Na
CPI, ele terá de decidir se conta o que sabe ou acaba como bode expiatório
A
CPI da Covid está descobrindo evidências de um assassinato em massa. Segundo
o depoimento
do gerente-geral da Pfizer na
América Latina, Carlos Murillo, Bolsonaro desprezou várias ofertas de vacinas
da empresa. Na estimativa do epidemiologista Pedro Hallal, só
essa decisão de Bolsonaro causou entre 5.000 e 25 mil mortes.
Só
essa decisão: não
estamos levando em conta os ataques de Bolsonaro à Coronavac,
que é responsável por cerca de 80% das vacinas do Brasil; nem da adesão tardia
e parcial ao consórcio Covax Facility (entramos comprando 10% de nossas
necessidades, poderíamos ter pedido até 50%); nem das vacinas já aplicadas que
podem perder eficácia porque o governo federal mandou estados e municípios
gastarem as reservas de Coronavac que guardavam para a segunda dose, inflando
assim o número de vacinados; nem de toda a sequência de crimes documentados de
Bolsonaro durante a pandemia que não se relacionam a vacinas.
A verdade é que, não fossem os adversários, reais (Doria) ou imaginários (China), de Bolsonaro, o número de brasileiros vacinados seria próximo de zero. A OMS, organizadora do consórcio Covax, também foi alvo constante de ataques bolsonaristas.
Os depoimentos
à CPI também vêm reforçando a impressão de que o negacionismo
bolsonarista no combate à pandemia teve base ideológica. Segundo os
depoimentos, extremistas como Carlos Bolsonaro e Filipe Martins participavam
das reuniões com vendedores de vacina sem terem qualquer qualificação na área
médica, em suas próprias especialidades ou em qualquer outro ramo da
aventura humana. Se estavam ali, era para garantir a aposta na imunidade de
rebanho, na guerra contra a China e contra os “globalistas” da OMS.
E
além dos capangas e soldados rasos do
“Consultório do Crime”, começam a aparecer os suspeitos de serem as fontes
de dinheiro e assessoria técnica. O
ex-ministro Mandetta já havia declarado que Bolsonaro parecia ignorar
os conselhos da área técnica porque tinha um aconselhamento paralelo.
As
atenções da CPI agora se viram para o empresário Carlos Wizard,
que pode ter sido o chefe dessa rede, e para a médica Nise Yamaguchi. Segundo o
depoimento do presidente da Anvisa, o almirante Barra Torres, Yamaguchi
defendeu a proposta de mudar a bula de remédios para mentir que eles curavam
Covid-19.
É
bom lembrar: Bolsonaro mandou os trabalhadores para a morte com a
ilusão de que os remédios falsos os manteriam seguros. Nunca acreditou, de
fato, na eficácia da cloroquina. Em suas memórias, o ex-ministro Mandetta diz
que “nunca houve na cabeça dele a preocupação da cloroquina como um caminho de
saúde. A preocupação dele era sempre 'vamos dar esse remédio porque com essa
caixinha de cloroquina na mão os trabalhadores voltarão a produzir’”. (p.133).
A
próxima grande atração da CPI será o general Pazuello,
ministro da Saúde durante a maior parte da mortandade. Pazuello ficou famoso
por cancelar uma compra de Coronavac a mando de Bolsonaro, dizendo
que “um manda e o outro obedece”.
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