terça-feira, 16 de abril de 2013

OPINIÃO DO DIA - Jürgen Habermas: política e modernidade

A política (...) e não o capitalismo é responsável pela orientação do bem comum. (Habermas, Sobre a Constituição da Europa, p.109).

"Desde o começo da modernidade, mercado e política têm de ser balanceados continuamente, de modo que a rede de relações solidárias entre os membros de uma comunidade política não se despedace. (Habermas, Sobre a Constituição da Europa, p.116).

Jürgen Habermas (Düsseldorf, 18 de Junho 1929) é um filósofo e sociólogo alemão.

Manchetes de alguns dos principais jornais do País

O GLOBO
A volta do terror: 15 segundos de horror
Capriles: Maduro é um presidente ilegítimo
Pressionada, Secretária de Drogas libera recursos para entidades religiosas
Consumidor se endividou para enfrentar inflação e agora terá juros mais altos
E-mail indica ligação de fraudadores do Minha Casa Minha Vida com partidos

FOLHA DE S. PAULO
Atentados deixam 3 mortos e ferem mais de 130 nos EUA
Chavista é proclamado vencedor na Venezuela
Marin comprou prédio superfaturado para CBF
Governo afrouxa política de controle de gastos públicos
Brasil deve ampliar infraestrutura, diz chefe do FMI

O ESTADO DE S. PAULO
Ataque em Boston mata 2 e fere 115; EUA elevam alerta
Multidão protesta contra vitória de Maduro
Para cumprir meta fiscal, governo quer excluir Estados
Mercado muda e prevê alta de juros
Dilma prioriza agenda de eventos de olho em 2014
Defasagem de estudo é de 4 anos no Norte
Financiamento do BNDES é recorde

VALOR ECONÔMICO
Governo abre espaço para política fiscal mais branda
Taxa de retorno em concessões pode ir a 8%
'Herdeiro' de Chávez chega à Presidência enfraquecido

BRASIL ECONÔMICO
CVM pune IPO da BB Seguridade e deixa os investidores inseguros
ANP quer prazos maiores entre leilões do pré-sal
Valor da OGX cai a 65% do patrimônio

ESTADO DE MINAS
Ódio sem limite
Terror de volta aos EUA
O novo cidadão mineiro
Governo quer mínimo a R$ 719,48 ano que vem

O TEMPO (MG)
Testemunha-chave da morte de jornalista é assassinada
Explosões em corrida matam e levam terror aos Estados Unidos
Lula exalta legado para Minas
Aécio Neves produz programa especial para o Nordeste
Leite vai ser o `novo´ tomate

CORREIO BRAZILIENSE
O terror volta a assombrar os EUA
Mordomia: Uso de carro irrita Dilma
Governo prevê salário mínimo de R$ 719,48 em 2014
Venezuela: Maduro fala em "golpe"

GAZETA DO POVO (PR)
Explosões em Boston deixam EUA em alerta contra o terror
Sem recontagem, Maduro é proclamado
Brasileiro é conservador para investir
Argentina volta forte ao mercado
Governo propõe elevar o mínimo para R$ 719
Estatuto da Juventude prevê meio-ingresso e passe livre

ZERO HORA (RS)
O terror revivido
Alerta: Estado tem a primeira paciente com gripe A

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Terror em Boston
Empresários rejeitam ICMS unificado
Salário mínimo de R$ 719,48 em 2014

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais do País

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Minha Casa Minha Vida - Fraude: suspeita de conexão política

E-mails sugerem participação de partido em irregularidades do Minha Casa; CGU investiga

Grabriela Valente, Junia Gama

BRASÍLIA - Uma troca de e-mails levanta indícios sobre as conexões políticas da RCA Assessoria, representante de consultoria no centro de um esquema com empresas de fachada para repassar dinheiro público, fiscalizar e até fazer as obras do programa Minha Casa Minha Vida (MCVM). Em uma das correspondências eletrônicas, o advogado Antônio Carvalho, irmão e sócio da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, fala de números do faturamento da RCA em 2010 e diz que o assunto foi objeto de discussão em "reunião do partido". Ele não especifica a qual legenda se refere. Daniel Nolasco, um dos sócios da RCA, é filiado ao PCdoB e foi diretor da área de habitação no Ministério das Cidades, pasta que cuida do MCVM.

O e-mail diz que, na reunião "do partido", foram tratados os valores negociados pela RCA, em contratos em que ela representava o banco Schahin. A conta precisava ser feita para se chegar a um valor do faturamento total da empresa. O número era fundamental para que um acordo fosse fechado para a saída de um dos sócios, Ivo Lopes Borges. Ele era testa de ferro do irmão Fernando Lopes Borges, que se desentendeu com os demais sócios e recorreu à Justiça paulista alegando ter direito a parte do dinheiro movimentado pela RCA.

O e-mail enviado a Carlos Luna, um dos sócios da RCA, anexado ao processo que corre na Justiça, indica que o acordo era negociado por Antônio Carvalho. Na época, ele era sócio do escritório de advocacia Trajano & Silva, fundado por sua irmã e advogados ligados ao PT. Antônio questiona as cifras apresentadas para um possível acordo. Diz que os valores são baixos e que queria uma auditoria nas contas da empresa.

Erenice receberia R$ 12 milhões

"Não tenham dúvida que o sócio Ivo será imediatamente retirado. Quanto ao passado, devo dizer que esse número é de fato desprovido de qualquer parâmetro. No entanto, tenho que dizer que em reunião com Daniel e membros do partido, onde foi sugerido uma auditoria, o Daniel disse não haver hipótese de isso acontecer. Então você há de concordar que fica difícil de se mensurar um número", diz o advogado no e-mail.

Ao GLOBO, Antônio disse que não se lembra dessa correspondência e apenas ajudou o amigo Fernando Borges na tentativa de acordo, sem ter mais nada a ver com o assunto. Afirmou que não sabe a qual partido se referia no e-mail. Lembra que a legenda de Fernando e Daniel Nolasco era o PCdoB.

- Não sei, meu bem, até porque o partido deles é o PCdoB. Não tenho contato com o PCdoB. Não tenho contato com partido algum - disse Antônio. - Esse assunto, salvo engano, foi em 2010. Estamos em 2013. Já me desliguei do escritório antigo há mais de três anos. Não me recordo. Não sei de nada.

Na ação que move contra a RCA, Fernando, o sócio oculto da empresa, conta, sem apresentar provas, que Erenice ficaria com R$ 200 do dinheiro de cada casa do MCMV fiscalizada pela RCA. Esse esquema renderia R$ 12 milhões para ela, segundo o denunciante.

- Essa lógica não tem pé nem cabeça, e eu gostaria muito que você me mostrasse isso nos autos. Isso não está nos autos. E ainda que exista essa denúncia, ela é completamente fantasiosa. Não tenho absolutamente nada a ver com isso, a não ser ajudar o Fernando a tentar resolver o assunto dele - contou o irmão de Erenice. - Já fui mais amigo dele. Faz tempo que a gente não se vê.

"Nunca teve depósito da RCA"

Márcio Silva, ex-sócio do escritório Trajano & Silva, disse que foi procurador por Fernando Borges para que o representasse na ação sobre a disputa societária. Afirmou que não pôde atuar no caso por ser especialista em direito eleitoral. Ontem, afirmou desconhecer se o serviço foi feito por Antônio Carvalho. E também negou o repasse de dinheiro relatado por Fernando.

- Nunca participei desse tipo de conversa. Quem cuidou da contabilidade do escritório fui eu por muito tempo. Nunca teve depósito de RCA no mesmo escritório. Necessariamente, teria de passar por mim. Eu emitia as notas fiscais. Nunca teve nenhum tipo de repasse e nem de contratação da RCA - garantiu Márcio Silva.

A Controladoria-Geral da União (CGU) deve começar hoje uma auditoria para apurar supostas irregularidades no Minha Casa Minha Vida, conforme denúncia publicada domingo pelo GLOBO. A investigação foi acertada numa reunião ontem entre os ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, e o secretário-executivo da controladoria, Carlos Higino. A CGU também abrirá uma sindicância com o Ministério das Cidades para apurar se há envolvimento de servidores da instituição nas supostas fraudes.

A CGU deve centrar a investigação em procedimentos e contratos do Minha Casa Minha Vida destinado a moradores de cidades com até 50 mil habitantes, a chamada modalidade pública. Um dos focos da apuração é a RCA, empresa formada por ex-servidores do Ministério das Cidades. Donos da empresa teriam criado empresas de fachada para controlar parte da distribuição do financiamento e dos contratos do programa.

No Senado, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) apresentou requerimento na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) para que o ministro Aguinaldo Ribeiro preste esclarecimentos sobre os fatos. Já o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) quer que o Tribunal de Contas da União (TCU) faça uma auditoria sobre o caso.

- O noticiário de fim de semana trouxe o registro de um vício, que é a utilização do sonho da casa própria, por parte de pessoas inescrupulosas, algumas das quais aninhadas, hoje, ou ainda recentemente aninhadas no governo, para ganhar dinheiro ilicitamente. É um esquema ao mesmo tempo audacioso e grosseiro - acusou Aloysio.

O líder do DEM, José Agripino (RN), sugeriu que o Ministério Público investigue o esquema.

