quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Alckmin diz que não vai desistir, por Míriam Leitão

O Globo

Vice-presidente disse que Brasil está sendo injustiçado e continuará tentando o diálogo com os Estados Unidos

Nossa vida ficou 6,4% melhor. Este é o percentual da exportação atingido pela decisão dos Estados Unidos de cobrar de todos os países a mesma alíquota nos produtos que contenham aço, cobre ou alumínio. Esta é a forma como o vice-presidente Geraldo Alckmin vê o trabalho de enfrentar o tarifaço americano. De grão em grão, partes das nossas vendas vão ficando nas exceções ou então no mesmo patamar dos outros países. “Não vamos desistir, vamos continuar negociando permanentemente”, diz Alckmin. As portas estão fechadas, as mesas vazias, mas ele repete o mantra, “negociar, negociar, negociar”.

A vice-presidência da República virou um entre e sai de empresários para mostrar os impactos da crise em cada setor. Ontem, antes da entrevista que ele me concedeu, houve uma reunião que não estava na agenda. Ao fim da gravação, ele recebeu uma delegação de Piracicaba, onde há produção de máquinas e equipamentos, inclusive é sede da Caterpillar. A eles, Alckmin deu a notícia que havia me antecipado. A de que tudo o que leva aço ou alumínio fora incluído na seção 232.

— O Departamento de Comércio publicou que está na Seção 232 tudo o que leva aço e alumínio, como motocicleta, utensílios domésticos, máquinas. Com exceção do Reino Unido, o mundo inteiro pagará a mesma tarifa. Isso representa US$ 2,6 bilhões do que exportamos. Podemos dizer que 6,4% da nossa exportação melhorou de ontem para hoje. Alíquota é alta, mas é igual para todo mundo.

A última conversa com o secretário de Comércio americano, Howard Lutnick, foi “há algumas semanas”, segundo Alckmin. Perguntei o que aconteceria se ele ligasse naquele momento para Lutnick. Ele atenderia?

— Nós já tivemos várias conversas. Acho que essa é uma tarefa permanente. Não há justificativa para essa tarifa. O Brasil está sendo injustiçado.

Do ponto de vista do comércio está sendo injustiçado, do ponto de vista institucional, ultrajado. O que se pede ao Brasil é mesmo inaceitável. O problema é que o tarifaço tem produzido muitos efeitos colaterais. Alckmin acha que o estresse que atingiu o setor financeiro pelo medo de as sanções alcançarem suas operações no exterior vai passar em breve. A questão é que não há qualquer sinal de que o governo americano queira diminuir a tensão. Quando eu disse isso, ele respondeu:

—Vale a pena trabalhar no sentido do diálogo, estamos falando das duas maiores economias das Américas, duas maiores democracias no Ocidente. A orientação do presidente Lula é diálogo, diálogo, diálogo.

Como dialogar se as contrapartes americanas não estão falando com os ministros brasileiros?

—Tem diálogo pelos canais institucionais. Vamos continuar a dialogar.

Quando perguntei se ele estava querendo dizer que em escalões inferiores estava havendo conversas, ou seja, os ministros não estão se falando, mas os técnicos sim, ele respondeu:

—Isso e mais um pouco. Eu acredito que é possível avançar no diálogo.

A oposição tem criticado o presidente Lula por não ter ligado para o presidente Trump. Alckmin responde que a conversa ocorrerá quando tudo estiver mais bem esclarecido.

—Quero destacar que, infelizmente, alguns maus brasileiros ficam lá fora trabalhando contra o país e prejudicando o emprego, as empresas, a produção, a exportação, levando informações equivocadas. O presidente Lula falará com o presidente Trump quando o quadro estiver mais bem esclarecido. Conversa de presidente da República precisa ser preparada. O presidente Lula é homem do diálogo.

Alckmin diz que o governo estabelecerá uma linha de corte para a ajuda às empresas de acordo com o seu grau de dependência do mercado americano. Explica que o agronegócio consegue mais facilmente distribuir sua produção para outros mercados, O que preocupa mesmo é o setor industrial, cujos produtos são customizados e, sem os EUA, podem não encontrar compradores.

—A China é o maior comprador do Brasil, mas de commodity. O maior comprador de produto industrial, avião, peças, máquinas, equipamentos, motores, são os Estados Unidos.

Alckmin confirma que a estratégia brasileira é procurar outros mercados. Nesse sentido, ele está indo ao México conversar com a presidente Claudia Sheinbaum. Há outras viagens sendo programadas e novos acordos sendo fechados. Isso, além da paciência de continuar tentando negociar com os Estados Unidos.

 

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