Correio Braziliense
Planejada para ampliar parcerias comerciais
na Ásia, o objetivo é diversificar as correntes de negócios e tratar a guerra
comercial entre os Estados Unidos e a China como uma oportunidade para ampliar
as relações com países asiáticos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou ao Japão nesta segunda-feira, acompanhado dos presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Os ex-presidentes do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e da Câmara Arthur Lira (PP-AL) também integram a comitiva, além de outros parlamentares e ministros. Planejada para ampliar parcerias comerciais na Ásia, o objetivo é diversificar as correntes de negócios e tratar a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China como uma oportunidade para ampliar as relações comerciais com grandes países asiáticos.
Visita de Estado, Lula teve um encontro
reservado com o imperador Naruhito e sua esposa, a imperatriz Masako.
Acompanhado da primeira-dama Janja da Silva, o presidente voltará a se reunir
com o casal imperial para um jantar. Naruhito, 65 anos, assumiu em 2019 o Trono
de Crisântemo, como é conhecido o trono japonês, uma dinastia com mais de 2 mil
anos, que remonta a 600 a. C.. Esta será a quinta vez que o presidente
brasileiro visita o país.
O Brasil conta com a maior população
nipodescendente fora do Japão, estimada em mais de 2 milhões de pessoas, e o
Japão abriga a quinta maior comunidade brasileira no exterior, com cerca de 211
mil nacionais. Os dois países mantêm Parceria Estratégica e Global que completa
uma década em agosto deste ano. Entretanto, são 130 anos das relações
diplomáticas. Foram estabelecidas com a assinatura do Tratado de Amizade,
Comércio e Navegação em 1895. O acordo permitiu abertura recíproca de
representações diplomáticas em 1897 e abriu caminho para o início da imigração
japonesa, em 1908.
O Japão é o nosso mais tradicional parceiro
na Ásia e o nono país a investir no Brasil. Um dos objetivos da viagem é a
abertura do mercado japonês para o agronegócio brasileiro, especialmente para
as carnes bovina e suína in natura. O segundo país a ser visitado por Lula será
o Vietnã, um caso bem-sucedido de integração às cadeias globais de valor, ao
lado da Indonésia e da Índia.
A comitiva presidencial deve seguir para
Hanói, capital vietnamita, na quinta-feira. Estão previstos encontros com o
presidente do Vietnã, Luong Cuong, e o primeiro-ministro do país, Pham Minh
Chinh. Brasil e Vietnã registraram em 2024 intercâmbio comercial de US$ 7,7
bilhões, com superávit brasileiro de US$ 415 milhões. O Vietnã é o quinto
destino global das exportações do agronegócio brasileiro e um dos principais
produtores mundiais de café, arroz e produtos eletrônicos.
EUA e China
Lula faz esse périplo pela Ásia com um olho
no presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e outro no líder chinês Xi
Jinping, os dois grandes protagonistas da economia mundial. Novas tarifas serão
adotadas pelo governo dos Estados Unidos a partir do dia 2 de abril. A política
protecionista de Trump é muito agressiva, porque pretende transferir
“indústrias críticas” para os Estados Unidos. Uma lista de 15 “países sujos”,
com balança comercial deficitária para os Estados Unidos, deve ser anunciada
por Trump. Austrália, Canadá, China, União Europeia, Índia, Japão, Coreia do
Sul, México, Rússia e Vietnã estão entre eles.
Entretanto, inclusão do Brasil na lista não
pode ser atribuída à balança comercial, que é equilibrada. Se ocorrer, será
para proteger setores com baixa competitividade da economia norte-americana,
como o siderúrgico, por exemplo. Entretanto, há conversas entre o Itamaraty e
as autoridades norte-americanas. O presidente em exercício, Geraldo Alckmin,
ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, é o principal interlocutor
entre os dois governos nessa questão.
Para Trump, as regras, instituições e
alianças da globalização sugaram os EUA. É uma visão completamente oposta à do
presidente da China, Xi Jinping. O caso chinês é particularmente interessante
porque sua expansão comercial se deu de acordo com a institucionalidade da
economia globalizada, nos marcos da Nova Rota da Seda. Apesar de seu atual
poder econômico e militar, numa região na qual os Estados Unidos são a força
hegemônica desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a China optou pela cautela e
o “soft power”, apesar da tensão permanente com Taiwan, a ilha rebelde chinesa,
e com o próprio Japão, um grande parceiro comercial, em relação às ilhas
Sankaku, no Mar da China.
Bilhões de dólares foram investidos em
Institutos de Confúcio e programas de ajuda externa em dezenas de países, a
China exerce forte atração pelo desenvolvimento econômico e tecnológico
impressionantes, por seu urbanismo futurista e a emancipação de milhões de
pessoas da pobreza. Entretanto, em três décadas alterou a divisão internacional
do trabalho, no qual tinha lugar cativo ao produzir bens de consumo não
duráveis e eletrônicos, ao alcançar um patamar econômico e tecnológico no qual
compete em quase tudo e com quase todos.
Além da enorme distância cultural e de valores, o nosso maior parceiro comercial, sem o qual o agronegócio brasileiro entraria em colapso, também é o principal concorrente da nossa indústria, nos mercados interno e externo. Os principais compradores das nossas manufaturas são os Estados Unidos e, depois, a Argentina. Entretanto, a parceria com a China pode alavancar os investimentos em infraestrutura, principalmente na logística para o Pacífico. É um trunfo de Lula nas negociações com Trump, porém, aumentar a dependência em relação aos chineses não é uma boa alternativa. É preciso encontrar um novo ponto de equilíbrio.
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