Por Andrea Jubé, Vandson Lima, Fernando Taquari e Ricardo Mendonça | Valor Econômico
BRASÍLIA E SÃO PAULO - A busca por uma chapa presidencial que aglutine as forças do chamado "centro", a fim de afastar o risco de polarização das eleições entre a direita e a esquerda, reaproximou o MDB do presidente Michel Temer do PSDB do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin. O empenho dos envolvidos nas articulações é reunir em uma única chapa, encabeçada pelo PSDB, e com o MDB na vaga de vice, as demais pré-candidaturas do DEM, Podemos e PRB, além de PP, PR, PSD e PTB.
As conversas para a consolidação dessa aliança evoluem em sucessivas reuniões em São Paulo, mas essa equação não se resolve no curto prazo. O DEM sustenta a candidatura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), que fará um périplo pelo Nordeste neste fim de semana, enquanto o senador Alvaro Dias (Podemos) avança com uma base eleitoral sólida na Região Sul.
O empresário Flávio Rocha, pré-candidato do PRB, é apontado como um "outsider da política", e ainda nascido no Nordeste, que poderia confrontar, nessa condição, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa (PSB), que despontou nas pesquisas de intenção de voto, causando alarde nas forças partidárias que se dizem de centro.
Temer, que lançou a pré-candidatura à reeleição para evitar o isolamento político, tem trabalhado para impulsionar a postulação do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, considerado um nome do MDB que ainda não foi contaminado pelas denúncias de corrupção.
Nas conversas pela formação da aliança com o PSDB, o nome de Meirelles aparece como possível vice de Geraldo Alckmin. Mas aliados de Meirelles reafirmam que ele não cogita essa hipótese, porque entrou na corrida eleitoral para disputar a Presidência da República encabeçando a chapa.
Nesse cenário ainda nebuloso, Temer tem como interlocutores preferenciais do PSDB o ex-prefeito de São Paulo João Doria, com quem se reuniu nas últimas sextas-feiras na capital paulista, e o senador Aécio Neves (MG), que perdeu força no partido diante do bombardeio de acusações de que é alvo.
Temer ainda está ressentido com Alckmin, que não mobilizou a bancada do PSDB para apoiá-lo na votação das denúncias contra ele na Câmara, nem para votar favoravelmente à reforma da Previdência.
Mas o estremecimento entre Temer e Alckmin não impede as tratativas. O fundo partidário, o tempo de propaganda na televisão, a capilaridade do partido em mais da metade dos municípios brasileiros e a oferta de palanques sólidos no Nordeste são as chaves das negociações conduzidas por Temer para consolidar a aliança com os tucanos. Em troca, os tucanos defendem o legado do governo em troca do apoio na disputa eleitoral.
De um lado, Alckmin e seus aliados mais próximos resistem ao flerte com o MDB, ante o risco de contaminação das denúncias de corrupção que assolam a cúpula da sigla, incluindo o presidente Temer. Mas a ala pragmática do partido acha que o MDB pode ajudar a catapultar a morna candidatura de Alckmin.
Ontem, durante um evento da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) em Brasília, Alckmin rechaçou haver qualquer negociação em andamento com o MDB. "Não existe isso. Eu vi nos jornais e não tive nenhum contato, nem com o presidente, nem com ninguém", garantiu. "Estamos abertos ao diálogo. Mas não teve nada disso. Não sei de onde tiraram essa notícia".
Para Alckmin, seria "uma indelicadeza com o MDB" tratar da escolha de um eventual vice da sigla, como o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, já que, por ora, o MDB tem candidato.
Na mesma linha de Alckmin, o secretário-geral do PSDB, deputado federal Marcus Pestana (MG), afirmou que "é uma discussão fora de lugar. Não é o momento". Pestana disse que a conversa sobre as alianças será possível em junho.
Mas na contramão de Alckmin e Pestana, o ex-prefeito de São Paulo João Doria afirma que o nome de Henrique Meirelles deve ser considerado numa eventual coalizão de partidos em torno da candidatura de Alckmin. "Ele [Henrique Meirelles] é um homem de grande credibilidade e um personagem importante da vida política, sobretudo na economia brasileira", afirmou. Doria negou, porém, que esteja articulando com o MDB neste sentido.
Interlocutores de Alckmin asseguram que o presidenciável tucano "joga em compasso de espera" até que se tenha uma maior clareza do quadro eleitoral. A expectativa é que pré-candidatos ao Planalto que não decolem nas pesquisas abandonem a disputa. Nesse cenário, Alckmin despontaria como opção natural para encabeçar a coalização de centro. (Colaborou Raphael di Cunto)
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