O
sonho de Ernesto Araújo se realizou. Com o bolsonarismo no poder, o Brasil
virou um pária aos olhos do mundo. O país já despertava preocupações pela
escalada autoritária, pela devastação da Amazônia e pela liberação
indiscriminada de armas. Agora também é visto como uma ameaça à saúde global.
Na
sexta-feira, as Nações Unidas fizeram um apelo por medidas para conter a
pandemia. “A intensificação da curva de óbitos, a falta de medidas restritivas
efetivas e a falta de uma estratégia nacional de vacinação estão levando o país
a uma catástrofe”, alertou Marlova Jovchelovitch Noleto, coordenadora da ONU no
Brasil.
Em
Genebra, a Organização Mundial da Saúde definiu a situação brasileira como
um “inferno furioso”. A entidade reforçou que não adianta
esperar pela chegada de vacinas: o país precisa de isolamento social para frear
a transmissão do coronavírus.
Fatos, dados e alertas não são capazes de convencer quem não quer ser convencido. Na quarta, Jair Bolsonaro fez mais um comício contra as medidas de distanciamento. “Não vamos aceitar a política do fique em casa”, repetiu, em Chapecó. O presidente dividia o palanque com o prefeito João Rodrigues, que já foi condenado e preso por fraude em licitação. Agora ele tapeia eleitores com a fábula do tratamento precoce.
O
capitão apresentou o município catarinense como um exemplo no combate à Covid.
A realidade mostra outra coisa: a cidade registra mais mortes do que a média
nacional, está com as UTIs lotadas e já precisou transferir pacientes para o
Espírito Santo.
Os
editoriais da imprensa internacional refletem a apreensão com o descontrole da
pandemia. Na terça, o jornal britânico “The Guardian” definiu Bolsonaro como
“um perigo para o Brasil e para o mundo”. O texto critica a sabotagem às
medidas sanitárias e aponta sua consequência: o surgimento e a disseminação de
uma variante mais letal do vírus.
A
mutação P1 também foi citada pelo americano “The Washington Post”, que apontou
a “incompetência assombrosa” do presidente. “As medidas necessárias para frear
as novas infecções são virtualmente inexistentes”, resumiu o jornal. No fim de
março, a revista britânica “The Economist” já havia classificado Bolsonaro como
“uma ameaça à saúde”.
O
olhar de fora reforça a gravidade da tragédia que nos assombra. Na última
semana, o país ultrapassou a marca de 4 mil mortes diárias pela Covid. Com
menos de 3% da população mundial, passou a concentrar um terço dos óbitos no
planeta.
“Estamos
falando de milhares de vidas que estão sendo perdidas por falta de ações
assertivas para conter a pandemia”, ressaltou a coordenadora da ONU. Bolsonaro
faz política com o nome de Deus, mas está transformando o Brasil num inferno.
O choro
de Witzel
“Não
deixei a magistratura para ser ladrão”, disse na quarta-feira o governador
afastado do Rio. Diante do tribunal do impeachment, Wilson Witzel embargou a
voz e se debulhou em lágrimas. Nem parecia o valentão que se fantasiava de
policial e prometia abater criminosos com “tiro na cabecinha”.
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