Folha de S. Paulo
O caminho político para o ex-presidente tem
duas possibilidades: interna ou externa
Uma previsão segura: a denúncia
da PGR contra Bolsonaro será aceita e ele se tornará réu. Outra
previsão: ele será condenado. Esse ponto, aliás, une apoiadores e detratores.
Para estes, a condenação se dará pelas provas de que arquitetou e colocou em
andamento um
plano de golpe de Estado. Para aqueles, ela será fruto da perseguição
política do Supremo.
Em ambos os casos, o mesmo desfecho.
O caminho jurídico se fecha para Bolsonaro e é altamente improvável que qualquer argumento da defesa mude isso. Sendo assim, e dado que ele quer continuar livre e liderando a direita nacional, ele terá que encontrar uma saída não jurídica —ou seja, política. E é isso mesmo que tem feito.
O caminho
político tem duas possibilidades: interna ou externa. A política
interna envolve aprovar o projeto
de anistia de tal modo que possa incluir Bolsonaro. Muitos deputados
são simpáticos à anistia, por considerar que as penas aos invasores dos três
Poderes estão excessivas. O presidente
do Senado, contudo, já declarou que não levará o projeto adiante. E, mesmo
que haja uma reviravolta no Congresso e ele seja aprovado, o Supremo poderia
perfeitamente declará-lo inconstitucional ou ainda impedir sua aplicação ao
caso específico de Bolsonaro ou outros mandantes.
Resta o caminho externo: conseguir algum
tipo de intervenção americana, como sanções aplicadas segundo a Lei
Magnitsky —criada para punir com sanções membros de regimes ditatoriais. Será
que o governo Trump está disposto a comprar essa briga para salvar Bolsonaro?
Ninguém sabe, mas não é impossível. Não está claro, contudo, que ela teria
muitos efeitos sobre Moraes —que não tem ativos nos EUA. Mesmo que tivesse,
será que isso mudaria sua conduta e a de outros ministros?
Pela experiência que temos dos últimos anos,
a resposta é não. Toda vez que se viu pressionado —por Bolsonaro enquanto era
presidente, por Musk
no ano passado—
o Supremo não moveu um milímetro. Com a pressão do governo Trump, veremos
novamente o Supremo dobrando a aposta, no que provavelmente teria o apoio de
muitos outros países. Ou seja, Bolsonaro seria igualmente condenado e preso.
Com ações americanas contra o Brasil, um possível efeito seria a opinião
pública brasileira se voltar contra o grupo político de Bolsonaro, aliado de
uma potência estrangeira interventora, o que reduziria suas chances em 2026.
Por fim, resta a fuga. Sem passaporte, é
difícil ele ir muito longe. No passado, ele já sugeriu que poderia buscar refúgio
em uma embaixada, então temos que considerar essa hipótese. Seria inédito o
governo americano (ou húngaro) se prestar a um circo desses, mas quem poderá
garantir que, sob Trump, isso não aconteceria? O resultado seria um impasse
diplomático. Bolsonaro viveria preso na embaixada.
Eduardo pode
continuar com seus planos mirabolantes nos EUA para salvar o pai, mas o mais
provável é que tudo seja em vão. É muito difícil ver um cenário em que ele
escape da condenação e prisão. Talvez sua melhor chance esteja em eleger um
aliado à Presidência
em 2026, que lhe conceda a graça presidencial no primeiro ano de mandato.
Se for isso mesmo, a aproximação excessiva com o governo Trump pode ser um
erro.
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