Valor Econômico
“Modo campanha” neste início de 2025, momento
em que pesquisas de opinião apontam um cenário adverso ao projeto da reeleição
A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva de “ligar o modo campanha” neste início de 2025, momento em que pesquisas
de opinião apontam um cenário adverso ao projeto da reeleição, expôs visões
distintas entre o PT e aliados sobre o que deve ser a prioridade do mandatário.
A economia está no centro das preocupações dos petistas. Tenta-se espraiar o sentimento de que o pior em relação à inflação já passou e, portanto, o temor maior deve ser quanto ao efeito do aperto da política monetária sobre a atividade e o emprego. Nesse contexto, é citado um trecho da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central em que o colegiado aponta “como risco em um ambiente de taxas contracionistas e de piora das condições financeiras, a possibilidade de uma desaceleração doméstica mais forte do que a esperada, que poderia gerar impactos desinflacionários ao longo do tempo”.
Também é colocada sobre a mesa a divulgação
nessa terça-feira (11) do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA):
a inflação oficial brasileira desacelerou para 0,16%, após alta de 0,52% em
dezembro, com boas notícias nos preços de energia e habitação. Houve redução
nos custos de alimentação, bebidas e outros itens de consumo das famílias. Mas
o cenário ainda é de preços pressionados.
No setor de serviços a notícia foi negativa.
E atenção: deve-se lembrar, também, que o próprio Copom pondera na ata “que o
cenário-base já contempla uma desaceleração e que não há evidência, mesmo
incipiente, de desaceleração abrupta”. O cenário externo permanece demandando
cautela.
Para a cúpula do PT, na prática a disputa
presidencial já está sendo travada. E ela é dada entre Lula e os partidos que
tentam convencer o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos),
a entrar na disputa pelo Palácio do Planalto já no ano que vem. Por isso, a
situação da economia é considerada um fator fundamental para a tomada de
decisão de Tarcísio, que tem a possibilidade de se candidatar à reeleição em
São Paulo com uma vitória dada como certa. Adiar a sua entrada em campo para o
pleito nacional de 2030, afastando de 2026 um adversário potencialmente forte,
é a prioridade desses petistas.
Como era de se supor, esta opção
potencialmente mais heterodoxa na economia não é consensual em outros partidos
da base. O combate à inflação deveria permanecer no topo das prioridades,
argumentam fontes dessas siglas, pois é preciso ser enfrentado o fato de que a
reprovação do governo continuará alta enquanto o custo da alimentação
permanecer entre as maiores preocupações dos brasileiros.
Há quem pondere que a inflação de alimentos
responde a fatores sazonais e normalmente está em patamares menores nos meses
de outubro, justamente quando são disputadas as eleições. Na última ata do
Copom, aliás, as projeções de inflação no cenário de referência apontam para
uma alta de 5,2% do IPCA em 2025, mas de 4% no acumulado em 12 meses no
terceiro trimestre de 2026. O acumulado em 12 meses até janeiro chegou a 4,56%.
É na política que reside a maior preocupação
desses aliados, para quem não pode haver a falsa sensação proporcionada por
recentes pesquisas de opinião de que o presidente venceria todos os adversários
no segundo turno.
“Essa é uma visão generosa”, pondera uma
fonte. “O que é preocupante é que no segundo turno o Lula inclina para baixo no
mano a mano com todos os adversários, seja contra Pablo Marçal, Gusttavo Lima,
Ronaldo Caiado ou Tarcísio. Ele está chegando no limite da reeleição.”
Na base aliada, não há dúvidas de que o
presidente mantém um piso elevado, de pelo menos 25% dos votos, devido ao
eleitorado fidelizado ao longo de anos e políticas públicas consolidadas
durante várias administrações do PT. Pode haver mal-humor no Nordeste e entre
os mais pobres, mas isso é reversível.
Por outro lado, acrescentam lideranças de
centro, este mandato ainda não garantiu a Lula uma fórmula para furar sozinho o
teto de 48% ou 49% dos votos. Um percentual inclusive que só foi ultrapassado
em 2022 com a ajuda de uma frente ampla que hoje se sente desprestigiada, mas
novamente será fundamental para convencer eleitores refratários ao PT.
Como consequência, o novo momento vivido no
Planalto catalisou as discussões sobre a chapa ideal para Lula em 2026.
Um fator observado é a movimentação na
oposição. Avalia-se que a família Bolsonaro enfrenta grande rejeição, mas pode
acabar pautando o debate no lado governista se um filho do ex-presidente ou a
ex-primeira-dama estiver na disputa. Será melhor optar por um homem jovem como
vice de Lula? Ou uma mulher? Como o sobrenome de quem estiver na vice
influencia o eleitor que quer renovação na política?
O que já se antecipa é que o MDB só deve
fazer uma coligação logo de saída, cedendo tempo de propaganda em rádio e
televisão para a candidatura à reeleição, se obtiver a vice.
Nesse cenário, um estremecimento com o PSB de
Geraldo Alckmin é inevitável. Em paralelo, descarta-se hoje que o PSD tente
para si a vaga. Considerando que Tarcísio adie para 2030 seu projeto
presidencial, a sigla de Gilberto Kassab teria dificuldades em preparar o
terreno para o governador ocupando o Palácio do Jaburu.
As discussões ainda são incipientes. Porém,
tornaram-se inevitáveis à medida que Lula virou a chave.
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