Base governista defende minha casa

Senadores da base governista defenderam o Minha Casa Minha Vida. O líder do governo no Congresso, José Pimentel (PT-CE), afirmou ter ficado "apreensivo" com a denúncia e disse que é preciso responsabilizar os autores da fraude. Mas, segundo o senador, o desenho do programa é "bem feito" e deve ser mantido:

- Fiquei muito apreensivo, até porque precisamos mudar profundamente a cultura empreendedora do Brasil. Temos uma denúncia. Temos de separar essa situação, ir a fundo para responsabilizar as pessoas que fizeram e, com isso, dar continuidade a esse projeto Minha Casa Minha Vida. O desenho é bem feito, tanto é que os vários analistas, independentemente de posição ideológica ou política, disseram e dizem que é um bom desenho. Mas, infelizmente, onde há a atuação humana, há algumas mentes que querem levar vantagem, e o nosso papel é contribuir para que esses espaços deixem de existir. Comungo com a necessidade de separar aqueles que querem ganho fácil daqueles empreendedores que, efetivamente, querem cumprir com o seu papel de empresários, de empreendedores que contribuem para a economia brasileira.

Fonte: O Globo

Para cumprir meta fiscal, governo quer excluir Estados

Com dificuldades para alcançar a meta fiscal, o governo decidiu alterar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e retirar a obrigação do Tesouro de cobrir o que Estados e municípios deixarem de poupar em 2013. A novidade foi incorporada ao projeto de LDO para 2014, enviado ontem ao Congresso. Nele, o governo prevê salário mínimo de R$ 719,48 em 2014, alta de 6%.

Para cumprir meta fiscal, governo quer excluir Estados e municípios do cálculo

Mudança na Lei de Diretrizes Orçamentárias elimina exigência de poupar R$ 47,8 bilhões este ano e R$ 51,2 bilhões no ano que vem

Renata Veríssimo, Laís Megrettil

BRASÍLIA - Com dificuldades para alcançar a meta de economia fiscal neste ano, o governo decidiu alterar a Dei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e retirar a obrigação do Tesouro de cobrir o que Estados e municípios deixarem de poupar em 2013 no chamado superávit primário. A novidade foi incorporada também ao Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2014, enviado ontem ao Congresso Nacional. Na prática, isso liberta o governo de mais uma obrigação fiscal.

Assim, oficialmente, a meta deste ano para o setor público como um todo continua em R$ 155,9 bilhões, mas os R$ 47,8 bilhões de Estados e municípios não estão garantidos. O governo fixou em R$ 167,4 bilhões a meta de superávit para 2014, sendo R$ 51,2 bilhões para governadores e prefeitos.

O governo tem resistido em alterar a meta, em 3,1% do PIB ao ano, mas ao mesmo tempo cria mecanismo a que, na prática, permitem um valor mais baixo. Para este ano, o Tesouro poderá abater da meta até R$ 65 bilhões em investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e de renúncia fiscal com novas desonerações tributárias. Para 2014, esse valor sobe para R$ 67 bilhões.

Usado pelo governo para pagamento dos juros da dívida pública, o superávit primário representa também o compromisso do governo com uma política responsável dos gastos públicos.

Coerência. "Não estamos dizendo que a meta (dos Estados e municípios) vai ser abatida. Estamos dizendo que a LDO permite que isso ocorra. Se vai ser feito ou não, isso vai ser definido ao longo de 2014", disse o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin. Segundo ele, trata-sé ; de uma questão de coerência macroeconômica. Desde o fim de 2011, o governo federal tem liberado espaço fiscal para que os governadores possam contratar empréstimos para financiar obras de infraestrutura.

No ano passado, o Tesouro foi obrigado a realizar várias manobras fiscais e antecipar o recebimento de dividendos das empresas estatais para conseguir atingir a meta e cobrir um rombo de R$ 21,5 bilhões deixado pelos Estados. Isso porque os abatimentos do PAC não foram suficientes para garantir o cumprimento da meta fiscal.

Este ano, como mostrou o Estado na edição de domingo, as contas preliminares do Ministério da Fazenda mostram que os descontos ainda não são suficientes para fechar a conta. Para 2013, a equipe econômica já havia aumentado a possibilidade de abatimento, incluindo as desonerações tributárias.
Augustin disse que é contra a : redução da meta. "O abatimento de meta é condicionado ao tipo de despesas, ou de desoneração, que gerou essa necessidade de abatimento. É necessário manter esse patamar de 3,1% do PIB, porque em muitos momentos pode até ser ultrapassado."

Crescimento. Para elaboração do LDO 2014, o governo estimou um crescimento da economia de ; 4,5% no próximo ano, após 3,5% este ano. "O governo estima que no ano que vem vamos ter processo de crescimento importante, assim como ao longo deste ano. O crescimento deve continuar a ter um quadro de melhoria", disse Augustin.

A equipe econômica, no entanto, preferiu não fazer estimativa para a inflação em 2014. Considerou o centro da meta de inflação, de 4,5%, para fechar o projeto de lei. Estimou, porém, que o IPCA fechará este ano em 5,2%.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Governo afrouxa controle sobre gastos públicos

Gustavo Patu

BRASÍLIA - A dois dias da definição da nova taxa de juros do Banco Central, o governo abriu caminho para um afrouxamento sem precedentes da política de controle de gastos públicos adotada desde 1999.

Segundo regras propostas ontem pela Fazenda e pelo Planejamento, as metas fiscais deste ano e do próximo -de eleições para presidente e governadores- poderão ser reduzidas em algo como 70%.

Dito de outra maneira, se todas as antigas e novas brechas legais forem utilizadas, o saldo obrigatório das contas federais, estaduais e municipais cairá de 3,1% para o equivalente a 0,9% do PIB.

Numa hipótese extrema, os números podem cair ainda mais se, somados, os governos regionais passarem a gastar mais do que arrecadam -o que não acontece há 15 anos, mas não é impossível.

O cumprimento integral da meta tem sido citado nos documentos do BC como variável-chave para o controle do consumo e da inflação e, consequentemente, para a decisão de quando e em quanto elevar os juros. Em tese, quanto menos controle e menos economia, maior a necessidade de elevar a taxa.

As metas foram descumpridas em três dos últimos quatro anos, mas sem ficar abaixo dos 2% do PIB.

A principal inovação agora é o fim da obrigação do governo federal de garantir números projetados para Estados e municípios, o que possibilita gastar até R$ 47 bilhões mais já durante este ano.

Até então, se o desempenho dos governos regionais ficasse abaixo do previsto, a União teria de compensar a diferença com um aperto adicional em suas contas, assegurando a meta total.

Infraestrutura

Em janeiro, a Folha antecipou que a mudança estava em estudo no governo. A medida, agora submetida ao Congresso, tenta incentivar os investimentos em infraestrutura dos Estados, que têm recebido recursos do BNDES.

Conforme a Folha noticiou, a expansão dos gastos em 2012 já resultou no menor superavit primário --a parcela do Orçamento poupada para o abatimento da dívida pública- estadual desde 1999.

Segundo o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, não está definido se a brecha será usada e em que proporções: tudo dependerá da necessidade de estímulo da economia. "Se for necessário, é importante haver essa possibilidade", disse, com ênfase na última palavra.

As possibilidades são mais amplas. Em 2014, o governo federal poderá reduzir seu superavit em até R$ 67 bilhões, referentes ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e a desonerações.

Incluída no projeto de LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), a norma não especifica como o número deve ser calculado. Ou seja, o abatimento pode se basear em estimativas do montante das desonerações, sem a prometida expansão do investimento.

Embora os resultados das contas públicas tenham se tornado praticamente imprevisíveis, Augustin defendeu a permanência das metas oficiais como forma de sinalizar que as ampliações de gastos privilegiam o investimento, e não o custeio.



Fonte: Folha de S. Paulo

Dilma prioriza agenda de eventos de olho em 2014

A disputa pelo Palácio do Planalto ocupou a agenda da presidente Dilma Rousseff nos últimos dias. Ela intensificou os contatos políticos, participou de gravação no programa partidário do PT e ontem desembarcou no reduto eleitoral do provável adversário em 2014, o senador tucano Aécio Neves.

Dilma grava programa de TV do PT e prioriza projeto reeleitoral na agenda

Tânia Monteiro, João Domingos

BRASÍLIA - A disputa pelo Palácio do Planalto tomou conta da agenda da presidente Dilma Rousseff nos últimos dias: a petista intensificou os contatos políticos gravou sua participação no programa partidário do PT e desembarcou no reduto eleitoral de seu provável adversário na sucessão de 2014 o senador tucano Aécio Neves.

Dilma vai estrelar o programa eleitoral do PT que vai ao ar no dia 9 de maio e cujas inserções começarão a ser veiculadas na TV e no rádio no dia 27 deste mês. Ela gravou ontem pela manhã durante mais de uma hora, num estúdio localizado a cerca de dez km do Palácio do Planalto.

Os programas ainda vão passar por edição e deverão ser submetidos ao crivo da própria presidente. Mas, segundo petistas, o tema deverá girar em torno do combate à miséria - que Dilma promete pôr um fim em seu mandato e os pacotes de bondade, a exemplo da redução nas tarifas de energia elétrica e da isenção de impostos federais nos produtos da cesta básica. As duas últimas medidas foram anunciadas pela presidente em cadeia nacional de rádio e TV neste ano.

