Folha de S. Paulo
Calendário do perigo tem julgamento de
Bolsonaro e decisão do STF sobre sanções dos EUA
Por pelo menos um mês, haverá risco aumentado
de que o ataque Trump-Bolsonaro contra a economia brasileira desvalorize o
real, para começar. O risco de novas sanções está no calendário. Jair
Bolsonaro será julgado em
meados de setembro. O Supremo vai decidir a que problema estarão
expostos os bancos que atuam no Brasil em caso de novos decretos americanos
contra brasileiros.
O dólar em
queda pelo mundo e por aqui também tem sido um sedativo para as finanças, para
a economia e, em alguma medida, até para a política do Brasil. Dólar mais
barato atenua a inflação, anestesia humores ruins com o gasto público e diminui
o amplificador das más notícias do Congresso para o governo. A
carestia menor devolveria uns pontos de prestígio para o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva.
No fundo, essa situação de dólar mais fraco
permanece: a economia americana esfria um tanto, há perspectiva de taxas de
juros menores nos EUA e, no Brasil, a taxa básica de juros vai ficar na
estratosfera a perder de vista.
Desde julho, tivemos exemplos de que há risco de anestesia passar, até então
ignorado por "o mercado". O tarifaço de julho contra o Brasil
balançou os mercados financeiros. Para citar apenas o indicador mais
"pop", o dólar saiu dos R$ 5,40 do início do mês para R$ 5,60.
Passado o susto, dólar e taxas de juros voltaram à tendência de queda que havia
começado entre fevereiro e abril. A moeda americana chegou a baixar a R$ 5,38.
Saltou de novo porque se atentou para o fato de que, em um caso extremo, bancos
daqui podem ficar na situação de ter de obedecer a um decreto americano contra
brasileiros e leis brasileiras ou às determinações da lei e da Justiça
brasileira, sob ameaça de irem assim para o vinagre.
De modo tristemente ignorante ou lunático, há quem diga "danem-se os
bancos". Com bancos sancionados, também empresas brasileiras terão
problemas sérios de crédito, para receber investimentos e fazer a gestão
financeira mais comezinha. O caso extremo é um péssimo para a economia,
empregos e inflação.
Parece necessário dizer o óbvio. Parece que donos do dinheiro grosso por aqui
julgam que um tumulto causado por Trump-Bolsonaro seria no fim das contas
dominado por fatores tais como a fraqueza do dólar. Hum.
O ministro Cristiano
Zanin vai decidir sobre efeitos da Lei Magnitsky no Brasil, o
artifício jurídico usado pelos EUA para atacar Alexandre de Moraes. Importa
quanto vai demorar. Importa saber se, e como, vai adaptar o imperativo de
soberania ao risco de grave desordem econômica e financeira em caso de novo
ataque americano. Vai decidir antes do julgamento de Bolsonaro, talvez na
terceira semana de setembro?
O ministro Alexandre de Moraes acaba de dizer que acredita na possibilidade de
que o governo americano desista das sanções contra ele, por ilegalidades
apontadas inclusive por americanos. Alguém pode acreditar também que Trump
venha a esquecer de Bolsonaro caso ele vá para a cadeia.
Hum.
Por ora, sabemos apenas de novas ameaças americanas. Sabemos também que os
primeiros contrapontos ao autoritarismo de Trump poderiam vir de decisões
judiciais a partir do final do ano, de piora sensível da economia americana
(preços e emprego) também mais para o final do ano e, ainda mais remoto no
tempo e mais baixo na escala de probabilidades, por causa de uma derrota na
eleição de fins de 2026. Até lá, o diabo estará solto. Precisamos nos proteger.
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