Correio Braziliense
Os dirigentes ocidentais estão muito
assustados. O brasileiro faz o que pode para se desviar das estocadas
originadas em Washington. Mas, um dia haverá, algum tipo de confronto
Inflação não derruba governo, mas prejudica
muito a administração. O governante, diante da alta de preços, é levado a fazer
acordos e negociações que não faria em tempos normais. No Brasil, na época da
hiperinflação, o governo tentou vários planos, elaborados pelos economistas da
casa e todos fracassaram. O Brasil chegou a ter inflação perto de 100% em
apenas um mês. Os militares foram obrigados a entregar o poder, entre outras
razões, por causa da inflação forte. O fenômeno desestabiliza.
O presidente Lula está assustado com a subida dos preços. Fala disso a todo momento e anuncia reuniões e mais reuniões. É uma característica da atual administração. Convoca reuniões, cria grupos de trabalho que é o melhor caminho para não resolver absolutamente nada. De tudo o que foi falado, desde que os números oficiais começaram a desabar no Palácio do Planalto, falou-se em diversos encontros entre autoridades de um lado e de outro e os números continuam subindo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com sua pinta de professor universitário, explica o problema, mas não o resolve.
A fórmula petista de buscar o desenvolvimento
é a mesma ao longo dos anos. Investimento estatal pesado, sem medir
consequências, nem prestar atenção em eventuais deficits. Criar um esquema de
governo em que o trabalhador sempre precise do governo para alguma atividade. O
cipoal burocrático envolve e orienta o cidadão. Fora do poder ele é um
desamparado. Nos sites do governo, estão inscritos quase 100 milhões de
brasileiros. Ou seja, a metade da população brasileira está ao alcance da mão
pesada do estado.
O governo, portanto, não pode privatizar suas
mais de 100 empresas estatais. Elas existem para empregar eleitores de Lula e
do PT. A Telebras, por exemplo, não tem nenhuma razão para continuar a existir.
Ela deveria ter sido extinta quando da privatização do setor no governo
Fernando Henrique. Não foi porque tinha muitas dívidas, algumas delas em fase
de cobrança judicial. Seria melhor pagar as dívidas, extinguir as ações nos
tribunais e depois fechar suas portas. Foi nesse estágio que o PT encontrou a Telebras.
Hoje, ela foi vitaminada, passou a fazer parte dos planos do Ministério das
Comunicações e, naturalmente, apresentou um deficit monumental que será pago
pelos brasileiros na forma de impostos.
Também não é bem recebida qualquer sugestão
com objetivo de reduzir gastos, diminuir despesas e racionalizar a
administração. O ministro da Fazenda ousou mencionar a hipótese e foi
bombardeado por todos os lados, inclusive por uma graduada estrela petista que
está prestes a se tornar ministra em gabinete dentro do Palácio do Planalto, ao
lado do presidente. Prestígio maior não há. Os brasileiros devem ter noção de
que o jogo está jogado. A eleição de 2026 de fato começou a ser planejada
nessas férias de verão. Os milhões inscritos nos múltiplos programas oficiais
são eleitores aprisionados dentro dos currais eleitorais que se expandiram por
todo o país. Os empresários, que dependem dos favores oficiais, não dispõem da
autonomia necessária para construir alternativas. O Brasil cresce aos
solavancos, quase por acaso.
Qualquer interrupção nesse tipo de
organização é catastrófica. É fundamental manter o equilíbrio dentro do país. A
política se assemelha à da República Velha, é preciso modificar tudo, para que
tudo permaneça como está. Muitas reuniões e nenhuma decisão. Nos dias
atuais, a ameaça não é mais o ouro de Moscou, nem a possível intervenção
soviética, mas a loucura de Donald Trump. Ele está se divertindo na Presidência
dos Estados Unidos, país que foi o símbolo da democracia e das liberdades.
Hoje, significa opressão política e protecionismo econômico, exatamente o
contrário do que pregavam os líderes daquela nação nas últimas décadas. Foi com
aquele discurso que os norte-americanos investiram na reconstrução da Europa,
depois da Segunda Guerra, e se transformaram na maior economia do mundo. Hoje,
seu grande líder caminha no sentido contrário.
Os dirigentes ocidentais estão muito assustados. O brasileiro faz o que pode para se desviar das estocadas originadas em Washington. Mas, um dia haverá, algum tipo de confronto. E o Brasil tem reduzidas chances de obter vantagens. Melhor ficar quieto e esperar o temporal passar. Os norte-americanos vão pagar um preço elevado pela ousadia de seu líder e de sua direita. Todos vivemos no mesmo planeta. Lula, até agora não tem adversário pronto para disputar a eleição de 2026. A oposição ainda se debate com as propostas confusas do bolsonarismo, que não é uma ideologia. Seu líder é apenas um alpinista que se aproveitou de um raro momento na política nacional. Difícil acontecer de novo. Mas Trump pode enlouquecer a ele mesmo, seu país e seus vizinhos. Trata-se de um novo Nero com poder de incendiar sua Roma.
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