quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Vinicius Torres Freire: Tiros no Rio e barraco em Brasília

- Folha de S. Paulo

Temer, Meirelles e Maia se bicam por causa de planos eleitorais e eleitoreiros

A campanha eleitoral, vaidades de candidatos e a repulsa popular a Michel Temer (MDB) enrolam o programa econômico do governo. Os governistas se dão rasteiras na disputa de uns 3% de votos nas pesquisas, vide o sururu causado pela intervenção no Rio e pelo lançamento do "plano B" na economia.

O ônibus da recuperação econômica, porém, começa a andar mais rápido, embora ainda não pegue o povo, que espera no ponto.

Indicadores da virada de 2017 para 2018 dão bons sinais, tal como a medida do Banco Central de atividade econômica de dezembro, que veio bem mais forte do que o esperado. Além do mais, os números da previsão que o Ipea divulgou nesta terça (20) indicam que a recessão do investimento em construção civil na prática acabou no fim do ano passado. Vendas e lançamentos de imóveis em São Paulo se recuperaram também no último trimestre do ano, mostram dados do Secovi, sindicato da habitação de São Paulo.

No governo, há bufos e ranger de dentes desde que Temer lançou a campanha eleitoral para si ou para um escolhido, a intervenção no Rio.

O "plano B" de Temer para a economia começou com um vexame político e risco de fiasco. Como a reforma da Previdência foi para o vinagre, o governo fez uma cena com ministros na segunda-feira (19). Queria mostrar que o programa de reformas não vai parar, além de dar uma oportunidade de mídia para Henrique Meirelles (PSD) e equipe econômica mostrarem que não tinham sido chutados para escanteio.

Deu rolo. Esqueceram-se outra vez de combinar com Rodrigo Maia (DEM), presidente da Câmara e adversário de Temer e Meirelles na disputa pelos 3% dos votos nas pesquisas.

Na semana passada, Temer roubara o brinquedo da campanha eleitoral de Maia, a tal "agenda positiva da segurança". Como de costume nessas rasteiras do Planalto, Maia chiou, disse que foi passado para trás, que não fora consultado sobre a intervenção no Rio, mas apoiou com ressalvas o fato consumado. No começo desta semana, levou outra canelada.

Maia disse que não leu nem vai ler o "plano B", os projetos para a economia que o governo pretende aprovar no Congresso, em geral coisa séria e útil. Francamente, qualquer governo tem pauta parlamentar. Para Maia, trata-se de desrespeito ao Legislativo, na verdade a ele mesmo.

Pode ser que assoprem os dodóis políticos do arreliado Maia outra vez, mas o "plano B" de Temer para a economia tem mais problemas.

Os deputados, indóceis com a eleição, não querem saber de mexer em impostos (caso do PIS/Cofins e da reoneração da folha de empresas). Pelo menos é o que dizem lideranças do centrão, o eleitor mediano do Congresso, digamos ironicamente. O governo tem maioria apertada para tocar a privatização da Eletrobras, mas bancadas governistas regionais vão fazer chacrinha, e o amuado Maia, que apoiava o plano, precisa ser consolado.

O irritado Maia disse ainda que não vai tratar de mexidas na Previdência tais como tempo de contribuição e regras de cálculo de benefício, que não dependem de mudanças constitucionais. Disse que o governo está "criando espuma com a sociedade".

Por ora, ao menos, a economia ignora o sururu no governismo.

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