O Globo
Estar abraçado a Bolsonaro hoje na guerra
comercial é estar abraçado a uma campanha contra o Brasil, e isso tem custo
eleitoral
Com o julgamento de Bolsonaro batendo à
porta, governadores de oposição deixaram o constrangimento de lado e colocaram
o bloco na rua em busca de um naco do legado eleitoral do ex-presidente. A
conta foi simples: bater no governo e enaltecer Bolsonaro, por maior que fosse
o exercício retórico de defendê-lo no caso do tarifaço.
Os números recentes da pesquisa Quaest, no entanto, jogaram água no chope dos governadores. Quem pensava que seria um domingo no parque apoiar Bolsonaro terá de recalibrar a rota. Pelo menos agora. A pesquisa mostra que seu caráter tóxico, agravado no tarifaço, pode ser um obstáculo aos governadores com ambições de disputar a Presidência pela direita. Em suma, não dá para levar só uma parte do pacote. Bajular Bolsonaro significa levar o pacote todo, incluindo uma bola de ferro que, hoje, vem dentro.
Quase sete em cada dez brasileiros avaliam
que Eduardo Bolsonaro defende os interesses dele e da família — e não os do
Brasil —, e 55% acham que filho e pai agiram mal no tarifaço. É aí que o strike
está feito: os governadores, um por um, foram atingidos pela desaprovação do
episódio Trump x Brasil: 35% dos eleitores avaliam que Tarcísio
de Freitas, de São Paulo, agiu mal — e 24% acham que agiu bem. Ratinho Jr.,
do Paraná: 30% a 19%. Caiado, de Goiás: 31% a 16%. Zema, de Minas: 33% a 17%.
O estrago não para aí. A pesquisa de intenção
de voto da Quaest, a ser divulgada hoje, deverá mostrar também perda de fôlego
dos governadores. É o preço pela fidelidade a Bolsonaro em troca de alguma
promessa de voto de seu eleitor mais radical. Estar abraçado a Bolsonaro hoje
na guerra comercial é estar abraçado a uma campanha contra o Brasil, e isso tem
custo eleitoral.
Soma-se à contaminação o fato de a Quaest
sugerir que um lugar ao sol, no segundo turno, não depende do abraço ao legado
bolsonarista. Segundo a pesquisa de ontem, 13% dos eleitores se declaram
“bolsonaristas”, ante 20% que se declaram de “direita não bolsonarista”. Em
tese, uma candidatura única que representasse o campo da “direita não
bolsonarista” — cenário improvável hoje — teria potencial maior que uma
candidatura bolsonarista raiz.
— Esse é o recado da pesquisa principal. A
direita moderada unida é maior que a direita bolsonarista — disse à coluna o
cientista político e diretor da Quaest Felipe Nunes.
De qualquer maneira, os números ainda apontam
que todo mundo, pela direita ou pela esquerda (19% se dizem “lulistas” e 14%
“esquerda não lulista”), terá de pescar nos 30% que se declaram “sem
posicionamento”, pessoal que, provavelmente, não comprou a retaliação contra o
Brasil encomendada pela família Bolsonaro.
Nesta semana, Carlos
Bolsonaro, com apoio do irmão Eduardo, ao perceber as diferentes excursões
promovidas em busca do eleitor do pai, inelegível, chamou os governadores de
“ratos”. Ainda de olho no pacote bolsonarista completo, eles preferiram fingir
que não ouviram.
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