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Folha de S. Paulo
O
que vai pela cabeça política de empresários que temem e detestam Bolsonaro e
pensa 22
“Os
empresários” e “os militares” reapareceram na conversa política como
entidades ou caricaturas de um modo que não se ouvia fazia décadas (mas não “os
trabalhadores”). A gente sabe pouco dessas abstrações genéricas. Para aumentar
um pouco a confusão, este jornalista ouviu seis empresários de negócios que
estão entre os cem maiores do país.
A amostra é enviesada. São todos do centro-sul, nenhum do relevante
agronegócio. É gente que lê, parece a velha elite tucana e participa do debate
público, mas pede reserva em conversas que envolvam Jair Bolsonaro. A seguir,
depoimentos sobre a “articulação” de empresários para 2022.
“Tem um grande desgosto com essa forma
totalitária de agir. O Bolsonaro não tem adversários, tem inimigos.”
“Os empresários têm receio do poder de qualquer governo [por isso evitariam a
exposição política]. O principal instrumento de retaliação é a Receita, não
importa se está tudo correto. E esse governo tem também as redes
sociais para te difamar e ameaçar.”
“No meu círculo, a coisa chegou ao seguinte ponto: para alguns, ruim por ruim
[Bolsonaro ou Lula], melhor o Lula.”
“Quem escolhe candidato é o sistema político. Mesmo quando empresa dava muito
dinheiro para campanha, isso não tinha tanta relevância. Se tivesse, os tucanos
não tinham perdido tanta eleição. Agora, sem dinheiro e com rede social, a
influência é ainda menor.”
“Empresário não articula nada, isso não existe faz tempo. O Brasil é
heterogêneo e não tem organização empresarial, como nos EUA. Nem lá eles têm
poder de ungir candidato.”
“Tem uns que se engancham num candidato, todo o mundo sabe quem são. Não é
movimento organizado. Acho que existe mais influência em ideias do que
militância política. Mas nem apoio a ideias liberais tinha até o desastre da
Dilma.”
“Empresa
tenta influenciar quem se lançou, quem ganhou? Tenta. Mas isso é desorganizado.
Faz lobby no Congresso.
Faz programa de governo? Existem só dois ou três diferentes, fora detalhes. Mas
isso [programas] já está dado, no debate.”
“Vocês vêm perguntar [das preferências], mas é óbvio. Aí aparece na mídia,
empresários isso, empresários aquilo. Mas o que isso muda [na eleição]? É óbvio
que podem ter influência, de outro jeito. Dependendo de quem vai ganhar, alguém
segura o investimento porque teme o futuro, dólar sobe, o dinheiro sai [do
país]. Mas isso não é política. É cálculo racional.”
“O empresário responsável vai preferir alguém que preserve a estabilidade
econômica, que dê um jeito no ambiente de negócios. Tem gente que olha o que
pode ganhar pessoalmente com o governo, mas não são tantos. Nesse
jantar do Bolsonaro tinha bolsonarista ou quem sempre está com
qualquer governo, talvez até com o PSOL.”
“O empresariado votou em Bolsonaro? No final, votou mesmo contra o PT. A
maioria queria o Alckmin. Mas não tem voto qualificado, o eleitorado como um
todo faz a escolha. Entre as opções que sobraram, isso que você chama de elite
fez a opção que parecia pragmática. Foi um erro, mas foi o que foi.”
“Há uma insatisfação geral com a incompetência generalizada, fora um ou outro,
Agricultura, Infraestrutura. Decepção absoluta com o Guedes. Não o conhecia até
a eleição. Quando vi aquele discurso megalomaníaco e irrealista dele, lá na
posse, senti que não ia dar certo.”
“Lula é muito inteligente. Mas fala muita bobagem sobre economia e tenta
agradar a qualquer plateia, empresário ou esquerda. Então, a gente não sabe o
que ele vai fazer. Incerteza é ruim para o país. E o Lula envelheceu, teve a
prisão, a doença. O tempo passa, e a gente não percebe que perdeu certas
capacidades.”
“O que tem mais é conversa informal, para
tirar a temperatura, participação em vários grupos de WhatsApp. A gente convida
político para ouvir [não cita nenhum de esquerda], agora até general da
reserva.”
“A maioria nos grupos de [conversa] de que faço parte pensa uma agenda
institucional, também de preocupação com reforma tributária pelo lado social,
com educação, com renda mínima, com o conflito político radicalizado. Mas ter
uma economia de mercado funcional não vai impedir o Brasil de ser mais justo.
Ao contrário.”
“Tem conversa, mas não tem pressão política nos partidos para escolher esse ou
aquele. Em quase 40 anos de empresa, nunca vi. Os políticos vivem em outro
mundo. É ilusão de certos empresários e de intelectual de esquerda ver
influência por aí.”
“Acho que um grupo organizado e público de apoio a candidatura dificilmente vai
ter. Se tiver, vira alvo. E vai parecer que o ‘capital está querendo mandar’ no
Brasil.”
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