Nos
12 meses até abril, as vendas externas de produtos primários equivaleram a 67%
do total exportado no período
As
commodities já respondem por mais de dois terços das exportações brasileiras.
Nos 12 meses até abril, as vendas externas de bens primários equivaleram a 67%
do total exportado no período, num cenário marcado pela alta significativa dos
preços desses produtos, devido à força da demanda externa, especialmente da
China e dos EUA. Para ter uma ideia do avanço das commodities na pauta
exportadora nas duas últimas décadas, esse percentual era de apenas 34,5% em
2000, segundo a classificação do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) do
Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
De janeiro a abril, as commodities responderam por uma fatia até maior das exportações do país - 68,5% do total. Os preços das vendas ao exterior desses produtos subiram 23,4% em relação ao mesmo período de 2020, enquanto o volume cresceu 4%. Chama a atenção ainda a concentração em poucos produtos - a soja teve participação de 16% no valor das exportações nesses quatro meses, ao passo que o minério de ferro respondeu por 15%, e os óleos brutos de petróleo, por 11%. Juntos, os três explicam 42% do valor das vendas ao exterior no quadrimestre.
A
preponderância das commodities levanta obviamente a discussão sobre a
conveniência de uma pauta exportadora tão dependente de produtos primários,
além de concentrada em poucos itens. Coordenadora da pesquisa do Icomex, Lia
Valls Pereira diz que se trata de um movimento estrutural, refletindo as
vantagens comparativas do país em recursos naturais. “E a China é o principal
parceiro comercial do Brasil, sendo o país que mais cresce”, observa ela. De
janeiro a abril, as exportações para o país asiático aumentaram 36,4%,
respondendo por um terço das vendas brasileiras ao exterior.
Nesse
quadro, os produtos primários terão inevitavelmente grande peso na pauta
brasileira, ainda mais num momento em que há um novo ciclo de alta dos preços
de commodities, apesar do recuo das cotações de alguns desses produtos no
mercado internacional na semana passada. A China continua a crescer a taxas
elevadas e os EUA terão uma expansão significativa neste ano, por causa dos
generosos estímulos monetários e fiscais, num cenário de avanço rápido da
vacinação.
Um
dos riscos da pauta excessivamente concentrada em commodities, segundo Lia, é a
exposição do país à variação dos preços desses produtos, que podem mostrar
grande volatilidade. Para ela, uma das opções é buscar uma diversificação nas
próprias cadeias de commodities. Trata-se de um caminho para tentar obter maior
valor agregado em áreas nas quais o Brasil já é competitivo, desde que isso não
descambe para más ideias como fazer a Vale investir pesadamente em siderurgia,
uma sugestão de alguns economistas especialmente nos anos 2000.
A
exportação de produtos manufaturados, por sua vez, pode se beneficiar dos
ganhos de outros países latino-americanos com o atual boom de commodities, diz
Lia. O ponto é que economias da América Latina como a Argentina também vão ter
um aumento de renda devido à alta das suas exportações de produtos primários,
devendo demandar mais bens industrializados do Brasil.
Ainda
assim, Lia lembra que hoje há uma grande concorrência dos asiáticos no mercado
latino-americano, o que dificulta a tentativa das empresas brasileiras de
vender mais manufaturados para os países vizinhos. O câmbio mais desvalorizado
pode auxiliar um pouco nesse esforço exportador do setor industrial brasileiro,
mas hoje muito do comércio global é “intra-firma”, diz Lia. Isso quer dizer que
as transações ocorrem muitas vezes entre unidades de um mesmo grupo
multinacional localizadas em diferentes países. Nesse cenário, o peso do câmbio
é menor do que já foi no passado.
O
peso de produtos com características de commodities é grande mesmo na indústria
de transformação. Os dez principais produtos exportados do segmento em abril
foram óleos combustíveis de petróleo, farelos de soja, celulose, açúcares e
melaços, carne bovina, carnes de aves, produtos semi-acabados de ferro ou aço,
ouro, ferro-gusa e gorduras e óleos vegetais. “Todos pertencem à indústria de
transformação, mas são intensivos em recursos naturais, sendo identificados
como commodities”, aponta o boletim mais recente do Icomex, do FGV Ibre.
Em
outros tempos, o crescimento mais forte dos EUA poderia significar um impulso
maior à exportação de manufaturados brasileiros. Hoje, porém, a economia
americana importa do Brasil principalmente commodities. De janeiro a abril, dos
dez principais produtos exportados para os EUA, apenas aeronaves não se
enquadram nesse grupo.
É
obviamente desejável que o Brasil consiga exportar mais produtos manufaturados.
Não se trata, contudo, de algo simples. O câmbio mais desvalorizado ajuda, mas,
como se vê atualmente, não é suficiente para promover um salto nas vendas
desses bens. A avaliação dominante é que o real está consideravelmente mais
depreciado do que sugerem fundamentos como as contas externas.
Lia
ressalta ainda a baixa produtividade do Brasil, um problema crônico que
dificulta o país ser competitivo nas exportações de manufaturados. A má
qualidade da infraestrutura também atrapalha, assim como o sistema tributário
complexo e irracional. Melhorar a competitividade da indústria brasileira para
exportar manufaturados não é tarefa fácil, e não deverá ocorrer de uma hora
para outra.
Nesse quadro, as commodities deverão continuar a dominar a pauta de exportação por um bom tempo, podendo ganhar mais terreno. Em 2021, o salto das vendas desses produtos deve garantir o maior superávit comercial da história, na casa de US$ 70 bilhões a US$ 80 bilhões, acredita Lia. Em 2020, o número foi um pouco superior a US$ 50 bilhões. Com isso, os setores que produzem e exportam commodities terão um aumento de renda significativo neste ano.
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