quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Setembro crítico para o Brasil, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Calendário do perigo tem julgamento de Bolsonaro e decisão do STF sobre sanções dos EUA

Por pelo menos um mês, haverá risco aumentado de que o ataque Trump-Bolsonaro contra a economia brasileira desvalorize o real, para começar. O risco de novas sanções está no calendário. Jair Bolsonaro será julgado em meados de setembro. O Supremo vai decidir a que problema estarão expostos os bancos que atuam no Brasil em caso de novos decretos americanos contra brasileiros.

dólar em queda pelo mundo e por aqui também tem sido um sedativo para as finanças, para a economia e, em alguma medida, até para a política do Brasil. Dólar mais barato atenua a inflação, anestesia humores ruins com o gasto público e diminui o amplificador das más notícias do Congresso para o governo. A carestia menor devolveria uns pontos de prestígio para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No fundo, essa situação de dólar mais fraco permanece: a economia americana esfria um tanto, há perspectiva de taxas de juros menores nos EUA e, no Brasil, a taxa básica de juros vai ficar na estratosfera a perder de vista.

Desde julho, tivemos exemplos de que há risco de anestesia passar, até então ignorado por "o mercado". O tarifaço de julho contra o Brasil balançou os mercados financeiros. Para citar apenas o indicador mais "pop", o dólar saiu dos R$ 5,40 do início do mês para R$ 5,60. Passado o susto, dólar e taxas de juros voltaram à tendência de queda que havia começado entre fevereiro e abril. A moeda americana chegou a baixar a R$ 5,38. Saltou de novo porque se atentou para o fato de que, em um caso extremo, bancos daqui podem ficar na situação de ter de obedecer a um decreto americano contra brasileiros e leis brasileiras ou às determinações da lei e da Justiça brasileira, sob ameaça de irem assim para o vinagre.

De modo tristemente ignorante ou lunático, há quem diga "danem-se os bancos". Com bancos sancionados, também empresas brasileiras terão problemas sérios de crédito, para receber investimentos e fazer a gestão financeira mais comezinha. O caso extremo é um péssimo para a economia, empregos e inflação.

Parece necessário dizer o óbvio. Parece que donos do dinheiro grosso por aqui julgam que um tumulto causado por Trump-Bolsonaro seria no fim das contas dominado por fatores tais como a fraqueza do dólar. Hum.

O ministro Cristiano Zanin vai decidir sobre efeitos da Lei Magnitsky no Brasil, o artifício jurídico usado pelos EUA para atacar Alexandre de Moraes. Importa quanto vai demorar. Importa saber se, e como, vai adaptar o imperativo de soberania ao risco de grave desordem econômica e financeira em caso de novo ataque americano. Vai decidir antes do julgamento de Bolsonaro, talvez na terceira semana de setembro?

O ministro Alexandre de Moraes acaba de dizer que acredita na possibilidade de que o governo americano desista das sanções contra ele, por ilegalidades apontadas inclusive por americanos. Alguém pode acreditar também que Trump venha a esquecer de Bolsonaro caso ele vá para a cadeia.

Hum.

Por ora, sabemos apenas de novas ameaças americanas. Sabemos também que os primeiros contrapontos ao autoritarismo de Trump poderiam vir de decisões judiciais a partir do final do ano, de piora sensível da economia americana (preços e emprego) também mais para o final do ano e, ainda mais remoto no tempo e mais baixo na escala de probabilidades, por causa de uma derrota na eleição de fins de 2026. Até lá, o diabo estará solto. Precisamos nos proteger.

 

Nenhum comentário: