Valor Econômico
Malafaia deu a definição mais precisa sobre o
deputado que abalou o mercado
O Real recuperou parte da valorização que
havia perdido ante o dólar, o Ibovespa voltou a subir e as ações dos bancos,
com uma única exceção, o BTG, registraram uma tímida recuperação. O respiro
veio junto com a reabertura de canais entre o sistema financeiro e o Supremo
Tribunal Federal que, ao longo da escalada da terça-feira, pareciam
incontornavelmente obstruídos.
A decisão do ministro Flávio Dino, que se limitou a reafirmar dispositivo vigente na legislação brasileira há décadas, o de que uma decisão estrangeira precisa ser ratificada por tribunal nacional para valer no país, foi protocolada no STF às 11h57 da segunda-feira. Houve algum nervosismo ao longo tarde, mas foi só na terça que o mercado financeiro, ante a perspectiva de um embate entre a toga e o pregão e de um relatório de banco aqui outro acolá, acordou.
Os panos quentes desta quarta-feira devolveram
a situação para o novo normal de tensão e indefinição que tem dominado o Brasil
desde que Donald Trump colocou o país no alvo de sua malquerença. Tão normal
que Flávio Dino, em palestra no STJ no fim da tarde de quarta, tascou um
“especulação” para definir o barulho da véspera.
O deixa-disso só não foi capaz de reverter a
desconfiança, ou mesmo a irritação em alguns gabinetes togados, de que o
resultado do diálogo entre representantes da Corte e do sistema financeiro,
seja levado à mesa de operações por, pelo menos, um dos seus interlocutores.
A entrevista de Alexandre de Moraes à Reuters
é uma tradução deste movimento. O ministro reitera a mesma obviedade de Dino, a
de que os EUA têm suas leis e o Brasil, as suas e que, se os bancos cá usarem
as de lá, haverá penalidades. Acena, porém, com o reconhecimento de que as
sanções da Lei Magnitsky, que não reconhecem as fronteiras nacionais, colocaram
as instituições financeiras numa “situação difícil”.
O freio de arrumação tem mais de freio do que
de arrumação. Chega num momento em que o governo é lembrado de que movimentos
que ponham em risco indicadores capazes de afetar o recuo da inflação podem lhe
custar a popularidade que, a duras penas, volta a ser reconquistada.
A Genial-Quaest mostrou, que se o tarifaço
ainda é alvo do rechaço geral da nação, é o recuo na inflação que tem dado
consistência à recuperação da popularidade do governo Luiz Inácio Lula da
Silva. Como o câmbio comportado é a âncora deste recuo, movimentos que
arrisquem sua estabilidade, como a ameaça da Magnitsky sobre o sistema
financeiro nacional, são amplificados.
É claro que, em função disso, o deputado
federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) vai se valer do novo indiciamento seu e de
seu pai, pela Polícia Federal, por coação na ação do golpismo, para redobrar a
demanda aos seus interlocutores do Departamento de Estado pela ampliação da Lei
Magnitsky. Da mesma maneira, o pastor Silas Malafaia, alvo de uma operação de
busca e apreensão ao desembarcar no aeroporto do Galeão, vai acionar seus contatos
no pentecostalismo americano no mesmo sentido.
Já é possível constatar que nem todas as
pressões chegam para adubar o novo normal da política brasileira. O deputado do
partido democrata americano, Jim McGovern, um dos autores da Magnitsky, mandou
uma carta a Donald Trump em que classifica de “vergonhosa” a aplicação da lei
contra Moraes. É improvável que o presidente americano dê ouvidos a um
parlamentar do partido adversário, mas o argumento usado por McGovern, o de que
seu uso contra o ministro brasileiro fortalece a acusação russa de que a lei é
usada como ferramenta política, favorece a resistência institucional às sanções
americanas.
Também é na linha da resistência que tem se
dado a pressão contra o tarifaço. A associação americana do café, como escreveu
Assis Moreira, no Valor,
mostrou que a importação do grão brasileiro permite ao setor, nos EUA, um valor
agregado de 4.200%. Da mesma maneira, a associação dos produtores soja
americanos disse a Trump que os chineses estão trocando seu produto pelo
brasileiro.
No quesito resistência, porém, foi Silas
Malafaia que ganhou o troféu do dia. Desde “Apocalipse nos Trópicos”, de Petra
Costa, sabe-se que o pastor é a metralhadora giratória do bolsonarismo. No
filme, Malafaia esbraveja contra a decisão de Jair Bolsonaro de deixar o país às
vésperas da posse de Lula: “Um líder fica”.
O que ainda não se sabe é se, nas mensagens
rastreadas pela Polícia Federal, o pastor também reage à minuta de pedido de
asilo do ex-presidente à Argentina. O que já se conhece é o epíteto usado
contra Eduardo Bolsonaro. Ao comentar a perda de 6% no valor das ações do Banco
do Brasil, que processa a folha de pagamentos do Supremo Tribunal Federal, a
presidente da instituição financeira, Tarciana Medeiros, se insurgiu contra o
deputado federal sem mencionar seu nome: “É muita falta de responsabilidade
quando algum brasileiro vem colocar em xeque a solidez, segurança e integridade
de uma empresa como o Banco do Brasil”. Além de irresponsável, sabe-se agora,
trata-se de um filho que xinga o pai com palavrão. Malafaia, nas mensagens
trocadas com o ex-presidente, foi mais preciso. “É um babaca”, disse o pastor
sobre o filho de Bolsonaro a quem só os pregões da finança nacional não parecem
oferecer resistência.
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