Dos três pré-candidatos à Presidência no ano que vem, Dilma será a segunda a aparecer nos programas de rádio e TV. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, provável candidato do PSB, já está no ar com as primeiras inserções - dez delas irão ao ar hoje e mais dez no dia 18, terminando com o programa de dez minutos no dia 25. Dilma aparece a partir do final deste mês e Aécio, a partir de maio.

Despiste. Apesar de a agenda da presidente registrar para todo o dia de ontem, a princípio, apenas despachos internos, sem dizer onde e a que horas, Dilma dedicou boa parte da manhã para as gravações. Ela deixou o Palácio da Alvorada por volta das 10 horas, em um carro descaracterizado, sem qualquer referência à Presidência da República.

Normalmente seu carro tem uma placa verde e amarela e ostenta a bandeira presidencial A presidente foi ao estúdio acompanhada de pelo menos quatro carros de segurança. A gravação estava programada para domingo. Mas a presidente acabou retornando apenas 110 meio da tarde para Brasília. É que depois de decolar de Porto Alegre, onde passou o fim de semana, Dilma fez um pouso em São Paulo, onde se reuniu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No início do ano, após um encontro entre ambos, a presidente mudou seu estilo quase sempre contido e passou a fazer discursos políticos mais fortes.

Em fevereiro, Lula lançou a pré-candidatura de Dilma ao Planalto e afirmou que sua reeleição seria uma resposta aos adversários. Naquele mesmo dia, Aécio havia subido à tribuna do Senado para elencar o que chamou de "os 13 fracassos" do PT durante os dez anos do partido no comando do Palácio do Planalto.

No mesmo dia, a presidente fez um discurso no qual afirmou que o PT "não herdou nada" dos tucanos, que administraram o País entre 1995 e 2002. "Nós construímos", afirmou Dilma.

Lula e Dilma participaram ontem à noite de um seminário organizado pelo PT em Belo Horizonte. E o terceiro seminário que o partido realiza a fim de discutir os dez anos de experiência no governo federal. Após o seminário mineiro, Dilma, que nasceu em Belo Horizonte, também deve participar no evento marcado para Porto Alegre, capital do Estado onde se radicou politicamente.

O seminário de ontem foi aberto pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que falou sobre o ensino no País e exaltou a sua própria gestão. Estavam presentes, além do presidente nacional do PT, Rui Falcão, líderes locais como o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel? que pretende disputar o governo mineiro no ano que vem, e o ex-prefeito de Belo Horizonte Patrus Ananias.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Dilma ataca governo de FHC e a oposição

Dilma no contra-ataque

Em seminário do PT em BH, presidente rebate críticas dos pessimistas especializados da oposição, garante que a inflação está sob controle e cita investimentos no estado

Juliana Cipriani, Marcelo da Fonseca, Alessandra Mello e Bertha Maakaroun

Entre os principais líderes nacionais e estaduais do PT reunidos na capital mineira, a presidente Dilma Rousseff aproveitou a celebração de 10 anos do partido no governo federal para rebater críticas da oposição ligadas ao cenário econômico e reafirmar compromissos para os próximos anos. Em tom de campanha, Dilma citou o controle da inflação como uma conquista do período em que a legenda esteve no poder e criticou os "pessimistas" que, segundo ela, tentam criar um ambiente de desequilíbrio no país. No reduto do seu potencial adversário na sucessão de 2014, o senador Aécio Neves (PSDB), a presidente citou os principais investimentos da União para obras em Minas Gerais, garantindo a duplicação da BR- 381 para o início do próximo semestre.

Aguardada por mais de mil militantes no Minascentro, Dilma correspondeu às expectativas e enalteceu a década em que o PT esteve no Palácio do Planalto. Segundo ela, o partido varreu marcas de um passado desigual. "Um passado que tinha uma característica básica, que era não incluir todo mundo, achar que podia ter desenvolvimento sem todo mundo ganhar, que poderíamos ter um país forte com um povo fraco", disse.

Aos críticos de seu governo, que ela chamou de "pessimistas especializados", Dilma disse que ela e seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enfrentaram crises mundiais e mantiveram o ritmo de crescimento do país. A petista citou as previsões de apagão feitas no início do ano pelos adversários e que não se confirmaram como exemplo. A inflação, segundo Dilma, está sob controle e o governo não fará concessões e continuará combatendo a alta de preços. A petista afirmou que seus opositores querem transformar todos os alimentos em tomate (produto que teve alta de 122% em 12 meses, de acordo com o IPCA), mas os preços já começaram a cair. Dilma disse que, nos últimos 9 meses, a meta foi seguida. "O controle da inflação é uma conquista desses 10 anos, por isso não abriremos mão dele", avaliou.

Dilma disse que é uma otimista por pragmatismo. "Sou otimista em relação ao Brasil e à economia porque trabalho todo santo dia para que isso ocorra. Quero dizer que aprendi isso na minha casa, mas tive também um professor muito bom, que era o presidente Lula, ele fazia a mesma coisa", elogiou. A presidente afirmou que o país pode cuidar da inflação gerando emprego e renda e alfinetou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), dizendo que sua gestão deu aos brasileiros direitos nunca garantidos pelos governos "conservadores". "Aquele país que produzia miseráveis, desempregados e gente sem esperança ficou para trás", afirmou.

Ao lado de Lula, dirigentes do PT e de 15 partidos aliados, além de ministros e ex-ministros, Dilma afirmou que o antecessor inaugurou e ela continuou uma prática democrática de governo, não negando recursos a nenhum estado ou município, independentemente do partido. Ela lembrou que para Minas Gerais já estão garantidos os recursos para revitalização do Anel Rodoviário e expansão do metrô da capital e duplicação da BR-381, cujas obras, garantiu, começarão "já no início do segundo semestre".

Se Lula e Dilma evitaram críticas diretas ao senador Aécio Neves, coube ao presidente nacional do PT, Rui Falcão, citar o mineiro, que anteontem afirmou que dará férias aos petistas no poder. "Um senador mineiro disse até que vai mandar o PT sair de férias. Senador, goze suas férias e deixe a Dilma trabalhar", afirmou, remetendo ao bordão que embalou a campanha de Lula à reeleição em 2006. Enquanto falava da antecipação da campanha eleitoral de 2014, Falcão alfinetou o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que tem se colocado como pré-candidato à sucessão de Dilma. "Há quem diga que é possível fazer mais. São nossos adversários que sempre fizeram menos. Há até aliados que atuam conosco que também pensam assim. Mas é preciso saber para quem e com quem é possível fazer mais", disparou.

Fonte: Estado de Minas

Dilma vai a evento do PT com Lula e defende manutenção da aliança

Ex-presidente prega continuidade petista no poder; hoje, Campos encontra senadores da base e independentes

BELO HORIZONTE - De olho na disputa eleitoral do ano que vem, a presidente Dilma Rousseff (PT) e seu padrinho político, o ex-presidente Lula, participaram juntos, ontem à noite, de um evento promovido pelo PT de Minas para exaltar os dez anos do partido no Palácio do Planalto. Diante de líderes de 15 partidos, inclusive o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, Dilma defendeu a política de coalizão de partidos no governo.

A presidente Dilma afirmou que, analisada a História recente, o país vive sua melhor década desde a posse de Lula em 2003.

- Nós somos responsáveis por uma década de muitos avanços. Muitas pessoas viveram esses dez anos, mas ainda vão colher os frutos dos avanços. Esses dez anos foram compartilhados com as alianças partidárias. Esse país é muito diverso. Para ser governado, foi criada uma aliança partidária. Nesses dez anos o governo olhou para o povo brasileiro, do pequeno agricultor ao empresário. Somos contra a discriminação de raça, respeitamos as opções sexuais. Sem falsa modéstia, foi a melhor década da História recente do país - disse a presidente Dilma.

"Dez anos é pouco"

Lula discursou antes de Dilma. Para cerca de mil pessoas, ele adotou tom contundente em prol da continuidade do PT no poder. Sem citar o nome do tucano Aécio Neves, Lula afirmou que em Minas alguns programas do governo federal "mudaram de nome", para ficar parecendo que foram criados pelos tucanos. Afirmou ainda que políticos em Minas usaram empresa pública para fazer parte de sua política:

- Dez anos é muito pouco para uma nação. Já fizemos muito, mas acho que é possível fazer mais. À medida que a gente vai governando, os obstáculos são vencidos. Quem é melhor que a presidente Dilma? Quem tem compromisso histórico com o povo mais que a presidente Dilma?

Dilma retribuiu prontamente o elogio:

- O presidente Lula é um gênio da comunicação. Ele fala com a razão e com o coração. É meu professor.

Lula disse estar tranquilo com a proximidade da eleição presidencial. O petista já faz planos para 2018:

- Nunca tivemos motivos e razões para ter tanta tranquilidade como agora. Não esperem que os nossos adversários reconheçam mérito. É nós que temos que reconhecer. Sou muito agradecido aos companheiros dos partidos que estão nos apoiando.

Hoje, Dilma entrega casas do Minha Casa Minha Vida, em Minas. Com a ausência dela de Brasília, Eduardo Campos desembarca hoje na capital para almoçar com o bloco PTB-PR-PSC, composto por 14 senadores, e jantar com nove senadores do chamado grupo independente de PMDB, PDT, PP e DEM, na casa do senador Jarbas Vasconcelos. O almoço para Campos acontece no momento em que há descontentamento de integrantes do PTB com Dilma.

