- Folha de S. Paulo
Diferença entre juros e custos bancários, o spread, ainda está em nível de crise
Os juros bancários baixaram de leve durante o ano passado, acompanhando a diminuição da taxa de calotes, grosso modo. A partir de janeiro deste 2018, algumas taxas e o spread passam a subir. A inadimplência continuou a cair, no entanto.
Em um gráfico, a divergência entre a linha do spread em alta e a da inadimplência em queda parece a boca do jacaré aberta. O motivo do novo bote dos bancos está para se explicar, mas a dentada deve ter ajudado a esfriar os ânimos na economia.
Spread é a diferença entre as taxas de juros que os bancos cobram e total de seus custos (juros que pagam para levantar dinheiro, calotes, impostos etc.) e lucros. Em tese, tudo mais constante, os spreads deveriam ser menores com a queda na inadimplência, o que provocaria baixa adicional de juros. Não tem sido o caso. Ao contrário.
Em seu balanço do crédito de março, o Banco Central passou apresentar à parte as taxas de juros e spread para linhas de crédito rotativo e não rotativo (rotativo: cheque especial e dívidas roladas no cartão de crédito, por exemplo).
De mais notável, o spread deu um pulo expressivo em janeiro, tanto faz se no crédito rotativo ou não.
No rotativo, as taxas de juros são uma aberração galáctica em parte porque a inadimplência é altíssima e porque se trata de uma linha de crédito sempre à disposição do tomador e sem garantias. É nessas linhas que os bancos faturam horrores, no entanto.
Um problema notório é que os spreads das linhas de crédito não rotativo, em tese de risco menor, estão em níveis próximos daquelas de fins de 2016, quando ainda estávamos em pleno horror recessivo.
O caso dos juros é um fracasso de público para governo e bancos. O cidadão comum reage com escárnio, quando não com insultos, à menção de que a taxa básica de juros (Selic) é a menor da história. É furiosa a mistura de medo persistente de desemprego, juros ainda horríveis e lucros bancários que resistem até à queda de meteoros
DILMA VS. BANCOS
Em abril de 2012, Dilma Rousseff começou campanha contra os juros altos. Bateu nos bancos em cadeia nacional, no discurso para o Dia do Trabalho. Obrigou Banco do Brasil e Caixa a baixar taxas e spreads. Causou certo escândalo e reações estereotipadas dos suspeitos de sempre.
Os spreads médios começaram a cair em abril de 2012 (no crédito livre). Já vinham caindo devagar, assim como a inadimplência e a Selic, que iria à mínima em março de 2013, então um recorde de baixa.
A inadimplência diminuiria até 2014. Os spreads voltaram a subir em julho de 2013. Em maio de 2014, estavam no nível de maio de 2012.
Como se recorda, 2013 foi agitado. Em abril, o Banco Central do Brasil voltava a elevar os juros. Em maio, o banco central dos EUA fazia o primeiro anúncio de que daria cabo de sua política de dinheiro barato. O dólar deu saltos, a inflação piorava. As expectativas de crescimento diminuíam. Enfim, houve Junho.
O crédito dos bancos públicos (fora BNDES) equivalia a 11,2% do PIB em abril de 2012. Passou a 15,9% do PIB em abril de 2014, salto enorme. Nos bancos privados, caiu: de 25,9% para 23,9% do PIB (Produto Interno Bruto).
Ainda assim. Mesmo com a pressão e com os apoios capitais do governo, mesmo com bancos públicos tomando fatias de mercado, a experiência baixista dos juros bancários sob Dilma durou pouco mais de um ano. Não evitou a recessão, que começou em 2014.
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