- Valor Econômico
Costura entre MDB e PSDB contraria manual da política
Depois do florescer das cem flores, é chegada a hora do grande salto para a frente. O cenário da eleição presidencial atingiu nos dias seguintes à prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o ponto máximo de fragmentação, com 21 pré-candidatos presidenciais declarados. A última semana foi assinalada pelo refluxo desta maré, com as primeiras nucleações em torno da centro-esquerda e da centro-direita.
Em xeque está a dupla natural de Pindamonhangaba. As candidaturas de Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT) dependem de alianças para se tornarem competitivas. As conquistas do MDB pelo primeiro e do PT pelo segundo mudariam as suas pretensões de patamar, em um cenário onde não há uma aliança sequer firmada por nenhum dos concorrentes.
Tanto em um caso como em outro, contudo, há vários obstáculos a serem removidos para uma união. Nas duas situações, as articulações começam contrariando regras elementares dos manuais da política.
No caso de Ciro, a aproximação entre o pedetista e o PT começou mal, mas evolui. Não é boa política querer escolher o vice entre os integrantes de um partido cujo líder máximo, tirado compulsoriamente da disputa, a lidera. Os seguidos elogios e encontros de Ciro com Fernando Haddad tendem a aumentar a resistência à parceria dentro do petismo. Mas a alternativa Ciro já é discutida em eventos organizados em defesa de Lula, como relatou a repórter Cristiane Agostine. Em um ato que teve o vereador Eduardo Suplicy, candidato ao Senado, como mestre de cerimônias, o ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira foi chamado a falar para a plateia sobre esta aproximação. Seu apelo à negociação foi calado pela plateia, mas de toda maneira a hipótese da não candidatura entrou em cena em um encontro de apoiadores do ex-presidente.
Em relação a Alckmin, o problema é que a articulação começou de baixo para cima, o candidato presidencial diz não ter participado dela e demonstrou irritação ao comentar o assunto. A quadratura do círculo precisaria ser obtida com a harmonização de quatro vértices: o próprio candidato, o presidente Michel Temer, o ex-prefeito João Doria e o empresário Paulo Skaf. A desarmonia no momento é imensa.
Em relação à disputa presidencial, o MDB está onde sempre esteve, desde antes de Temer tornar-se hegemônico na sigla: desenvolve o conto da candidatura própria para depois negociar. Foi assim em 1998 (o balão de ensaio era Itamar), 2002 (Itamar, de novo), 2006 (Garotinho) e 2010 (Nelson Jobim).
Na presente eleição chegaram a falar até de Paulo Hartung e do empresário Roberto Justus. Quem entrou em cena afinal foi o próprio presidente, que atraiu para a estratégia o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles e no plano regional jogou alto: estimulou uma forte candidatura ao governo estadual, que é a de Paulo Skaf.
O que não se podia esperar, possivelmente, é que Skaf entrasse no cenário tão forte e João Doria mais fraco do que sua impressionante vitória na eleição municipal de 2016 permitira supor. Os dois estão empatados, de acordo com a pesquisa Ibope.
A oferta de uma vaga no Senado na chapa de Doria é desprezada por Skaf, que chegou a ponto de dar ares de realidade a uma notícia errada, ao dizer em uma entrevista à rádio Jovem Pan que o tucano David Uip, inelegível este ano, poderia ser seu vice. A conclusão que se chega não é apenas a da desinformação de Skaf em relação a Uip, é a de sua absoluta recusa a ser rifado. A aliança hipotética entre PSDB e MDB, tende, portanto, a não se repetir no principal colégio eleitoral do país.
"No momento não há conversas. Pode ser que haja conversa dentro de dois, três meses e tenha certeza: para fechar uma aliança nacional o PSDB tem que apoiar o MDB em São Paulo", disse Skaf.
A presença de Henrique Meirelles na chapa de Alckmin, uma das sugestões do noticiário, é irrelevante, para não dizer ilógica. Meirelles não tem eleitorado próprio, é um neófito dentro da sigla e o tucano já dispõe de seu principal ativo, que são o da confiabilidade no mercado. Uma chapa Alckmin/Meirelles portanto não faz sentido nenhum. O ex-ministro da Fazenda só seria um bom vice para o próprio Temer e sabe disso. A hipótese de ser vice de um tucano é descartada pelo ex-ministro.
A conversa entre PSDB e MDB, portanto, não parece ter partido nem de Alckmin, nem de Skaf, nem de Meirelles. Sobram o presidente da República, seu entorno e o candidato tucano ao governo do Estado.
Para Temer a vantagem da aliança é poder influir em uma disputa em que não é competitivo. O presidente não deverá se submeter a ter uma votação abaixo de dois dígitos do total de votos. Perón já dizia, na Argentina, que o ridículo é um lugar de onde não se volta. O MDB ganha ao ter uma parede qualquer para se encostar, mas não pode perder São Paulo. O MDB controla o governo federal e nunca teve uma bancada na Câmara tão pequena como agora. O partido foi devastado no Rio de Janeiro e na Bahia; tropeça no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais. Sua única esperança é São Paulo e estados que não fazem jogo nacional, como o Pará.
Do lado de Doria, a eleição deste ano é bem mais difícil que a de 2016, sobretudo porque quem está no jogo contra ele não é o enfraquecido PT. Doria opera com duas estratégias: busca confrontar publicamente o governador Márcio França (PSB), isolando-o do eleitor tradicional de Alckmin, daí tentar carimbar na testa do rival o estigma (sim, em São Paulo é um estigma) da esquerda. Cria-se o Márcio Cuba, que põe no governo o PC do B, o PDT e que no fundo gosta de Lula.
A segunda estratégia é contra Skaf. Doria não fala do empresário, faz política contra ele. Amarrar MDB e PSDB contrabalançaria, de longe, as alianças com partidos de pequeno porte que tem sido feitas por França. Como já tem consigo o PSD, Doria ficaria em uma posição de força perante o próprio Alckmin. Afinal, desde 1994 um tucano não entra em uma corrida eleitoral em posição tão frágil nas pesquisas como a de Alckmin. É verdade que Alckmin só se aliou ao MDB uma única vez nas cinco eleições majoritárias que disputou desde 2010, mas também é incontroverso que Alckmin jamais disputou sem alianças, e não poderá fazê-lo agora.
Doria ficaria como o poderoso fiador de uma aliança. E se o MDB fincar pé na candidatura de Skaf em São Paulo a solução seria uma só: Alckmin desistir de concorrer, para ser substituído pelo ex-prefeito.
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