O Globo
Vice-presidente disse que Brasil está sendo
injustiçado e continuará tentando o diálogo com os Estados Unidos
Nossa vida ficou 6,4% melhor. Este é o percentual da exportação atingido pela decisão dos Estados Unidos de cobrar de todos os países a mesma alíquota nos produtos que contenham aço, cobre ou alumínio. Esta é a forma como o vice-presidente Geraldo Alckmin vê o trabalho de enfrentar o tarifaço americano. De grão em grão, partes das nossas vendas vão ficando nas exceções ou então no mesmo patamar dos outros países. “Não vamos desistir, vamos continuar negociando permanentemente”, diz Alckmin. As portas estão fechadas, as mesas vazias, mas ele repete o mantra, “negociar, negociar, negociar”.
A vice-presidência da República virou um
entre e sai de empresários para mostrar os impactos da crise em cada setor.
Ontem, antes da entrevista que ele me concedeu, houve uma reunião que não
estava na agenda. Ao fim da gravação, ele recebeu uma delegação de Piracicaba,
onde há produção de máquinas e equipamentos, inclusive é sede da Caterpillar. A
eles, Alckmin deu a notícia que havia me antecipado. A de que tudo o que leva
aço ou alumínio fora incluído na seção 232.
— O Departamento de Comércio publicou que
está na Seção 232 tudo o que leva aço e alumínio, como motocicleta, utensílios
domésticos, máquinas. Com exceção do Reino Unido, o mundo inteiro pagará a
mesma tarifa. Isso representa US$ 2,6 bilhões do que exportamos. Podemos dizer
que 6,4% da nossa exportação melhorou de ontem para hoje. Alíquota é alta, mas
é igual para todo mundo.
A última conversa com o secretário de
Comércio americano, Howard Lutnick, foi “há algumas semanas”, segundo Alckmin.
Perguntei o que aconteceria se ele ligasse naquele momento para Lutnick. Ele
atenderia?
— Nós já tivemos várias conversas. Acho que
essa é uma tarefa permanente. Não há justificativa para essa tarifa. O Brasil
está sendo injustiçado.
Do ponto de vista do comércio está sendo
injustiçado, do ponto de vista institucional, ultrajado. O que se pede ao
Brasil é mesmo inaceitável. O problema é que o tarifaço tem produzido muitos
efeitos colaterais. Alckmin acha que o estresse que atingiu o setor financeiro
pelo medo de as sanções alcançarem suas operações no exterior vai passar em
breve. A questão é que não há qualquer sinal de que o governo americano queira
diminuir a tensão. Quando eu disse isso, ele respondeu:
—Vale a pena trabalhar no sentido do diálogo,
estamos falando das duas maiores economias das Américas, duas maiores
democracias no Ocidente. A orientação do presidente Lula é
diálogo, diálogo, diálogo.
Como dialogar se as contrapartes americanas
não estão falando com os ministros brasileiros?
—Tem diálogo pelos canais institucionais.
Vamos continuar a dialogar.
Quando perguntei se ele estava querendo dizer
que em escalões inferiores estava havendo conversas, ou seja, os ministros não
estão se falando, mas os técnicos sim, ele respondeu:
—Isso e mais um pouco. Eu acredito que é
possível avançar no diálogo.
A oposição tem criticado o presidente Lula
por não ter ligado para o presidente Trump. Alckmin responde que a conversa
ocorrerá quando tudo estiver mais bem esclarecido.
—Quero destacar que, infelizmente, alguns
maus brasileiros ficam lá fora trabalhando contra o país e prejudicando o
emprego, as empresas, a produção, a exportação, levando informações
equivocadas. O presidente Lula falará com o presidente Trump quando o quadro estiver
mais bem esclarecido. Conversa de presidente da República precisa ser
preparada. O presidente Lula é homem do diálogo.
Alckmin diz que o governo estabelecerá uma
linha de corte para a ajuda às empresas de acordo com o seu grau de dependência
do mercado americano. Explica que o agronegócio consegue mais facilmente
distribuir sua produção para outros mercados, O que preocupa mesmo é o setor
industrial, cujos produtos são customizados e, sem os EUA, podem não encontrar
compradores.
—A China é o maior comprador do Brasil, mas
de commodity. O maior comprador de produto industrial, avião, peças, máquinas,
equipamentos, motores, são os Estados Unidos.
Alckmin confirma que a estratégia brasileira
é procurar outros mercados. Nesse sentido, ele está indo ao México conversar
com a presidente Claudia Sheinbaum. Há outras viagens sendo programadas e novos
acordos sendo fechados. Isso, além da paciência de continuar tentando negociar
com os Estados Unidos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário