Acordo de delação do ex-ministro com a PF, caso homologado, aumentará o trabalho dos advogados de Lula, já assoberbados
Para além das desavenças entre a Polícia Federal e o Ministério Público em torno das delações premiadas — assunto pacificado pelo Supremo com a decisão de que a Polícia também pode fechar acordos deste tipo —, a PF tem condições de ajudar bastante no rastreamento da corrupção sistêmica verificada nos governos Lula e Dilma, ou em qualquer outro, ao acertar a colaboração do ex-ministro Antonio Palocci. Porém, ainda na dependência da homologação pela Justiça.
Preso em Curitiba, já condenado pelo juiz Sergio Moro a 12 anos, dois meses e 20 dias de prisão, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro — crimes-padrão cometidos por petistas e outros beneficiários do assalto à Petrobras, por exemplo —, Palocci é parte do triunvirato que chegou ao poder em janeiro de 2003: ele, Lula e José Dirceu. O ex-presidente, preso, e este, prestes a retornar à prisão. Bastante simbólico.
Palocci tem muito a contar. Em depoimento não formal a Moro, enquanto negociava acordo idêntico com o MP, sem sucesso, o ex-ministro da Fazenda de Lula, coordenador da primeira campanha de Dilma, de quem foi chefe da Casa Civil, até ser abatido por denúncias de corrupção, traçou contornos do relacionamento espúrio entre Lula e a Odebrecht, em contatos diretos do presidente com Emílio, o patriarca, pai de Marcelo Odebrecht, também ex-preso da Lava-Jato, em Curitiba.
Aguarda-se para saber se Palocci provará o que fala e/ou ajudará na obtenção de provas. Seguro que o “Italiano” das planilhas do “departamento de operações estruturadas" da empreiteira, a seção de falcatruas da empresa, é ele, como confessou. E “Amigo”, Lula, segundo Marcelo.
Mas é preciso detalhar como Emílio Odebrecht atendeu ao pedido de dona Marisa Letícia para concluir a reforma do sítio de Atibaia, mal iniciada por outros, menos qualificados que a maior empreiteira do país. Bem como os pagamentos pelos bons serviços prestados por Lula aos negócios da empresa, disfarçados de remuneração por palestras. Que até podem ter sido proferidas, mas que serviram de biombo para escamotear as transferências ilegais. E há, ainda, a cobertura vizinha ao apartamento do ex-presidente, em São Bernardo, “lavada” por meio de um aluguel pago a um parente de José Carlos Bumlai. Do pacote da corrupção, ainda consta a compra de um terreno em que seria edificado o Instituto Lula. A empreiteira também pagou despesas pessoais do presidente, segundo Palocci. Nos termos do ex-ministro, Lula e Emílio fizeram um “pacto de sangue”.
Deve haver sinceras preocupações no mundo lulopetista, a começar pelos advogados, que travam duras batalhas para provar que não foi o que está sendo provado ter sido. Os relatos de Palocci não devem confortá-los.
O acordo de delação do ex-ministro pode até servir de ponte para aproximar PF e MP, algo essencial no mais amplo combate à corrupção já ocorrido no país em tempos de democracia.
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