quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Pressão renovada para baratear custo do crédito: Editorial | Valor Econômico

A possibilidade de o Copom reduzir novamente a taxa básica na reunião de março renova a pressão sobre o mercado de crédito. A oferta de recursos melhorou nos últimos meses, especialmente para as pessoas físicas, mas os juros dos empréstimos ainda são elevados demais. A expectativa é de que o crédito aumente neste ano, apoiando a retomada da economia. As previsões variam de um crescimento de 3%, de acordo com o próprio Banco Central (BC), a 5% ou mais, segundo o mercado financeiro. Mas as taxas precisam recuar para proporcionar o estímulo adequado às atividades.

Se a projeção de aumento do crédito se confirmar, será a primeira variação positiva em dois anos. Em 2016, o estoque total de crédito encolheu 3,5% em termos nominais; em 2017, diminuiu mais 0,6%, fechando dezembro em R$ 3,086 trilhões. Em comparação com o Produto Interno Bruto (PIB), o saldo total dos empréstimos cai há quatro anos, de 55,6% em 2013 para 53,1% em 2014, baixando a 49,6% em 2016 e a 47,1% no ano passado, o menor patamar desde 2010.

A redução do saldo total dos empréstimos foi puxada pelas operações com as empresas, que encolheram 7%, especialmente por conta do crédito direcionado, que diminuiu com as restrições dos desembolsos dos bancos públicos, que enfrentam restrições de capital para cumprir as regras da Basileia. Somente a carteira do BNDES encolheu 11,8% no ano passado. Enquanto isso, os empréstimos para pessoas físicas aumentaram 5,6%.

Relatório do Bradesco aponta que a recuperação do crédito já apresenta sinais mais visíveis nas novas concessões e menciona estudo dos economistas Michael Biggs, Thomas Mayer e Andreas Pick que, depois de analisarem 22 casos de crises econômicas, concluíram que a retomada da atividade está mais relacionada ao aumento do fluxo do que do estoque de crédito.

Desse ponto de vista, os números são favoráveis. Os dados do BC mostram que as concessões de empréstimos para pessoas físicas aumentaram 8,4% no ano passado. Já nas concessões para empresas, a queda foi de 2,6% no ano - 17,6% apenas nas linhas direcionadas -, com pequenas melhorias nos últimos três meses de 2017.

Se a oferta de crédito dá sinais de melhoria, o custo do dinheiro ainda desagrada famílias e empresas. Desde outubro de 2016, quando estava em 14,25% ao ano, a taxa Selic caiu para menos da metade, recuando a 6,75% no início deste mês. Já a taxa média do crédito diminuiu no mesmo espaço de tempo de 33,4% para 25,6% ano, sendo de 43,1% para 31,9% no caso das pessoas físicas, e de 21,6% para 16,8% no das empresas. Mas raramente as famílias e as empresas pagam a taxa média em empréstimos; e a realidade é que os juros do crédito ainda estão em patamar elevado, apesar do empenho do BC em reduzi-los.

Os bancos argumentam que o calote elevado justifica os juros altos; e se queixam também dos custos elevados e dos impostos - inerentes a qualquer atividade econômica. Segundo o BC, a inadimplência responde por 45% do spread bancário; os impostos, por 20%; e o compulsório, por 10%. Os 25% restantes são lucro. A concentração bancária é um problema apontado pelas próprias autoridades. Cinco bancos dominam 86% da carteira de crédito. Quando os bancos públicos impuseram maior competição, as taxas recuaram. Eles ainda detêm mais da metade da carteira de crédito (54,2%). O problema é que isso ocorreu às custas de recursos públicos e em prejuízo do equilíbrio financeiro de alguns deles.

Atuando em outra frente, a gestão de Ilan Goldfajn deslanchou o projeto Agenda BC+ com o objetivo de reduzir o spread bancário por meio de um conjunto de medidas como o aperfeiçoamento do cadastro positivo e da Lei de Recuperação Judicial, além de mudanças nas regras de algumas linhas. O BC dedicou especial atenção ao rotativo do cartão de crédito, e, agora, ao cheque especial, não pelos valores envolvidos, mas sim pelo calibre da taxa praticada nessas linhas. Elas são assustadoramente altas: 334,6% ao ano no rotativo e 323% no cheque especial, ao redor de seis vezes a taxa média das pessoas físicas.

Os juros do crédito precisam recuar, permitindo a famílias e empresas usufruírem da queda expressiva dos juros básicos na esteira do recuo da inflação, viabilizando o consumo e os investimentos e alimentando a retomada da economia.

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