Fonte: O Globo

Câmara vota hoje limites para novos partidos

Projeto retira direito a Fundo Partidário e a tempo de TV

Isabel Braga e Maria Lima

BRASÍLIA - Os maiores partidos, com o apoio do Palácio do Planalto, tentarão votar hoje, na Câmara, o projeto que limita direitos dos novos partidos ao Fundo Partidário e ao tempo de propaganda no rádio e na TV. O requerimento para a votação, em regime de urgência, está na pauta da reunião extraordinária convocada para a noite de hoje, e os líderes avisam que, desta vez, haverá articulação para aprovar o requerimento e, em seguida, votar o mérito. A ideia é aprovar a proposta hoje na Câmara e enviá-la ao Senado, para votação ainda amanhã.

Cientes de que é muito difícil evitar a aprovação desse projeto, o PPS e o PMN realizam suas convenções entre hoje e amanhã, formalizando a fusão e a criação de uma nova legenda, que abre uma janela para a migração, sem perda de mandatos, de deputados insatisfeitos em seus atuais partidos. Ontem, a Rede, sigla que está sendo criada pela ex-senadora Marina Silva, criticou, por meio de nota, o empenho do governo em aprovar a proposta. Argumenta que o interesse é o de eliminar "de forma casuística quem ameaça a reeleição do governo" e que é "um golpe contra a democracia para inibir o fortalecimento e a estruturação legítima de novas forças políticas".

De olho em eventual apoio à candidatura presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), o PSB ajudou o PPS a impedir a votação do projeto semana passada, mas agora reconhece as dificuldades.

- Na semana passada, conseguimos segurar o tratoraço, mas desta vez, infelizmente, é provável que consigam atropelar - afirmou o líder do PSB, Beto Albuquerque (RS).

Fonte: O Globo

Rede e PPS chamam de 'golpe' restrição a criação de partidos

Políticos que pretendem criar partidos reagiram ontem ao apoio do governo ao projeto de lei que quer restringir o acesso de novas legendas ao Fundo Partidário e ao tempo de rádio e televisão no horário eleitoral gratuito.

Projeto do deputado Edinho Araújo (PMDB-SP) proíbe novos partidos de receber dinheiro do fundo e de ter o tempo de TV e rádio durante a legislatura em que surgirem, o que tornaria praticamente inviável o lançamento de candidatos por novas legendas em 2014. A urgência para votação do projeto pode ser aprovada hoje, com o apoio do Planalto.

Ontem, a Rede Sustentabilidade, projeto de nova sigla da ex-senadora Marina Silva, emitiu uma nota na qual acusa o governo de a "golpe contra a democracia" ao apoiar a proposta de Araújo: "É um golpe contra a democracia para inibir o fortalecimento e a estruturação legítima de novas forças políticas, como a Rede Sustentabilidade". De acordo com a Rede, o governo quer apenas proteger seus próprios interesses" e "usa o poder para eliminar de forma casuística quem ameaça a reeleição" da presidente Dilma Rousseff, em 2014.

O PPS e o PMN, que realizam amanhã, em Brasília, congresso extraordinário conjunto para finalizar o processo de fusão, anteciparam a decisão de se unir depois do projeto de Araújo.

Para o deputado Roberto Freire (SP), presidente do PPS e futuro presidente do novo partido,

"a proposta que cria dificuldades para os novos partidos é um ato de violência que vem sendo patrocinado pelo governo".

Além do partido que surgirá da fusão do PPS com o PMN, os alvos do governo, segundo Freire, seriam a Rede e o Solidariedade, do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP). Marina está longe de alcançar as assinaturas necessárias para registrar o seu partido. Nesse caso, mesmo com os apoios para a formação da Rede, sua candidatura ficaria inviabilizada, porque não disporia de tempo na TV na campanha.

Para o autor da proposta, Edinho Araújo, "os partidos só devem ter o tempo de TV, de rádio e o fundo partidário após passar pelas eleições". Não foi o que ocorreu com o PSD de Gilberto Kassab. Criado há dois anos, o partido foi autorizado pelo TSE a contar com o tempo de TV e com o dinheiro do fundo partidário.

Da fusão PPS-PMN surgirá o Mobilização Democrática, que adotará o número 33 e fará oposição ao governo. Juntos, os dois partidos têm 13 deputados (dez do PPS e três do PMN). A ideia é conquistar sete adesões no PSDB, PDT, PSD e PSC, o que aumentaria o tempo de TV na campanha de 32 segundos diários para cerca de 50 segundos. / Julia Duailibi e J.D.

Fusão do PPS com o PMN

13 deputados terá o novo partido, se a adesão for total.
33 será o número da nova legenda.
32 segundos tem hoje a sigla na TV

Fonte: O Estado de S. Paulo

Novo partido deve apoiar Campos, afirma dirigente

Para presidente do PPS, gesto marcará reencontro da 'esquerda democrática'

Adesão a governador afastaria possibilidade de a fusão PPS-PMN ser usada para que Serra dispute o Planalto

Márcio Falcão, Catia seabra, Fernanda Odilla

BRASÍLIA - O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, disse ontem que o novo partido que resultará da fusão com PMN deverá apoiar a candidatura do governador Eduardo Campos (PSB-PE) à Presidência.

Um dos principais articuladores da criação do Mobilização Democrática --nome que deve ser dado à nova legenda--, Freire descartou rumores de que a fusão servirá para que o ex-governador de São Paulo José Serra deixe o PSDB e dispute pela terceira vez o Palácio do Planalto.

A fusão entre PPS e PMN deve ser formalizada amanhã. "No partido, há uma tendência majoritária [de ingressar] na campanha do Eduardo Campos", disse Freire.

"O partido vê nisso uma oportunidade de um reencontro permanente da esquerda democrática, caracterizado com a candidatura do Eduardo", completou.

Freire disse que ele fez um convite a Serra sem compromisso com a corrida ao Planalto, mas que ainda não recebeu resposta. "Não é para Presidência, ele sabe. A vinda não é para candidatura à Presidência, mas como uma grande liderança em apoio ao Eduardo Campos".

Aliados dão como reais as chances de embarque do tucano no novo partido diante de seu desgaste no PSDB, que deve lançar como candidato à Presidência em 2014 o senador mineiro Aécio Neves, rival de Serra na disputa interna de poder na legenda.

Esses aliados admitem que ele foi alertado que faria parte de um projeto de oposição, não necessariamente liderando o movimento. O tucano consulta seus principais colaboradores sobre o projeto.

Caso queira disputar as eleições de 2014 pela nova sigla, Serra tem até o início de outubro --um ano antes das eleições--para se filiar a ela.

Mas seu prazo político é 19 de maio, data da convenção que escolherá Aécio presidente do PSDB. Na avaliação de aliados, Serra não poderá erguer os braços de Aécio caso deseje mudar de sigla.

Ainda segundo serristas, o ex-governador de São Paulo sabe que, hoje, não há espaço no novo PPS para que ele concorra à Presidência. Mas sente-se asfixiado no PSDB.

Golpe

A aliança entre PPS e PMN foi acelerada após uma manobra sem sucesso orquestrada por PT e PMDB para dar prioridade na Câmara dos Deputados à tramitação do projeto que restringe a criação de partidos.

O projeto conta com aval do governo, mas o Planalto teme atrair a imagem de antidemocrático, uma vez que a proposta prejudica potenciais adversários à reeleição de Dilma Rousseff, como a ex-ministra Marina Silva, que tenta criar sua legenda.

Ontem os apoiadores de Marina divulgaram nota classificando o projeto de "golpe". "É um golpe contra a democracia para inibir o fortalecimento e a estruturação legítima de novas forças políticas."

Fonte: Folha de S. Paulo

Janela aberta para traições

Fusão entre PPS e PMN pode viabilizar troca-troca de parlamentares e dar mais um aliado a Eduardo Campos

Paulo de Tarso Lyra

A fusão do PPS com o PMN, que será formalizada amanhã de manhã, abre a possibilidade de um novo apoio à pré-candidatura presidencial de Eduardo Campos (PSB). A simples reunião das duas legendas vai contar com uma bancada de 13 parlamentares, mas a expectativa é que esse número possa chegar a algo entre 20 e 30 deputados. Campos e o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), conversaram intensamente nos últimos meses. Freire não esconde a admiração pelo governador de Pernambuco. "Poderia dizer que hoje, majoritariamente, a nossa tendência seria apoiar Eduardo. Mas, evidentemente, precisamos ouvir os companheiros da nova legenda e esperar para saber se ele (Eduardo) será, de fato, candidato à Presidência", declarou Freire, ao Correio.

Outra dúvida em torno da criação do futuro partido é se parlamentares de outras agremiações poderão aderir à legenda sem perder os respectivos mandatos por descumprimento à lei da fidelidade partidária. "Nessas situações (fusões ou incorporações), a porteira só abre para fora, não abre para dentro", disse o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz. "Os insatisfeitos podem sair, mas quem quiser deixar a atual legenda para migrar para o novo partido poderá ter o seu mandato questionado na Justiça", completou. A preocupação de Queiroz é concreta: a estimativa é que 15 dos 48 deputados pessedistas possam mudar de partido.

Freire rebate essa interpretação. Para ele, nos casos em que há uma fusão partidária, um novo partido é criado. Por isso, valem as regras que norteiam a criação de uma agremiação política. "Não vou falar de adesões porque isso depende da consciência de cada um. Mas o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já definiram essa questão. A conclusão é a mesma, basta seguir a lei", assegurou Freire.

