Folha de S. Paulo
Só preocupado com a eleição, Lula ignora o
valor da indispensável estabilidade econômica
A saúde das contas públicas, já se vê com
clareza, não está no centro das preocupações/ocupações do presidente Lula (PT). Elas que se
ajeitem como puderem no meio das medidas
de incentivo ao consumo para alegrar o público e torná-lo simpático à
ideia de dar ao PT um passe para mais quatro anos no poder.
Do ponto de vista eleitoral, a prática do
"gasto é vida" deu certo nas outras três vezes em que o partido
disputou renovação de mandato: em 2006, 2010 e 2014.
Por que não daria certo de novo em 2026? Este parece ser o norte de Lula, cuja vocação para repetir receitas antigas sem levar em conta circunstâncias novas dispensa apresentações.
O presidente vai tocando o barco ligado no
modo populista, enquanto o Orçamento
da União é aprovado sem exame, de qualquer jeito, por um Congresso que
o interditou por meses em troca da liberação de emendas.
Até quando o país sobrevive nesse mar de
irresponsabilidades? Não sabemos, embora saibamos até agora que a inflação está
bem acima da meta, que o Banco Central puxa
de um lado com ações contracionistas e o governo estica de outro com uma
política expansionista num jogo de soma zero de má sinalização para a economia
adiante.
Na versão do presidente, isso é conversa
fiada do mercado.
E se não for? E se as previsões de piora do cenário estiverem corretas? E se a
população não reagir como espera o governo e preferir no lugar de benefícios
pontuais um projeto de país que ofereça bons serviços, ambiente estável e lhe
permita enxergar um horizonte de prosperidade?
Aí Lula terá um problema contra o qual, sagaz e a seu jeito, já começou a
aplicar um antídoto. Recorrendo a um velho truque, acaba de reeditar o discurso
do "nós contra eles". Na quarta-feira (19), no Rio Grande do Norte,
atacou os "grã-finos que não gostam da gente"; os críticos de seus
meios e modos.
Falta combinar com os mais pobres que
aparecem nas pesquisas de opinião insatisfeitos porque talvez almejem a não
fazer mais parte do "nós" na luta contra "eles".
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