malogro, fato é que a CPMI começa sob a égide da desorganização do governo.
Na tentativa de reduzir o dano, o líder Randolfe
Rodrigues (PT-AP) falou em "circunstância regimental"
e prometeu reação ao longo dos trabalhos. O problema, no entanto, não é de
natureza circunstancial, dado não ser a primeira vez que o governo dorme no
ponto e subestima a oposição.
Chega a ser irrelevante, por impossível, prever o rumo da comissão do ponto de
vista substantivo. No adjetivo, está claro que será palco de embates políticos
ferrenhos em detrimento da investigação rigorosa e atribuição de
responsabilidades.
A questão é que a derrota não foi fruto de acidente, mas resultado de um trabalho
malfeito de articulação, de improvisações e de suposições equivocadas.
Se a oposição soube jogar com o regimento, aproveitar ausências de governistas
para substituí-los por suplentes e entrar a madrugada organizando a tropa,
caberia ao governo detectar os movimentos e se antecipar aos acontecimentos.
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