O Globo
Nos EUA, Trump segue no jogo político. No
Brasil, a direita permanece prisioneira de pautas extremistas e não se afasta
de Bolsonaro
Derrotados, os ex-presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro pairam sobre os dois países como sombra, pela incapacidade do sistema político de se afastar dos extremistas. Trump, condenado em 34 acusações, ainda pode ser candidato a presidente. Bolsonaro, mesmo inelegível, é o ponto em torno do qual orbitam os políticos da direita. Nem o Partido Republicano, nem a direita brasileira conseguiram criar alternativas que os afastem do extremismo. Não existem trumpismo nem bolsonarismo moderados.
Os dois conspiraram contra a democracia e
disso há abundantes provas. Trump comandou com ordem verbal o ataque ao
Capitólio. Bolsonaro minou a confiança no sistema eleitoral durante seu governo
e, apesar de fugir para os Estados
Unidos nos últimos momentos do seu mandato, construiu o caminho
até o ataque às sedes dos Três Poderes.
Como Al Capone apanhado pelo crime fiscal,
Trump foi considerado culpado por fraude contábil. No caso do mafioso foi a
forma encontrada para pegá-lo pelos seus maiores crimes. No caso de Trump é
mais grave. O ex-presidente no exercício de seu mandato deu ordem para que a
multidão invadisse o Congresso. O grito: “To the Capitol” ainda está nos nossos
ouvidos. Mesmo assim nem a Justiça americana, nem o sistema político foram
capazes de puni-lo até o momento. O sistema americano que, muito acertadamente,
tirou da presidência Richard Nixon por espionar o partido rival, usando para
isso a máquina pública, nada fez ainda contra o presidente que, no cargo,
mandou invadir um dos Poderes. Nixon foi para o ostracismo, Trump segue no jogo
político.
O que se dizia do sistema politico americano
era que ele tinha defeitos, como o da eleição indireta, mas que teria a
vantagem de ser à prova de outsiders que colocassem em risco a democracia. Isso
não é mais verdade. Trump governou, atentou contra o processo eleitoral
americano denunciando fraudes inexistentes, pressionando autoridades para mudar
o resultado eleitoral e, por fim, estimulando a turba que ameaçou fisicamente
parlamentares e o vice-presidente. Quatro anos depois, concorre à presidência
com chances de retorno. Ele chegou como outsider, mas capturou um dos dois
partidos que se alternam na presidência. Pulou de paraquedas no Partido
Republicano e hoje o domina completamente como se viu nas primárias. Todas as
lideranças que tentaram contestá-lo foram humilhadas.
Aqui no Brasil, a Justiça tem sido mais
célere. Bolsonaro é inelegível por decisão da Justiça Eleitoral e está sendo
investigado por tentativa de golpe de Estado.
Era de se esperar que a direita democrática
reencontrasse seu rumo depois da tentativa de golpe de 8 de janeiro. Mas não. A
direita permanece prisioneira de pautas extremistas e não se afasta de
Bolsonaro.
O governador de São Paulo, Tarcísio de
Freitas, teve uma vida pública antes de Bolsonaro, chegando até a
diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes no
governo Dilma
Rousseff. Apesar disso não perde a oportunidade de mostrar sua
identificação com o ex-presidente, em políticas adotadas, em palanques, ou na
declaração sobre as críticas à letalidade da sua polícia. “Aí o
pessoal pode ir na ONU, pode ir na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu
não tô nem aí”, disse o governador. Quem quiser comprá-lo como
moderado pode, mas está se enganando porque quer.
O governador Ronaldo
Caiado, como médico, confrontou a atuação de Bolsonaro na pandemia,
mas agora defende o ex-presidente. O senador Sergio Moro saiu
do governo Bolsonaro depois de denunciar tentativa de intervenção na Polícia
Federal, hoje diz que a relação com o ex-presidente está pacificada. Falta
explicar se ele está pacificado com o que viu e foi pressionado a fazer durante
seu período no Ministério da Justiça.
Na semana
passada 317 parlamentares votaram pela manutenção do veto do ex-presidente
Bolsonaro à tipificação do crime de disseminação em massa de desinformação. Votaram
a favor das fake news, todos os congressistas do Republicanos, e todos — menos
um de cada partido — os parlamentares do PL, União Brasil, PP, PSDB, Podemos e
Solidariedade. Só três do PSD votaram pela derrubada do veto. Dizem que foi uma
derrota do governo. Não. Foi do país e da democracia.
Nos Estados Unidos e no Brasil há o mesmo
fenômeno. Políticos se deixam confinar por Trump e Bolsonaro, lideranças
radicais e antidemocráticas, mesmo quando elas são derrotadas.
Um comentário:
Verdade,uma vergonha!
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