sábado, 8 de fevereiro de 2025

'Quando a política significa bandidagem - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Mudança na Lei da Ficha Limpa derruba moralidade para tentar favorecer Bolsonaro

Nas redes sociais há um conceito comum aos dois grupos que vivem a trocar provocações, xingamentos e ameaças. Diz o seguinte: "Não tenho bandido de estimação", com bandido significando político.

Banalidade que só serve para alimentar a rinha, é uma falsa manifestação de independência. Em regra, quem a escreve é um fanático que está ali a defender o bandido predileto.

PL de Valdemar Costa Neto, maior partido do Brasil, aquele que mais recebe dinheiro público e onde estão os maiores paladinos da decência, também tem as suas simpatias. Em paralelo às propostas de anistia para quem participou da insurreição fascista de 8/1, prepara uma manobra que pode favorecer Bolsonaro em parte dos processos nos quais é alvo. Um projeto complementar propõe modificar a Lei da Ficha Limpa, reduzindo a inelegibilidade de oito para dois anos.

Fruto de uma campanha de moralidade política que durou mais de 13 anos, a Lei da Ficha Limpa contou com enorme mobilização popular. Resultou na entrega ao Congresso de 1,6 milhão de assinaturas a favor do projeto; na internet outros dois milhões de pessoas aderiram. Na Câmara recebeu apoio de todos os partidos; no Senado foi aprovada por unanimidade. Sancionada pelo presidente Lula, passou a valer em 2010. Oito anos depois, Lula teve negado o registro da candidatura ao Planalto com base na lei.

O que mudou de lá para cá que justifique a mudança? Bulhufas. O acerto da Ficha Limpa se comprova em recente estudo da Universidade Federal de Pernambuco que mostra que prefeitos e vereadores têm duas vezes mais indiciamentos criminais do que a população em geral.

O movimento corporativista exibe a assinatura de mais de 70 deputados (a maioria do PL, mas também do MDB, Patriota, PP, PSD e Republicanos) e ganhou um empurrão do presidente da Câmara. Para Hugo Motta, a inelegibilidade de oito anos é "uma eternidade".

Como os bonés estão na moda, daqui a pouco parlamentares hão de circular com a cabeça coberta pelos dizeres "A política é dos bandidos".

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