domingo, 2 de junho de 2024

Hélio Schwartsman - O peso da natureza

Folha de S. Paulo

Livro que analisa impacto da mudança climática em nossos cérebros prevê homem mais violento, burro e ansioso

O Brasil experimenta em primeira mão o drama das perdas humanas e econômicas do aquecimento global, fenômeno que deverá intensificar-se. E esse é só um pedaço da conta. Em "The Weight of Nature" (O Peso da Natureza), o neurocientista convertido em jornalista Clayton Page Aldern mostra que a mudança climática também deverá nos deixar mais burros, violentos, ansiosos e paranoicos.

O livro, do qual já dei uma palinha aqui, pode ser descrito como uma tentativa de catalogar os efeitos diretos do aquecimento global em nossos cérebros e comportamentos. O retrato, como deu para ver pelo parágrafo anterior, é assustador.

Para muitos dos tópicos abordados, Aldern se baseia em estudos acadêmicos. É o caso dos trabalhos que mostram que o calor nos torna mais violentos e faz piorar nossa performance em tarefas cognitivas. Ele também nos faz buzinar mais. Até os árbitros esportivos cometem mais erros quando a temperatura sobe.

Outro ponto interessante é o das zoonoses. O aumento de doenças transmitidas por animais devido ao aquecimento global já está no radar de todos. O habitat de mosquitos e outros vetores será ampliado. Aldern trata especificamente das doenças que afetam o cérebro. O cardápio é vasto: malária cerebral, zika com microcefalia, hidrofobia (morcegos-vampiros estão circulando mais). Há até a temível ameba comedora de cérebros, que já aparece em lugares onde antes não aparecia. Isso sem falar nas neurotoxinas.

O livro vai ficando mais especulativo à medida que o autor avança para condições de etiologia menos definida, como a ansiedade e as reações a traumas provocados por desastres naturais. Ao final, Aldern se arrisca até na neurofilosofia. O que o cérebro faz é modelar o mundo, de modo que um mundo em rápida transformação produzirá um cérebro também afeito a mudanças, por vezes súbitas e dramáticas. A mudança climática, diz o autor, está também dentro de nós.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

O mundo está agonizando porque o ser humano não evolui,a receita básica é amar o próximo como a ti mesmo,simples assim.