Folha de S. Paulo
Corte permitiu que mais de 500 envolvidos
saíssem livres por acordo de não persecução; 375 foram condenados a penas de 3
a 17 anos
Continuo hoje com o que não coube na coluna
de ontem. O STF está
sendo implacável com os envolvidos
no 8/1? Aqui, a resposta fica bem ao gosto do freguês.
Até janeiro, o Supremo já havia responsabilizado 902 cidadãos por participação no 8/1. Desses, 527 firmaram acordos de não persecução penal, o que significa que foram liberados apenas com o compromisso de prestar algumas horas de serviço comunitário e participar de um cursinho sobre democracia. Eles manterão a primariedade. Acho que dá para dizer que, para estes, meter-se na aventura golpista saiu barato.
E o que aconteceu com os 375
réus que foram de fato condenados? Aqui, vimos a aplicação
de penas que variam de 3 a 17 anos, além de multa e uma milionária
indenização por danos morais coletivos. A banda superior da pena parece mesmo
elevada. Como os ministros chegaram a ela?
Penso que eles partiram da atitude correta de mostrar-se rigorosos na defesa da
democracia, mas acabaram cometendo uma impropriedade teórica. Os réus que
pegaram penas maiores foram condenados tanto por tentativa de golpe de Estado
como por abolição violenta do Estado democrático.
Pelos penalistas com quem conversei, isso é bem heterodoxo. Quando lidamos com
tipos penais próximos, como são o golpe e a abolição, uma condenação pelo crime
mais grave afasta a incidência do mais leve. O sujeito que é condenado por
homicídio, por exemplo, não responde também por lesão corporal.
Registre-se que o ministro Luís
Roberto Barroso levantou esse problema da dupla punição já nos
primeiros casos e defendeu que a condenação fosse apenas por tentativa de
golpe, mas foi voto vencido. A maioria preferiu abraçar os rigores de Alexandre
de Moraes. É pena, porque sanções um pouco mais modestas, de até 12 anos,
digamos, teriam quase o mesmo efeito dissuasório sem alimentar o discurso
pró-anistia que já sensibiliza parte do Congresso.
A pior coisa que poderia ocorrer agora do ponto de vista das instituições seria
uma anistia generalizada
aos golpistas.
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