Pela legislação atual, quando uma legenda é criada, abre-se uma janela de 30 dias para a adesão de novos parlamentares, de acordo com as regras definidas pelo TSE. O Tribunal também entende que o processo de fusão cria um novo partido.

Do ponto de vista político, a movimentação do PSB de Eduardo Campos para ajudar o PPS a se fundir com o PMN foi intensa. Várias reuniões entre ele e Freire ocorreram nos últimos meses, não apenas para discutir a formação do novo partido como, também, para avaliar a viabilidade da candidatura presidencial do governador pernambucano. "Ele está se preparando para isso. E tudo fica mais fácil diante dos ataques ferozes feitos pelos lulopetistas nas redes sociais. Eles foram liberados para atacar Eduardo com firmeza", criticou Freire.

Os socialistas reconhecem que veem com bons olhos movimentações como essa, que levou à fusão do PPS com o PMN. "Quando dois partidos se unem para criar um terceiro, eles ganham consistência e força política, o que, na nossa opinião, é bom", confirmou o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira. Ele lembrou que o partido de Eduardo Campos auxiliou na criação do PSD, a partir da movimentação de prefeitos e governadores ligados ao partido. E ainda tem ajudado na formação de estruturas físicas capazes de coletar as assinaturas para a formação da Rede Sustentabilidade, nova agremiação partidária que será presidida por Marina Silva.

Segundo apurou o Correio, do novo partido que surgirá da união PPS-PMN pode sair a indicação do candidato a vice-presidente na chapa de Eduardo Campos. O governador, no entanto, mantém a conversa com outros partidos para ampliar sua base de apoio político. Hoje, ele tem dois compromissos na capital federal. Almoça com o senador Armando Monteiro (PTB-PE), um dos entusiastas da candidatura presidencial do PSB — em troca de um possível apoio para concorrer ao governo de Pernambuco no ano que vem.

À noite, o presidenciável pernambucano janta com dissidentes do PMDB, em um encontro promovido pelo senador Jarbas Vasconcelos (PE). Jarbas já tinha oferecido o tradicional cozido ao governador pernambucano no mês passado. Campos também aproveitou a participação em um comissão do Senado, em março, para visitar o senador Pedro Simon (PMDB-RS). "Esse rapaz tem muito potencial", elogiou o veterano parlamentar gaúcho.

"Os insatisfeitos podem sair, mas quem quiser deixar a atual legenda para migrar para o novo partido poderá ter o seu mandato questionado na Justiça" (Saulo Queiroz, secretário-geral do PSD)

Fonte: Correio Braziliense

Criação de novas legendas expõe a falência do modelo político-partidário - Fernando Rodrigues

Há duas leituras principais sobre a fusão entre PPS e PMN. A primeira diz respeito ao cotidiano da política. A oposição precisa mais aglutinar apoios. Um novo partido ajuda a cooptar deputados insatisfeitos dentro do condomínio governista.

A outra observação refere-se à macropolítica. Esse tipo de fusão, tal como a criação do PSD, expõe a falência do sistema político-partidário. As novas siglas indicam que não há limites para a proliferação de legendas. O manejo das forças dentro do Congresso torna-se cada vez mais difícil.

Há 24 partidos representados no Legislativo. É um recorde. Não por acaso, Dilma tem o maior número de ministérios da história, 39, que serão insuficientes se o número de siglas continuar a crescer. Todos querem uma vaga na Esplanada em troca de apoiar o Planalto.

A criação do PSD e a fusão PPS-PMN se beneficiam de brecha na lei. Políticos com mandato não podem trocar de partido. Perdem seus cargos. Descobriu-se uma exceção: quando uma sigla é criada (do zero ou da fusão de legendas), o troca-troca é legal.

Um grupo de cinco ou dez deputados insatisfeitos pode coletar 500 mil assinaturas e fazer uma sigla nova. Ganha-se dinheiro do Fundo Partidário e tempo no rádio e na TV.

Há uma tentativa de fechar essa fresta legal. Como nem todos os novos partidos são aventureiros, será casuísmo contra determinados grupos. Só que não fazer nada produzirá uma fragmentação inaudita na política brasileira.

Tudo considerado, é mínima a perspectiva de melhora do modelo.

Fonte: Folha de S. Paulo

Fusão versus criação - Denise Rothenburg

Governistas tentam colocar mais polêmica na união do PPS com o PMN, ao dizer que a junção só abre a porta de saída e não a de entrada ao partido resultante

A decisão de antecipar a fusão entre PPS e PMN trouxe mais lenha à fogueira política em torno dos partidos que formam a base do governo e a oposição. Nos bastidores, políticos e advogados começam a semear algumas análises e interpretações que podem coibir uma migração para a resultante das duas agremiações. A polêmica vai ser grande e recheada de argumentos de um lado e de outro.

Uma das dúvidas foi levantada por um dos advogados do PSD, Admar Gonzaga, mentor da ação na qual o partido do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab conquistou o direito a fundo partidário e tempo de tevê. Admar lembra da resposta da ministra Nancy Andrighi à consulta 75535, feita pelo ex-líder do PSD, Guilherme Campos (SP). Ali, ficam claras as diferenças entre criação e fusão de partidos, embora, na avaliação de muitos, não sirva para clarear todo o cenário.

Pode ser que seja preciosismo do advogado. Mas a discussão virá e não vai demorar, uma vez que, no último sábado, PPS e PMN acertaram a fusão para esta quarta-feira, 17 de abril. Gonzaga está convicto de que, quem migrar para a nova legenda, que não venha do PPS e nem do PMN, estará sob o risco de sofrer um processo de perda de mandato. O PPS acha que não.

O raciocínio de Admar Gonzaga considera que só participarão da formatação do novo partido aqueles parlamentares que estiverem filiados ao PPS e ao PMN. Afinal, a fusão não requer listas com assinaturas de eleitores. Apenas convenções partidárias autorizando a união. Ou seja, não existe nada externo nesse processo.

A resolução 22.610 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de março de 2008, considera justa causa para desfiliação partidária criação ou fusão de partido, mas não fala em filiação. Portanto, no entendimento de Gonzaga, a fusão abre apenas a porta de saída. Ou seja, a resultante não pode ir aos tribunais pedir o mandato daquele que não gostou da fusão. Mas um outro partido qualquer pode perfeitamente ingressar na Justiça para reclamar o mandato daquele que se encantou com a fusão de duas outras agremiações.

Para o PPS, a fusão, entretanto, é algo tão novo quanto um partido recém-criado, fresquinho, que tenha surgido do nada — tal e qual o PSD ou a Rede de Marina Silva ou o partido de Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical. O PPS considera que o partido criado a partir da fusão deverá ter um novo estatuto aprovado pelo TSE. Portanto, a partir da aprovação, haveria 30 dias para filiações por justa causa, ou seja, sem que o parlamentar esteja sujeito a perda do mandato. Afinal, é assim que funciona para um novo partido.

Os argumentos estão aí e essa polêmica estará presente hoje e amanhã, quando PPS e PMN casam-se às pressas, tudo para escapar da manobra dos aliados do governo Dilma Rousseff para evitar que novas agremiações ganhem tempo de tevê e fundo partidário. Essa história, certamente, vai parar no Tribunal Superior Eleitoral. E como ministro só fala nos autos, o jeito é aguardar.

Enquanto isso, nos celeiros dos votos...

Dilma não perde os seminários do PT onde precisa de votos, leia-se o de São Paulo e o de ontem, em Belo Horizonte, a capital mineira, onde os eventos se propagam às regiões do estado que concentra o segundo maior colégio eleitoral do Brasil. O PT sabe que, ali, ninguém tira o favoritismo de Aécio Neves, ex-governador. Por isso, qualquer pontinho conquistado agora, é considerado lucro.

E na Venezuela...

O presidente eleito, Nicolas Maduro, tem agora a tarefa de apresentar o programa de governo que ficou devendo na campanha, focada basicamente na imagem do falecido Hugo Chávez. Agora, o velório e o luto devem dar lugar ao serviço. E olha que Maduro, depois da vitória apertada, começa com oposição por todos os lados, inclusive dentro do núcleo do chavismo. Não deverá ser fácil governar o país com oposição forte e fogo amigo. Mas essa é outra história.

Fonte: Correio Braziliense

Governo aperta cerco a Eduardo Campos - Raymundo Costa

Lula fará campanha em Pernambuco pela reeleição de Dilma Rousseff, se o governador Eduardo Campos efetivamente for candidato a presidente pelo PSB. O PT também resolveu incluir o Recife no roteiro dos seminários em comemoração aos dez anos do partido no governo, cidade que estava fora do plano original. À medida que avança o calendário eleitoral, a campanha adquire os contornos da dura disputa a ocorrer em 2014, como demonstram as estocadas entre os possíveis adversários.

PT e o governo planejam uma razia sobre as forças de Campos. À exceção da nomeação de um ministro do PSD, provavelmente Guilherme Afif, o governo já deu por concluído o ajuste na base governista. Mudanças, a partir de agora, só para tirar o PSB de Eduardo Campos ou devido à saída dos ministros que concorrerão para governador ou senador às eleições de outubro.

