terça-feira, 25 de março de 2025

De cabeça na gastança - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Só preocupado com a eleição, Lula ignora o valor da indispensável estabilidade econômica

A saúde das contas públicas, já se vê com clareza, não está no centro das preocupações/ocupações do presidente Lula (PT). Elas que se ajeitem como puderem no meio das medidas de incentivo ao consumo para alegrar o público e torná-lo simpático à ideia de dar ao PT um passe para mais quatro anos no poder.

Do ponto de vista eleitoral, a prática do "gasto é vida" deu certo nas outras três vezes em que o partido disputou renovação de mandato: em 2006, 2010 e 2014.

Por que não daria certo de novo em 2026? Este parece ser o norte de Lula, cuja vocação para repetir receitas antigas sem levar em conta circunstâncias novas dispensa apresentações.

O presidente vai tocando o barco ligado no modo populista, enquanto o Orçamento da União é aprovado sem exame, de qualquer jeito, por um Congresso que o interditou por meses em troca da liberação de emendas.

Até quando o país sobrevive nesse mar de irresponsabilidades? Não sabemos, embora saibamos até agora que a inflação está bem acima da meta, que o Banco Central puxa de um lado com ações contracionistas e o governo estica de outro com uma política expansionista num jogo de soma zero de má sinalização para a economia adiante.

Na versão do presidente, isso é conversa fiada do mercado.

E se não for? E se as previsões de piora do cenário estiverem corretas? E se a população não reagir como espera o governo e preferir no lugar de benefícios pontuais um projeto de país que ofereça bons serviços, ambiente estável e lhe permita enxergar um horizonte de prosperidade?

Aí Lula terá um problema contra o qual, sagaz e a seu jeito, já começou a aplicar um antídoto. Recorrendo a um velho truque, acaba de reeditar o discurso do "nós contra eles". Na quarta-feira (19), no Rio Grande do Norte, atacou os "grã-finos que não gostam da gente"; os críticos de seus meios e modos.

Falta combinar com os mais pobres que aparecem nas pesquisas de opinião insatisfeitos porque talvez almejem a não fazer mais parte do "nós" na luta contra "eles".

 

Nenhum comentário: