quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Com intervenção, Temer neutraliza, por ora, aliados e adversários

Mesmo com baixa popularidade, presidente se movimenta de olho nas urnas

Débora Bergamasco | O Globo

-BRASÍLIA- Com a mudança na agenda política do governo da reforma da Previdência para a Segurança Pública, o presidente Michel Temer (PMDB) neutralizou, por ora, dois pré-candidatos à Presidência da República que se colocam para disputar a posição de centro, Henrique Meirelles (PSD) e Rodrigo Maia (DEM), e ainda entrou na agenda de um postulante mais à direita que aparece bem colocado nas pesquisas de intenções de voto, Jair Bolsonaro (PSC). O movimento anima o entorno do presidente que lhe incensa a buscar uma reeleição, apesar dos baixos índices de popularidade.

Ao enterrar a reforma da Previdência — até então, a pauta principal de seu governo —, Temer tirou das mãos do seu ministro da Fazenda um discurso importante, pois Meirelles acreditava que o tema lhe daria a sustentação entre os agentes econômicos. No caso do presidente da Câmara, além dele perder também a pauta da reforma, o presidente lhe tomou com a intervenção federal no Estado do Rio a bandeira da Segurança Pública, com a qual Maia flertava.

A movimentação para a agenda da Segurança também ataca Bolsonaro, que faz sucesso ao pregar medidas radicais na área. Ao permitir o uso até de tanques de guerra no Rio, Temer dificulta o discurso de rompimento com “tudo que está aí” que o parlamentar, que é militar da reserva, busca representar.

“VAMOS VER, VAMOS VER”
Temer está deixando correrem soltos os comentários de uma possível tentativa de reeleição de sua parte. Este ano, parou de prontamente rebater que não concorrerá. A quem o aborda com este tema, deixou a contundência de lado e passou a responder como quem deixa o assunto suspenso no ar. Sai-se agora com um “vamos ver, vamos ver”, de acordo com pessoas próximas.

A nova postura de Temer projeta uma expectativa de poder futura e prolonga a vida útil de seu mandato, pois mantém o engajamento de seus aliados. Mas há riscos. Foi de Rodrigo Maia o diagnóstico no último final de semana. A intervenção é um “salto triplo sem rede. Não dá para errar”.

Integrantes da oposição reconhecem que com a pauta da Segurança Temer deixou de ser uma carta fora do jogo, caso a intervenção seja bem sucedida.

— Foi uma jogada muito inteligente do Temer. A gente não descarta ele voltar a ter poder e disputar a eleição presidencial de outubro — disse ontem Márcio Pochmann, coordenador do programa econômico do PT.

Potencial aliado e também pré-candidado de centro, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse em evento na noite de ontem em Brasília que não espera receber o apoio do governo federal para sua candidatura. Ao ser indagado sobre as chances de ser o escolhido de Temer para receber apoio, respondeu:

— Não tenho essa pretensão.

(Colaborou Gabriela Valente).

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