O
Bolsolão está em fase embrionária de apuração, mas é improvável que avance
muito nesta República da impunidade do bolsonarismo e do lulopetismo
A
chamada “emenda do relator”, criada por acordo entre o governo e uma ampla
representação do Congresso, acrescenta verba extra às emendas
parlamentares já previstas para beneficiar
discricionariamente deputados e senadores dispostos a subjugar seus
votos aos interesses palacianos. Investigações da imprensa dão conta de que tal
artifício proporcionou um orçamento secreto
de R$ 3 bilhões, que faria parte de um esquema mais amplo já apelidado de
“Bolsolão”.
O presidente Bolsonaro afirma que foi tudo normal e que, se alguém comprou algo superfaturado “na ponta da linha”, ele não tem culpa. Na ponta dessa linha detectou-se, por exemplo, a compra de tratores superfaturados, donde o apelido “Tratoraço”.
Parlamentares
contemplados com gordas verbas de emendas extras têm puxado as linhas desse
esquema, entregando-as a aliados em seus redutos eleitorais. O ex-presidente do
Senado, Davi Alcolumbre, e o atual presidente da Câmara, Arthur Lira, por
exemplo, foram muito bem aquinhoados. Estes, quando questionados pela imprensa,
responderam que tudo foi legal e certinho. Outros, porém, negaram-se a
responder, apresentando desculpas esdrúxulas, como motivo de “segurança de
Estado”.
A
primeira analogia deste caso foi com o antigo escândalo dos Anões do Orçamento,
mas a comparação mais pertinente é com o Mensalão:
tanto o esquema patrocinado pelo governo Lula, quanto o esquema do atual
governo Bolsonaro tiveram por objetivo corromper e cooptar o Congresso
Nacional, comprando apoio político com dinheiro público.
O
Bolsolão está em fase embrionária de apuração, mas é improvável que avance
muito nesta República da impunidade construída pelos interesses combinados do
bolsonarismo e do lulopetismo. E, mesmo que avance, os detentores de foro
privilegiado a serem julgados no STF podem ficar tranquilos: dada a
jurisprudência da impunidade firmada no grito pelo ministro Gilmar Mendes, eles
serão não apenas absolvidos, mas também enaltecidos.
*Doutora em filosofia, autora do livro 'Um olhar liberal conservador sobre os dias atuais' e presidente do Instituto Liberal do Nordeste (ILIN).
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