O Estado de S. Paulo
Deputado se ocupa em suas redes da defesa do americano e parece esquecer até a lição de seu ídolo
As relações entre o deputado federal Eduardo
Bolsonaro e a administração Trump são conhecidas. Ele faz questão de as exibir
nas redes sociais. Ali, pode-se ter uma ideia do que parece a filiação aos
interesses de um centro político exterior, vinculado a uma potência
estrangeira.
Nos 11 primeiros dias deste mês, o filho do ex-presidente fez 163 publicações em sua conta na rede X. Destas, 63 (38,5%) defendiam Trump e suas políticas, mesmo quando afetavam interesses nacionais, como a taxação de produtos brasileiros. Em segundo lugar, o deputado se ocupou da defesa dos interesses de seu grupo político e de seu pai – 23% das publicações. Outros dois temas ocuparam Eduardo: as críticas ao STF e ao TSE (17,7%) e a oposição ao presidente Lula, com 16,5%.
Para defender a decisão de Donald Trump de
fechar a Usaid, Eduardo acusou a agência de enviar recursos ao TSE em 2022,
sugerindo que ela teria influenciado as eleições no Brasil. Ataques à Usaid
eram algo que só se via na boca da esquerda, que a acusava de ser um braço da
CIA, ao denunciar o acordo MEC-Usaid. Nenhuma palavra de Eduardo sobre os R$ 17
milhões da agência enviados ao Brasil em 2024 para ações de proteção ambiental
– uma ninharia, é verdade, mas alinhada à projeção de poder do País, não só em
nosso entorno estratégico, mas como voz importante nas discussões
internacionais sobre o meio ambiente.
Em vez disso, Eduardo compartilhou postagem
de Rui Costa Pimenta, presidente do PCO, acusando Guilherme Boulos de ser “cria
da Usaid”. Essa é a primeira vez que Boulos é tratado como um bom e velho
agente da CIA. Será que Eduardo queria mostrar que o bolsonarismo é a Causa
Operária da direita? Em outra oportunidade, comentou a notícia sobre a intenção
de Lula reagir ao tarifaço de Trump contra produtos brasileiros. Escreveu:
“Isso já não é um alcoólatra ‘presidindo’ o Brasil, é um lunático desvairado. Meu
Deus!”
Lula pode ser a nêmesis da direita, um
presidente que metade do País considera impróprio. Mas é o presidente. Bem ou
mal, representa o País. Após Trump impor tarifas ao aço nacional, o deputado
não voltou ao tema. A defesa do americano seria suficiente para inviabilizá-lo
para dirigir a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa da Câmara? Os
petistas dizem que sim.
Caberia a Eduardo uma pergunta similar a que
Juraci Magalhães uma vez dirigiu a Luiz Carlos Prestes? Se determinados fatores
históricos nos levassem a uma guerra com os Estados Unidos de Trump, o que
faria Vossa Excelência? Em todo caso, é preciso lembrá-lo que, ao se vincular a
uma direita internacional, o deputado parece ignorar a lição retomada por
Trump: nações têm interesses e não amigos.
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