O Globo
André Corrêa do Lago, presidente da COP30, vai criar comitê de economistas para que Brasil aproveite as oportunidades da nova economia na Conferência
O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, vai criar um conselho de economistas, brasileiros e estrangeiros, para assessorar a presidência da Conferência. Ele quer que a economia esteja na discussão, e, por isso, adianta que o ministro Fernando Haddad está muito empenhado na questão. Admite que há uma mudança significativa com a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris e defende a tese de que não há conflito entre explorar o petróleo na Foz do Amazonas, se for essa a decisão, e a posição de liderança do Brasil nas negociações do combate às mudanças climáticas. O importante, segundo ele, é saber “como é que vamos pegar esse trem que está passando a uma velocidade razoável na Estação Brasil”.
Fiz uma entrevista com o embaixador, que foi
ao ar na GloboNews, sobre os muitos desafios desta COP. Foi ao ar
ontem na Globonews. Um
deles é o anúncio feito por Donald Trump da saída do Acordo de Paris.
—Muita coisa muda com essa decisão americana.
Tem um elemento de incerteza porque demora um ano para ele sair. Quer dizer,
ele (Trump) anunciou que vai sair, mas o processo dura um ano. Então, os
Estados Unidos estarão em Belém. Agora, qual vai ser o tipo de atuação dos
Estados Unidos? É um elemento que muda muito a COP.
Ele lembra que os Estados Unidos não se
resumem ao governo americano. No primeiro mandato, vários estados e inúmeras
empresas continuaram defendendo o combate à mudança climática. É verdade. Só
que agora há um movimento de abandono de metas ambientais por parte do mundo
corporativo. Corrêa do Lago diz que não acredita que seja o fortalecimento do
“negacionismo”, porque avalia que é uma ideia difícil de manter diante de todos
os eventos climáticos extremos do ano passado. Ele acha que está havendo uma reação
das empresas alegando que as ações contra o clima não estão sendo tão boas para
os negócios como imaginavam.
— O que a gente tem que pensar é que países
em desenvolvimento têm opções muito limitadas e a demonstração disso foi a
dificuldade de se conseguir recursos para combater a mudança do clima. A gente
pode usar o petróleo de diversas maneiras, dependendo do país. Temos que
debater como vamos usar os recursos do petróleo. E esse é um debate importante
que o Brasil tenha nos próximos meses. Cada país precisará tomar sua decisão. A
decisão internacional já está tomada: nós vamos nos afastar dos fósseis. A ciência
está nos avisando que temos pouco tempo para fazermos as mudanças.
O embaixador afirma que os brasileiros
precisam pensar o que querem da COP. Em Dubai, esperava-se que o comunicado
final tivesse menção ao fim do petróleo. E teve. Já em Baku, a expectativa era
uma definição sobre financiamento, mas o resultado foi frustrante. Não há uma
expectativa específica para a COP30. Mas ele acredita que o impacto econômico
positivo dessas negociações para o Brasil está evidente.
— Essa nova economia que está se fortalecendo
é uma oportunidade incrível para o Brasil. Há muita gente escrevendo sobre
isso. Esse é o grande debate. Como é que vamos pegar esse trem que está
passando a uma velocidade razoável na Estação Brasil, para a gente passar a ter
um papel muito mais importante na economia mundial. Estamos reunindo ótimos
economistas brasileiros e estrangeiros para criar de certa forma um conselho de
economistas, porque precisamos ouvir essas vozes.
Sobre a questão do financiamento, o
embaixador comenta que o Brasil e o Azerbaijão, que foi a última presidência,
vão apresentar um relatório de como se pode passar dos US$ 300 bilhões de
financiamento anual para US$ 1,3 trilhão. Essas quantias foram faladas em Baku,
mas não se chegou a um acordo.
Corrêa do Lago acha que é preciso encontrar
uma maneira para contornar o problema dos preços altos de hospedagem em Belém.
Ponderei com ele que a esses preços se afasta a sociedade civil, que, pela
natureza da conferência, tem sempre muita participação.
—Há uma imensa expectativa de que no Brasil,
país democrático, com o presidente Lula que
quer uma presença grande da sociedade civil, que nada impeça ou atrapalhe essa
presença que é o papel essencial para essa COP.
Faltam alguns meses e há muito a fazer, em
todos os campos, para que a COP30 seja bem-sucedida.
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