O Estado de S. Paulo
É na maneira pela qual as sociedades se
constituem e funcionam internamente que devem ser buscadas as explicações de
seus sucessos e fracassos
No Brasil, é comum olhar para os Estados
Unidos como um exemplo que deveríamos seguir, ainda que sabendo muito bem de
seus problemas. Além de desenvolvido, é – ou era, até Donald Trump – um lugar
onde imperavam as leis, as instituições eram respeitadas, a economia era
dinâmica, a ciência e a educação eram estimuladas, existiam políticas para
lidar com os problemas de desigualdade e de pobreza, e, na política
internacional, procurava combinar o interesse próprio com políticas de
cooperação e apoio a valores como a democracia e os direitos humanos. Destes
valores, o único que parece ainda valer para Trump é o do dinheiro, cada vez
mais concentrado. Em seu livro recente sobre a história das relações entre os
Estados Unidos e a América Latina ( America, América – A New History of the New
World, Penguin, 2025), o historiador Greg Grandin procura mostrar que, longe de
ser uma anomalia, as políticas de Trump dão continuidade a uma longa história
de violência interna e imperialismo. A única exceção teria sido o período que
vai do início do New Deal de Franklin Roosevelt, em 1933, até o fim da Segunda
Guerra, quando os Estados Unidos, graças à influência da América Latina,
desenvolveram políticas internas em favor da população mais necessitada e
apoiam a criação de uma nova ordem internacional com as Nações Unidas.