A mudança cogitada é no Ministério da Integração Nacional, se ficar bem claro que Eduardo Campos é candidato à sucessão de Dilma Rousseff. O PT e governo estão em formação de ataque. Os falcões defendem que não se deve esperar até março, mais ou menos o prazo fixado por Campos, para saber o que ele vai fazer. Até porque, enquanto isso, continua criando fatos políticos e arregimentando aliados.

Lula fará campanha contra Campos até em Pernambuco

É questão prioritária na mesa em torno da qual o governo passou a traçar sua estratégia política, em reuniões entre Dilma Rousseff, Lula, Rui Falcão, o agora onipresente Aloizio Mercadante, ministro da Educação, realizadas periodicamente em São Paulo. Campos preocupa mais que reconhecem o governo e o PT: ao lado de dois ou três candidatos à cadeira de Dilma, como Aécio Neves, Marina Silva e José Serra, o governador de Pernambuco pode passar para o segundo turno.

No segundo giro, a chance de Campos levar a maioria dos eleitores de Aécio Neves e de Marina Silva seria bem maior que de Aécio Neves ficar com o butim do governador de Pernambuco, segundo tese difundida entre os congressistas. O problema de Campos é passar para o segundo turno, terreno dominado pelo PSDB nas três últimas eleições presidenciais. Campos é um risco e será tratado como tal por seus antigos aliados.

Recentemente, o governador assinou uma parceria público-privada (PPP) para investimento de R$ 4,5 bilhões em saneamento, no Estado de Pernambuco, projeto capaz de atender 3,7 milhões de pessoas por meio da instalação e recuperação de 9 mil km de redes de esgoto, num prazo de 12 anos. A história é conhecida, mas vale a pena lembrá-la para mostrar que o diapasão usado para afinar os instrumentos eleitorais de Dilma e Campos já não é o mesmo e que o governador está fazendo política, enquanto há no PT quem ainda julgue possível algum tipo de acordo.

Nas palavras de um integrante do novo núcleo político do governo, "ele [Campos] peitou aqui [Dilma], queria que ela desse desoneração para empresa de saneamento, mas a presidenta falou "não, se é para desonerar eu vou desonerar na tarifa, não da empresa, vamos dar desconto para o consumidor".

No jogo da sucessão, o governo parece mais próximo de cooptar o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, uma indicação de Eduardo Campos, que o governador de Pernambuco de assegurar sua lealdade. Coelho, pré-candidato ao governo de Pernambuco, tenta criar um nicho próprio e trafegar com autonomia em relação ao padrinho político. Campos, tudo indica, tem outros planos para a própria sucessão, que vão de um secretário de Estado ao senador Armando Monteiro, útil só à medida que puder conseguir o tempo do PTB no horário eleitoral para o candidato do PSB.

O PT que pressiona pela saída de Fernando Bezerra argumenta que o ministro é ruim de voto, tendo, inclusive, perdido a eleição para prefeito do município de Petrolina, na divisa com a Bahia, disputada por um de seus filhos.

"Então, uma mudança do ministério que pode ter é essa, inclusive com deslocamentos de segundo escalão muito poderosos, porque ele tem uma máquina muito grande no Nordeste, a capilaridade do Ministério da Integração Nacional é grande em toda a região", diz o integrante do núcleo que hoje pensa estrategicamente a política eleitoral de um governo inteiramente enredado no projeto de manutenção do PT no Palácio do Planalto.

As outras mudanças ministeriais, salvo acidentes de percurso, são aquelas decorrentes da saída dos ministros que vão concorrer à eleição. Pode ser um pouco antes do prazo de desincompatibilização, se isso for considerado conveniente para a campanha do candidato.

Gleisi Hoffmann (Casa Civil), assim como Ideli Salvatti (Relações Institucionais), se for candidata ao Senado. Gleisi é a melhor candidata que o PT tem no Paraná. Beto Richa ganhou o apoio do PMDB do senador Roberto Requião e é forte. O PT considera ideal uma chapa que tenha Osmar Dias (PDT) no Senado e Gleisi para o governo. Mas se Álvaro Dias (PSDB) for candidato, Osmar pode disputar como vice de Gleisi "Seria importante que o Requião fosse candidato", para provocar um segundo turno.

"Mas a Gleisi é uma pessoa muito íntegra, assim, ela disse que só será candidata se isso ajudar a compor o projeto nacional. Se o PT entender que ela deva mesmo ser. Se não, ela fica. Tem seis anos de mandato de senadora. Mas é a melhor candidata, pode não ganhar a eleição, mas é a melhor candidata que o partido pode ter para tentar ganhar o Paraná, que é um Estado difícil", é a análise do PT. "Vale a pena disputar, até porque não tem nenhuma possibilidade de atrair o Richa para o nosso palanque. E dá uma votação boa para a Dilma".

Certa é a candidatura do ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), num Estado estratégico para Dilma, Minas Gerais. Outro candidato mais provável hoje que ontem é Aloizio Mercadante. O problema é o zumbido da mosca azul em sua cabeça. Hoje, a decisão está em suas mãos, apesar da predileção da base e de Lula por Alexandre Padilha (Saúde).

Fonte: Valor Econômico

Campos busca apoio em Brasília e Dilma vai a evento do PT com Lula

Governador do PSB encontra senadores da base do governo e independentes; presidente entrega casas

Maria Lima

BRASÍLIA - Com a ausência da presidente Dilma Rousseff de Brasília para entregar casas do Minha Casa Minha Vida, em Minas Gerais, o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, desembarca hoje na capital para almoçar com o bloco PTB-PR-PSC, composto por 14 senadores, e jantar com nove senadores do chamado grupo independente do PMDB, PDT, PP e DEM, na casa do senador Jarbas Vasconcelos.

Em Minas, Dilma participou ontem de evento do PT ao lado do ex-presidente Lula. Hoje ela entregará casas populares em Ribeirão das Neves.

O almoço para Campos, organizado pelo senador Armando Monteiro (PTB-PE), deve ser na casa do líder do PTB e do Bloco União e Força, senador Gim Argelo (DF). E acontece no momento de descontentamento dos petebistas com Dilma. Ela prometeu receber o presidente interino Benito Gama para discutir a volta do PTB à Esplanada, mas até hoje ele não foi chamado e não há, por enquanto, disposição da presidente em destinar ministério ou estatal para o partido, que pode marchar com Campos.

Monteiro disse que o convite a Campos partiu de companheiros do bloco União e Força.

- Há uma demanda, uma curiosidade e uma busca por algo novo nesse processo sucessório. Eduardo é hábil e moderno, e está indo muito bem - disse Monteiro, ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Para o jantar na casa de Jarbas, foram convidados Ricardo Ferraço (PMDB-ES), Luis Henrique (PMDB-SC), Casildo Maldaner (PMDB-SC), Cristovan Buarque (PDT-DF), Pedro Taques (PDT-MT), Ana Amélia (PP-RS), Waldemir Moka (PMDB-MS) e Jayme Campos (DEM-MT). Blairo Magi (PR-MT) também estava na lista, mas viajou para a China.

Moka disse que o Planalto passou a prometer uma solução para o impasse que está levando o grupo do governador do Mato Grosso do Sul, André Puccineli (PMDB), aos braços de Eduardo Campos, desde que começaram a correr informações sobre os encontros com o presidente do PSB. Moka deve ser candidato ao governo contra o senador Delcidio Amaral, pré-candidato do PT.

- O Mato Grosso do Sul é outro Rio de Janeiro. Interlocutores do Planalto estão dizendo que vão encontrar uma solução para palanque único, mas isso é muito pouco provável. Então, nossa alternativa pode ser Eduardo Campos - disse Moka.

Os senadores Luis Henrique e Casildo Maldaner teriam sido pressionados pelo Planalto a não comparecer ao jantar. Luis Henrique chegou a cancelar a ida, mas confirmou presença.

- Como é possível um senador ser censurado pelo Planalto? Isso é política de coronel - reagiu Jarbas Vasconcelos.

Fonte: O Globo

O novo partido no xadrez - Tereza Cruvinel

Dois pequenos partidos, o PPS, que tem 14 deputados, e o PMN, que tem apenas três, devem formalizar amanhã a fusão das legendas, criando um partido de tamanho médio que pode se transformar num “player” importante na eleição presidencial, favorecendo a candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. A nova sigla pode ainda produzir importantes alterações do xadrez da política paulista, afetando tanto os planos do PT como os do presidenciável tucano Aécio Neves.

A filiação do ex-ministro e ex-governador José Serra, do PSDB, à nova legenda, continua sendo esperada. Mas, ao contrário do que foi cogitado, não para concorrer à Presidência, mas ao Senado, embora o PSDB já lhe tenha oferecido a vaga. Nessa condição, ele se tornaria o polo agregador de apoios à candidatura de Campos, com quem se encontrou há pouco mais de um mês. Emprestaria ao socialista o recall eleitoral que ainda tem no estado e seu trânsito nas elites empresariais e intelectuais do estado mais rico e populoso, que pela primeira vez depois da redemocratização não tem candidato a presidente.

Outra articulação em marcha, envolvendo o novo partido, também terá impacto sobre os rumos da política de São Paulo. O PSB e a nova sigla se coligariam, no plano estadual, com o PSDB do governador Geraldo Alckmin, que disputará a reeleição. Seu candidato a vice seria o deputado socialista e arqueiro da candidatura Campos, Marcio França. Aécio, neste caso, teria que se contentar com um palanque de seu partido no estado.

