Para os leigos, o economês – língua fechada dos economistas, às vezes, ininteligível e árida – torna a compreensão do funcionamento da economia ainda mais complexa e difícil. O engessamento da cabeça dos economistas com modelos teóricos rígidos e o distanciamento do cotidiano das pessoas comuns dificultam a comunicação com os pobres mortais não especialistas. O diálogo é obstruído por ruídos excessivos e evitáveis. A abstração excessiva, a falta de paciência e didática, a inabilidade emocional e a complexidade do assunto tornam quase impossível à população digerir e processar as informações oferecidas pelos especialistas.
E olha que o
mais simples cidadão compreenderia o básico da economia ancorado em sua
vivência com o orçamento familiar (receitas, despesas, dívidas, juros, preços)
e sua experiência direta como trabalhador e consumidor (salários, lucros,
investimentos, consumo, inflação), desde que os economistas simplificassem a
linguagem e recorressem, em suas entrevistas e artigos, a imagens didáticas e
metafóricas.
Digo isso a
propósito da entrevista que assisti de um deputado federal e economista mais à
esquerda no espectro ideológico escandalizado com seus colegas de profissão que,
nos tropeços de comunicação, passam uma falsa ideia de que são contra um
crescimento econômico forte e um baixo nível de desemprego. E, em parte, tem
razão. Já assisti especialistas friamente diante das câmaras de TV afirmarem
que o grave problema é que o PIB está muito forte e o mercado de trabalho muito
aquecido, sem explicarem o conjunto da obra, como se torcessem pela recessão e
o desemprego. Mas nosso deputado também não rezou a missa inteira.
Houve boas notícias
no ano que se passou. O Brasil, em 2024, cresceu 3,3%. O mercado previa
inicialmente 1,5%. O desemprego era estimado em 7,5%. No mundo real, foi o
menor da série do IBGE, 6,6%. O salário real médio cresceu, a pobreza e a
miséria diminuíram. Por outro lado, houve notícias ruins e preocupantes. A
inflação ficou acima da meta (4,8%), os juros foram para a estratosfera
(13,25%) e o dólar projetado em R$ 5 bateu em R$ 6 (nos últimos dias teve uma
pequena queda). O que os economistas tentam advertir e o nosso deputado não
conta é que as notícias ruins podem engolir as boas e o retrocesso anular os
avanços.
A economia não é
linear, é contraditória. É como cobertor curto, cobre o pescoço, descobre os
pés. Vez ou outra, para alcançar um objetivo tem que sacrificar outro. O
importante é que as pessoas apreendam raciocinar a médio e longo prazos. O
desenvolvimento não pode se dar aos soluços e solavancos. Tem que ser
consistente, estável e sustentável. De nada adianta voo de galinha ou montanha
russa.
Mas, para que a sociedade compreenda isso, é preciso aprimorar a capacidade de comunicação dos economistas e o grau de informação da população.
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