Folha de S. Paulo
Mudança na Lei da Ficha Limpa derruba
moralidade para tentar favorecer Bolsonaro
Nas redes sociais há um conceito comum aos
dois grupos que vivem a trocar provocações, xingamentos e ameaças. Diz o
seguinte: "Não tenho bandido de estimação", com bandido significando
político.
Banalidade que só serve para alimentar a rinha, é uma falsa manifestação de independência. Em regra, quem a escreve é um fanático que está ali a defender o bandido predileto.
O PL de Valdemar
Costa Neto, maior partido do Brasil, aquele que mais recebe dinheiro
público e onde estão os maiores paladinos da decência, também tem as suas
simpatias. Em paralelo às propostas de anistia para quem participou da
insurreição fascista de 8/1, prepara uma manobra que pode favorecer Bolsonaro
em parte dos processos nos quais é alvo. Um projeto complementar propõe
modificar a Lei da Ficha Limpa, reduzindo a inelegibilidade de oito para dois
anos.
Fruto de uma campanha de moralidade política
que durou mais de 13 anos, a Lei da Ficha Limpa contou com enorme mobilização
popular. Resultou na entrega ao Congresso de 1,6 milhão de assinaturas a favor
do projeto; na internet outros dois milhões de pessoas aderiram. Na Câmara
recebeu apoio de todos os partidos; no Senado foi aprovada por unanimidade.
Sancionada pelo presidente Lula, passou a
valer em 2010. Oito anos depois, Lula teve negado o registro da candidatura ao
Planalto com base na lei.
O que mudou de lá para cá que justifique a
mudança? Bulhufas. O acerto da Ficha Limpa se comprova em recente estudo da
Universidade Federal de Pernambuco que mostra que prefeitos e vereadores têm
duas vezes mais indiciamentos criminais do que a população em geral.
O movimento corporativista exibe a assinatura
de mais de 70 deputados (a maioria do PL, mas também do MDB, Patriota, PP, PSD
e Republicanos) e ganhou um empurrão do presidente da Câmara. Para Hugo Motta,
a inelegibilidade de oito anos é "uma eternidade".
Como os bonés estão na moda, daqui a pouco
parlamentares hão de circular com a cabeça coberta pelos dizeres "A
política é dos bandidos".
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