Folha de S. Paulo
Deputado num dia invoca Ulysses e no outro
alivia o lado dos golpistas de 8 de janeiro
O que Arthur Lira (PP-AL) tinha de
incisivo na presidência da Câmara seu sucessor tem de ambíguo. Ao menos neste
início de mandato, Hugo Motta (Republicanos-PB)
tem se caracterizado por martelar ora o cravo, ora a ferradura.
Invoca Ulysses Guimarães (1916-1992) no "ódio e nojo à ditadura" num dia e no outro alivia o lado dos golpistas do 8/1 dizendo que vandalizaram a praça dos Três Poderes por mera arruaça. Segundo ele, por acreditarem na derrubada do governo eleito. Se a crença era na deposição forçada, o nome do jogo é tentativa de golpe, correto?
O deputado faz defesa contundente do
equilíbrio fiscal, avisa que o Congresso não aceitará aumento de despesas e/ou
de arrecadação, mas não faz menção a se reduzir os R$ 50 bilhões em emendas nas
mãos do colegiado. Por essa ótica, contenção de gastos diz respeito ao bolso
dos outros.
O jovem à frente da Câmara tinha 20 anos
quando da instituição da Lei
da Ficha Limpa, em 2010. Idade suficiente para ter acompanhado a
movimentação nacional que venceu a resistência inicial do Parlamento à proposta
de iniciativa popular e o obrigou a aprová-la por unanimidade.
Presidente da chamada "Casa do
Povo", Hugo Motta poderia prestar atenção nisso antes de comprar briga com
a sociedade ao defender, na prática, a revogação da lei. Ele acha a
inelegibilidade atual de oito anos "uma eternidade". Em alguns casos,
quem dera fosse eterna.
Em prol da dubiedade, no entanto, o deputado
alerta que essa é uma opinião pessoal livre da obrigação de pautar o tema. Em
relação ao semipresidencialismo, objeto de emenda constitucional na qual ele vê
"interesse dos partidos", parece gostar da ideia, mas adiaria sua
adoção para depois de 2030.
Compreende-se o afã do estreante em sinalizar
obséquio aos compromissos assumidos à direita e à esquerda para se eleger. Mas
haverá a hora da cobrança, e aí pode acabar desagradando a gregos e troianos.
Problema do qual se desvia o vizinho do Senado, Davi
Alcolumbre (União-AP), cuja experiência o tem aconselhado à economia
de palavras ao vento.
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