Mas esses são movimentos que não serão revelados nem confirmados agora, quando o importante é dar à luz a nova sigla. Se depender do atual presidente do PPS, Roberto Freire, ela se chamará Partido da Esquerda Democrática. Há quem ache PED uma sigla muito feia. Além do mais, ela remete ao PT, em que designa o Processo de Eleições Diretas, o PED. Outros preferem Partido da Mobilização Democrática – PMD. Nome é importante, mas o essencial é garantir logo o registro da nova sigla, antes que os governistas consigam fechar a janela que, não impedindo sua criação, barraria a herança do capital que importa para Campos, o tempo de TV e os recursos do Fundo Partidário.

Nascendo com 17 deputados, a sigla ainda sem nome espera receber adesões de parlamentares em situação de desconforto partidário, chegando em breve às 35 cadeiras na Câmara. Como o PSB de Campos tem hoje 32 deputados, a coligação teria cerca de 70 deputados. Esta sim, já seria uma força nada desprezível na disputa. O PSDB, por exemplo, tem 49 deputados. Em coligação com o DEM, seu parceiro histórico, teria 77. Estariam se equivalendo, no campo da oposição.

Vento de mudança

A vitória apertada do candidato chavista Nicolás Maduro na Venezuela anuncia não apenas tempos difíceis para seu governo, numa conjuntura econômica adversa. O placar de 50,66 a 49,07 é um indicador claro de que, sem Chávez, a divisão interna da Venezuela se aprofundou e o chavismo perdeu força, num movimento que pode ter reflexos na política da região, onde predominam há mais de 10 anos os governos de centro-esquerda…

Maduro não é Chávez, como dizia seu adversário Henrique Caprilles na campanha. Não tendo o carisma e a força do líder morto, falta-lhe também a estrutura de um partido popular suficientemente enraizado. Essa nunca foi uma prioridade de Chávez, que sempre se apoiou em duas siglas pouco estruturadas, o PSUV e o PCV, o que lhe rendeu muitas advertências de Lula. O pedido de recontagem de votos feito pela oposição e apoiado pela OEA e pelos Estados Unidos não deve ser acolhido pelo tribunal eleitoral venezuelano, mas deixará a oposição armada com o discurso da suspeita de ilegitimidade.

A Constituição da Venezuela adotou o princípio do “recall”, ou referendo revogatório dos mandatos de todos os cargos eletivos, no meio do período. Chávez os venceu sempre. Maduro, eleito por tão escassa maioria, enfrentando uma oposição fortalecida, com a qual terá de negociar, deve começar a se preparar para a batalha que enfrentará daqui a dois anos e meio.

No continente, o Paraguai deve eleger o candidato conservador Horacio Cartes, do Partido Colorado, no domingo. O segundo colocado também é um liberal, Efrain Allegre. Embora a socialista Bachellet esteja liderando no Chile, o vento pode estar mudando na região. Há que se esperar, entretanto, o resultado das próximas eleições no Brasil e na Argentina.

CPI das gigantes

A oposição está incomodando o governo com a proposta de criação da CPI da Petrobras. Agora, o deputado governista Francisco Escórcio (PMDB-MA) colhe assinaturas para a criação da CPI da Vale do Rio Doce, que acusa de deixar um rastro de destruição social e ambiental nos estados onde atua, como no seu Maranhão.

Fonte: Correio Braziliense

Derrota moral - Merval Pereira

A vitória por menos de 2% dos votos não apenas dá margem à desconfiança sobre a lisura do resultado na Venezuela como garante ao candidato oficial Nicolás Maduro apenas os primeiros três anos de mandato, e olhe lá. Isso porque no meio do mandato há a possibilidade de convocação de um “referendo revogatório” que pode tirá-lo do poder, caso o governo não esteja agradando à maioria dos venezuelanos.

Sem a presença física de Chávez, não tendo surtido efeito o anúncio de que ele reencarnara em um passarinho, a revolução bolivariana, apesar de controlar os meios de comunicação e as instituições oficiais que organizam a eleição, perdeu, pelos números oficiais, cerca de 700 mil eleitores, enquanto o candidato oposicionista Henrique Capriles recebeu cerca de 600 mil votos a mais do que na última eleição presidencial, quando Chávez venceu o mesmo Capriles com uma vantagem de 12% dos votos.

Maduro venceu em 16 estados, e Capriles em apenas 8, mas, como a diferença entre os dois ficou abaixo dos 2%, isso indica que o oposicionista venceu nos estados mais populosos. Mesmo os chavistas mais ferrenhos admitem que parte de seu eleitorado abstevese de votar, e outros passaram para a oposição.

O resultado mostra que Chávez já governava na base da retórica revolucionária e que sem o seu carisma não foi possível impedir a explicitação de um descontentamento não apenas com os métodos revolucionários do chavismo, mas com os resultados do governo, vendidos como expressivos por seus áulicos, mas na verdade insuficientes para manter eternamente a população atrelada aos interesses do governo.

Se é verdade que a desigualdade foi reduzida e a pobreza combatida através das missões chavistas, também é verdade que a economia venezuelana sofre as consequências de uma política populista que é incapaz de manter os gastos sociais sem provocar efeitos colaterais terríveis como a altíssima inflação — cerca de 30% ao ano —,desabastecimento, déficit público e uma violência descontrolada nas grandes cidades, especialmente Caracas.

Além de sustentar as políticas assistencialistas, a estatal de petróleo PDVSA também garante uma política de subsídio do preço da gasolina que consome 10% do PIB, isso em uma empresa que sofre com o aparelhamento governista que lhe tira a competitividade e reduz a sua produção, que caiu 25% em relação ao que produzia há 14 anos, quando Chávez assumiu o poder.

A gasolina quase de graça fez com que o consumo tenha aumentado mais de 60% no período, o que obriga a Venezuela a importar o combustível, mesmo tendo uma das maiores reservas de petróleo do mundo. A escassez de mercadorias nos supermercados e a falta de energia elétrica e de água ora são atribuídas a um boicote das oligarquias, ora a atentados terroristas, quando não surge uma visão cor de rosa que “culpa” o aumento do poder aquisitivo dos mais pobres. Na verdade, trata-se de uma economia disfuncional.

Como a base de sua pregação política é não fazer acordos com a oligarquia, seguindo os passos de seu chefe, Nicolás Maduro vai ter dificuldade de montar um governo eficiente, ainda mais que enfrentará dissidências dentro da própria aliança chavista. Ele queria vencer por uma diferença maior que a que Chávez conseguiu na última eleição para se impor a seus adversários internos, mas obteve nas urnas uma derrota moral que o prejudicará tanto em relação à oposição, que sai fortalecida do confronto, quanto a seu próprio grupo político.

Assim como aconteceu entre a ausência de Chávez e o anúncio oficial de sua morte, Maduro governará sendo tutelado por um conjunto de forças no qual se destacam os militares. E a derrota moral do chavismo terá repercussões em toda a América Latina, onde o socialismo bolivariano estava deitando raízes. Não é à toa que foram esses os primeiros governos a acatar os resultados oficiais da Venezuela, inclusive o brasileiro.

Os pontos-chave

1. A vitória por menos de 2% dos votos na Venezuela garante ao candidato oficial Nicolás Maduro apenas os primeiros 3 anos de mandato. No meio do mandato há a possibilidade de convocação de um “referendo revogatório” que pode tirá-lo do poder caso o governo não esteja agradando à maioria dos venezuelanos;

2. O oposicionista Capriles venceu nos estados mais populosos. Mesmo os chavistas mais ferrenhos admitem que parte de seu eleitorado se absteve de votar, e outros passaram para a oposição;

3, A derrota moral do chavismo terá repercussões em toda a América Latina, onde o socialismo bolivariano estava deitando raízes. Não é à toa que foram esses os primeiros governos a acatar os resultados oficiais da Venezuela, inclusive o brasileiro.

Fonte: O Globo

Partida ao meio - Eliane Cantanhêde

O chavismo manteve o governo, mas a grande vencedora na Venezuela foi a oposição.

Mesmo emparedado pelo mito Chávez, pela magia da sua morte prematura e por uma campanha agressiva, o candidato Henrique Capriles perdeu por uma margem muito mais estreita do que previam todas as pesquisas: menos de dois pontos percentuais.

Isso significa que a Venezuela está dividida ao meio e que o presidente Nicolás Maduro terá tempos difíceis pela frente. Sem Chávez e sem a retórica do líder, capaz de desfocar erros e desviar críticas, só resta a Maduro arregaçar as mangas e apresentar resultados.

Os obstáculos são de arrepiar: inflação descontrolada, desabastecimento até de alimentos, câmbio irreal, deficit galopante, violência braba, a corrupção de sempre. E há riscos políticos.

Além de enfrentar a força e a inédita união das oposições, obtidas desde o pleito de 2012, vencido por Chávez, Maduro vai se deparar com um insidioso processo de corrosão interna no chavismo. A inveja é inerente ao ser humano. A disputa de poder, mesmo entre aliados, é a força vital da política.

Reduzem-se as chances de sobrevivência do chavismo sem Chávez e aumentam as de alternância de poder daqui a seis anos, com a vitória da oposição, possivelmente do próprio Capriles.

O que preocupa, porém, é o que vai ocorrer no país até lá. Espera-se que a oposição tenha paciência, livre-se da tentação de desgastar o governo além do limite e aguar- de sua vez nas urnas.

