Folha de S. Paulo
Ânimo de consumidores e empresários baixa em
janeiro, apesar de bom resultado de 2024
A confiança na economia caiu de modo
disseminado em janeiro, a julgar pelos indicadores das pesquisas do Instituto
Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre). Foi assim com a
confiança do consumidor e também com os ânimos das empresas do comércio, da
construção, da indústria e
dos serviços. Também
baixou o indicador antecedente de emprego.
A confiança baixou para níveis de 2023 e, no caso de serviços, para 2021. Não
quer dizer que estejam definidas as cartas da economia neste ano. Pode haver
flutuações temporárias de ânimos. Não há relação direta entre o tamanho da
baixa do humor e o do ritmo da atividade econômica. Ainda assim.
Talvez o pânico no mercado de câmbio em
dezembro tenha pesado além da conta. Como se recorda, o preço do dólar
chegou a passar de R$ 6,20. Agora, anda
abaixo de R$ 5,80, mais em conta do que no dia anterior ao do anúncio
do pacote fiscal do governo, em 27 de novembro.
Mas o dólar ainda está caro. Mais importante, as taxas de juros no atacadão do
mercado de dinheiro aumentaram de modo nocivo no trimestre final de 2024. Em
setembro, a taxa de juros futura de um ano estava em 12% ao ano. No final do
ano e até agora, em torno de 15%. Além do mais, o Banco Central anunciou que
elevaria a Selic a
pelo menos 14,25% neste 2025. No mínimo, deve
chegar a 15%, afora na hipótese de quedas bruscas de inflação ou de
expectativas, o que não ocorreria antes de meados do ano.
Quanto a indicadores de atividade, de significativo temos apenas os números da
indústria. A
produção industrial teve em 2024 o maior aumento anual desde 2010 (fora
o de 2021, mera despiora do fundo do poço de 2020). Mas dezembro foi o terceiro
mês consecutivo de baixa industrial. Os setores que foram bem no ano passado,
como bens duráveis (veículos,
por exemplo) e bens de capital (máquinas, equipamentos), tendem a
padecer com crédito encarecido e perspectiva de crescimento menor.
Por ora, a mediana das previsões de crescimento do PIB está em
2%. Dado o desastre do período de 2014 a 2019, em si mesmo nem parece ruim.
Depois da Grande Recessão e antes da epidemia, de 2017 a 2019, a economia
crescia apenas a 1,4% ao ano.
Mas as previsões começam a piorar. O segundo
semestre seria de encolhimento do PIB. O crescimento deste ano seria carregado
pelo bom desempenho da agricultura –o sentimento em relação ao restante da
economia deve piorar.
Na economia real, até dezembro havia aumento anual forte de salários (4,3%
acima da inflação), de pessoas ocupadas (2,8%, cerca de 2,8 milhões de empregos
a mais em um ano) e de massa salarial (7,4% além da inflação).
Os economistas da FGV dizem que a baixa do indicador antecedente de emprego
(formal, no caso) não seria indício de mais demissões do que contratações, mas
de aumento mais lento do número de vagas.
O que bateu nos ânimos? A inflação de alimentos aumentou perto de 8%, mantendo
achatado o restante do orçamento das famílias, problema que vem de longe, da
inflação da epidemia –não vai melhorar tão cedo. A taxa de juros deu aquele
salto brutal.
As previsões de crescimento da economia foram muito erradas desde 2021.
Costumam estar erradas. O problema maior é que não houve choques bastantes para
explicar os erros. Então, estamos mais no escuro do que de costume. Mas um
sinal amarelinho acendeu.
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