Se
avaliarmos a inteligência pisciana, eles se revelam verdadeiros Einsteins
Na
cultura pop, peixes, com sua proverbial memória de três segundos, viraram
sinônimo de burrice (outro preconceito especista nosso, desta vez contra os
asininos). Foi para tentar desmontar essa máquina de “fake news” que o
etologista Jonathan Balcombe escreveu “What a Fish Knows” (o que um peixe
sabe).
A
obra mostra que, se utilizarmos as medidas certas, isto é, se avaliarmos a
inteligência pisciana pelas questões que são relevantes
para peixes, eles se revelam verdadeiros Einsteins, superando até
chimpanzés e crianças em alguns testes.
Recorrendo a um amplo rol de experimentos controlados e casos curiosos, Balcombe faz um bom inventário das capacidades íctias. Alguns de nossos primos escamosos exibem preferências por indivíduos da mesma ou de outras espécies (amizade), são capazes de manipular o comportamento de terceiros (maquiavelismo) e apresentam excelente memória, que dura meses e talvez até anos. Seus hábitos sexuais e reprodutivos são dos mais interessantes.
O
autor reserva um capítulo para abordar o grave problema da pesca em escala
industrial, que ameaça extinguir as espécies mais visadas, como bacalhaus e
atuns. Mostra também que a resposta supostamente racional ao problema, a
aquicultura, não refresca muito. Boa parte dos peixes cultivados são, no fim
das contas, alimentados com outras espécies de peixes, que são pescadas.
Agravante adicional, as fazendas costumam tornar-se focos de doenças, que
escapam para os mares e rios, atingindo populações selvagens.
A motivação de Balcombe, como o leitor já deve ter adivinhado, é ética. Ele não se conforma com o fato de a maior parte dos mamíferos e muitas das aves terem caído em nosso círculo de solidariedade moral, mas os peixes não. Para o autor, isso é decorrência principalmente de um desenho de corpo que não permite demonstrar emoções e sentimentos, dos quais a vida dos peixes está repleta.
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