É aí que entra o Brasil. A ninguém interessa uma Venezuela em chamas, sob séria crise de governabilidade. Nem ao governo do PT, até pela ideologia, nem aos empresários brasileiros, que tantos interesses mantêm no país, e, claro, nem a nós, cidadãos solidários com todos os nossos vizinhos.

Fonte: Folha de S. Paulo

Atenção, concentração - Dora Kramer

Ministro da Educação, economista, ação valorizada na bolsa de apostas para possíveis candidatos do PT ao governo de São Paulo e ultimamente presença constante junto à presidente Dilma Rousseff em atos públicos ou reuniões privadas (não necessariamente relacionados à sua pasta), Aloizio Mercadante é um homem confiante.

E, sobretudo, otimista. Enquanto todas as versões sobre o estado de espírito predominante no Palácio do Planalto e adjacências dão conta da preocupação crescente em relação aos efeitos eleitorais da chegada da inflação à mesa das pessoas, Mercadante diz que o governo "está seguro" de que seus principais ativos para a disputa de 2014 estarão preservados.

Trunfos estes amplamente conhecidos: emprego e renda. O que se desconhece é em que medida, e quando, a queda na produtividade, a alta de preços, o baixo crescimento acabarão por afetar esse patrimônio.

A maioria dos analistas alerta que sem uma reação enérgica e amarga do governo, dias piores na economia inevitavelmente virão. Com eles, o aumento da probabilidade de notícias menos alvissareiras que as atuais para a reeleição da presidente Dilma.

Não é o que pensa Mercadante nem, segundo ele, o que prevalece nas análises de governo. Conforme afirmou em recente entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o ministro considera que os números do PIB não serão determinantes para abalar o bom humor da população até agora registrado nas pesquisas.

"Na percepção do cidadão em geral" – sejamos claros, do eleitorado –, "a tradução para PIB é emprego e renda". Enquanto esses dois indicadores estiverem altos, alta também será mantida a popularidade da presidente. "É isso que dá apoio social ao governo", diz o ministro, que no quesito abalo da economia não enxerga no horizonte tempo ruim em termos políticos, muito menos céu de brigadeiro para a oposição.

Em verdade, não vê abalos atualmente. São, na visão dele, "desconfortos" passageiros a serem resolvidos antes que possam se transformar em potenciais prejuízos eleitorais.

O ministro chega a fazer uma comparação irônica: "O PSDB está parecendo o PT no tempo do Plano Real". A ironia está no fato de Aloizio Mercadante ter sido um dos conselheiros petistas que garantiram ao partido que o real não tinha chance de dar certo.

De desafio para o governo mesmo, Mercadante só vê a necessidade de investimento em qualificação de mão de obra como forma de o país fazer frente a um crescimento maior.

Ele não tem dúvida alguma de que o índice do produto interno será maior em 2013 (façanha não muito difícil diante do menos de 1% em 2012) nem manifesta maiores preocupações com um possível descontrole no combate à inflação.

"Não haverá e vai baixar. Aliás, já está baixando, pois a alta dos alimentos decorreu de problemas na safra agrícola cujo pico foi em outubro." De acordo com ele, a rigor não há razão para maiores temores diante do estouro da meta e do acumulado de 6,59% nos últimos doze meses.

"Desde a instituição do sistema de metas, só em 2006, 2007 e 2009 a inflação esteve abaixo de 5,5%."

Carestia. A alta dos preços deu à oposição um mote. "Inflação de alimentos" é o nome do jogo, repetido frase sim outra também pelo senador Aécio Neves, candidato a oponente de Dilma pelo PSDB.

De margens. A ínfima margem de vantagem com que Nicolás Maduro foi eleito deixa-o com pequena margem de manobra para governar a Venezuela a partir dos instrumentos de manipulação chavista. Por si insuficientes e, sem o criador, ineficientes para lidar com a dura realidade da inflação, do desabastecimento e da criminalidade crescente.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Prisão dos mensaleiros refunda a República - Marco Antonio Villa

O julgamento do mensalão está chegando à sua etapa decisiva. O processo, na verdade, começou quando da instalação da CPMI dos Correios, em maio de 2005. A brilhante produção do relator Osmar Serraglio e das sub-relatorias permitiu, depois de muitos meses de trabalho e inúmeras pressões vindas do Executivo, aprovar, numa sessão muito conturbada, devido à ação dos petistas, seu relatório em abril de 2006. Foi, sem sombra de dúvidas, a mais importante e eficiente CPMI da história do Congresso.

Juntamente com o trabalho dos congressistas, foi aberta em Minas Gerais investigação pelo Ministério Público Federal para apurar as denúncias, pois dois braços do mensalão, o publicitário e o financeiro, tinham lá sua base inicial. A somatória dos dois excelentes trabalhos permitiu que, em agosto de 2007, o inquérito 2.245 fosse aceito pelo STF e se transformasse na Ação Penal 470. Deve ser recordado que não foi nada fácil o recebimento do inquérito. Foram 4 sessões de muito debate, porém o STF não se curvou. Registre-se o triste papel do ministro Ricardo Lewandowski, que, em um restaurante de Brasília, após a última sessão, foi visto falando ao celular, muito nervoso, que não tinha sido possível amaciar (a expressão é dele) as acusações contra José Dirceu. Falava com quem? Por que tinha de dar justificativa?

A terceira - e mais longa - batalha do processo foi o trabalho desenvolvido entre agosto de 2007 até julho de 2012 para a confecção da Ação Penal 470. Foram dezenas e dezenas de depoimentos, documentos, laudos, registrados em milhares de páginas organizadas em mais de duas centenas de volumes. Deve ser destacado o importante papel do Ministério Público Federal, que permitiu apresentar o conjunto das provas e a acusação efetuada com ponderação e argúcia pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Mas, é óbvio, nunca é demais ressaltar o papel central em todo este processo do relator, o ministro Joaquim Barbosa. Não é exagero afirmar que, se não fosse a sua determinação - apesar de tantas dificuldades -, os trabalhos não teriam chegado a bom termo. Deve ser lembrada ainda a lamentável (e fracassada) tentativa de chantagem contra o ministro Gilmar Mendes efetuada pelo ex-presidente Lula.

Em 2 de agosto de 2012, finalmente, teve início a quarta batalha, o julgamento propriamente dito. Foram 53 sessões. Centenas de horas de debates. Com toda transparência, o Brasil assistiu a um julgamento único na nossa história. Não foi fácil chegar ao final dos trabalhos com a condenação de 25 réus. Algumas sessões foram memoráveis, especialmente no momento da condenação do núcleo político liderado por José Dirceu, sentenciado por formação de quadrilha - considerado o chefe - e nove vezes por corrupção ativa, além de mais três membros da liderança petista.

A quinta - e última - batalha é a que estamos assistindo. Depois da publicação do acordão e com os recursos apresentados pelos advogados, inócuos, pois não foram apresentadas novas provas que pudessem justificar alguma mudança nos votos dos ministros, teremos finalmente o cumprimento das sentenças. Mas, até lá, serão semanas tensas. Já vimos várias tentativas de desmoralização do STF. A entrevista do quadrilheiro e corrupto José Dirceu, condenado a dez anos e dez meses de prisão, acusando o ministro Luiz Fux de traidor, foi apenas uma delas. Os advogados de defesa, pagos a peso de ouro, vão tentar várias manobras, mas dificilmente obterão algum êxito. Outra tentativa de desmoralização foi a designação dos condenados José Genoíno e João Paulo Cunha para a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. É neste momento que cresce a importância dos dois ministros mais antigos do STF: Celso de Mello e Marco Aurélio. Devem servir de escudo contra a tentativa golpista do petismo de pressionar os ministros mais jovens da Corte para conseguir, através de algum subterfúgio, a revisão das penas.

A sociedade não pode silenciar. Muito menos perder o foco. É no STF que está sendo jogada a sorte do estado democrático de direito. Os mensaleiros golpistas sabem que perderam, mas os democratas ainda não perceberam que ganharam. No momento que os condenados ao regime fechado estiveram adentrando o presídio, a democracia brasileira vai estar obtendo umas das suas maiores vitórias. Era muito difícil, quase impossível, encontrar alguém que, no início do processo, imaginasse a condenação dos mensaleiros. E mais, que eles fossem (como irão) cumprir suas penas. A satisfação não advém de nenhum desejo de vingança. Longe disso. É sentimento de justiça. Quando José Dirceu estiver cruzando o portão de entrada do presídio - certamente com um batalhão de jornalistas aguardando sua chegada - isto deverá servir de exemplo para todos aqueles que continuam desrespeitando a legalidade, como se estivessem acima das leis, cometendo atos que violam o interesse público, a ética e a cidadania.

Estamos há mais de cem anos procurando homens públicos republicanos. Não é tarefa fácil. Euclides da Cunha, em 1909, numa carta ao seu cunhado, escreveu que "a atmosfera moral é magnífica para batráquios". E continuou: "Não imaginas como andam propícios os tempos a todas as mediocridades. Estamos no período hilariante dos grandes homens-pulhas, dos Pachecos empavesados e dos Acácios triunfantes". A confirmação das sentenças e o cumprimento das penas podem ser o começo do fim dos "homens-pulhas" e a abertura da política para aqueles que desejam servir ao Brasil. Iniciaremos a refundação da República.

Fonte: O Globo