Folha de S. Paulo
Livro traça a história universal da
ignorância
A ignorância é um mal que precisamos
derrotar? O historiador Peter Burke,
em "Ignorância – uma história global", mostra que as coisas não são
assim tão simples. Uma das formas mais profundas de sabedoria é saber que (e o
que) ignoramos. Sócrates, considerado um homem sapientíssimo, dizia saber
apenas que nada sabia.
E as complicações não param por aí. Cada época se julga mais sábia do que a que a precedeu. Renascentistas pintaram a Idade Média como uma era de trevas e ignorância; os iluministas queriam usar a razão para eliminar a superstição. A grande verdade, porém, é que, embora hoje vivamos numa época cujo conhecimento coletivo supera em muito o de todas as épocas anteriores, no plano individual, cada um de nós não sabe muito mais do que nossos ancestrais. Há limitação física para quanto conhecimento um cérebro pode acumular.
John Rawls, com o célebre experimento mental do "véu da
ignorância", a transformou numa ferramenta de promoção de justiça. Há
situações em que a ignorância é uma dádiva, pois nos poupa de sofrimentos.
Essas considerações não implicam, por
óbvio, que a ignorância não tenha causado e ainda cause uma enorme carga de
morte, destruição e sofrimento. É só olhar para os movimentos antivacina. Ou
catástrofes como Tchernóbil e Fukushima, sem mencionar desastres militares. Há ainda
campanhas de desinformação que retardaram ações contra o tabagismo e as
mudanças climáticas. O livro de Burke trata disso tudo e mais. Mostra que a
ignorância pode ser real ou fingida, consciente ou inconsciente. Pode ter
motivações políticas, religiosas, econômicas ou mesmo nenhuma causa específica.
O livro é um verdadeiro banquete intelectual.
Numa nota não tão positiva, a edição
brasileira (li na versão impressa) tem problemas de tradução/revisão. O
vitorioso General Inverno, que livrou a Rússia das garras de Napoleão e de
Hitler, se torna um enigmático "inverno geral".
Um comentário:
Parece tradução feita pelo computador,rs.
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