A sucessão presidencial voltou seu teorema para SP
Depois do segundo não de Luciano Huck ao sistema eleitoral, e do primeiro não da Justiça ao ex-presidente Lula, a sucessão presidencial voltou seu teorema para São Paulo. As definições no Estado estão ligadas, fortemente, às indefinições nacionais, exatamente as que se situam entre os políticos de centro.
Por isso mesmo, as atenções do momento se concentram no governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o seu esforço para alçar voo numa campanha que, justiça lhe seja feita, ninguém ainda decolou de verdade. A não ser Jair Bolsonaro, mas lá atrás, no início, um impulso já em aparente refluxo ainda não medido com rigor pelas pesquisas.
A presença de São Paulo no atual cenário pós-Lula se reforça pela sucessão estadual. É essencial notar o vice-governador Márcio França (PSB), que assumirá o cargo com o pensamento na reeleição e constituirá pelo menos um dos palanques para o presidenciável Alckmin.
As provocações que tentaram, nos últimos dias, derrubar as perspectivas de França não foram engolidas, uma contribuição dele à sanidade da disputa. Tentou-se levá-lo para o PSDB, de forma a tornar mais confortável a caminhada do governador pela campanha presidencial. Era um pretexto, pois uma vez lá, França teria que se submeter a uma prévia e seria engolido pelos capitães da tropa tucana. O vice Márcio França declinou da arapuca.
Outra provocação foi prometer-se ao vice que Alckmin o apoiaria integralmente contra um candidato tucano. Essa o próprio Alckmin se encarregou de desfazer, declarando-se fiel cabo eleitoral do candidato do PSDB em programa popular de TV. Mas não recusou o palanque de França e nem poderá, por crime de lesa coerência. Afinal, foi e é seu fiel vice-governador.
Alckmin terá dois palanques mas os seus não deixarão que fique neutro. Assim, França também ficará livre para oferecer espaço a um candidato de seu partido caso a opção venha a ser por esse caminho, hipótese a cada dia mais improvável.
Para o PSDB, não será o passeio de sempre em São Paulo. As sondagens estão mostrando uma queda no eleitorado do partido no Sudeste e no Sul.
E não será possível contar com França se estiver se desenhando o abraço de afogados. Como governador de São Paulo até o fim do ano, se tiver que ajudar alguém, serão os candidatos do PSB e os que farão parte de sua coligação, além de impulsionar sua candidatura á reeleição.
Mas não será fácil também para França. Com uma carreira política de pouca experiência, vindo de um mandato de vereador e um de prefeito, fez uma vice-governança discreta. O que vai oferecer?
Aqui é que está a sua possibilidade de dar um salto. Márcio França terá que organizar um governo forte, competente, com um secretariado de primeira linha para mostrar-se capaz de enfrentar os grandes problemas em curto espaço de tempo. A ideia é fazer desse governo de 9 meses uma vitrine na qual o eleitorado possa reconhecer seu potencial. São Paulo, diz-se nos debates do grupo, não se ganha só com esquema político. Ganha-se com ideias, com imagem. Essa é a batalha que lhe falta travar.
Isso facilita, então, a definição do quadro eleitoral para Alckmin? Não, reitere-se, a sucessão presidencial não está definida para ninguém, nem mesmo para Ciro Gomes e Marina Silva, cujos partidos ainda não se resolveram nos Estados.
O cenário eleitoral parece até mais indefinido que antes. Por exemplo: Em lugar de Henrique Meirelles, que decide em abril, como prometera, se será candidato, mas que já não é candidato pois seu partido quer apoiar Alckmin, o nome preferido do governo federal passou a ser o próprio Michel Temer. Em alguns momentos, o candidato do centro do agrado do mercado financeiro foi Rodrigo Maia, o presidente da Câmara que a cada dia leva mais preocupação aos seus acólitos pelo temperamento explosivo. Poderá, se candidato, participar de um rali da temperança com Ciro e Joaquim Barbosa, se realmente esse vier à disputa.
Fernando Henrique Cardoso conformou-se a não embalar Huck e começou a flertar com um empresário da indústria, Flávio Rocha, da Riachuelo. Rochinha, como é chamado pelos que o conheceram na Câmara, afirma-se entre os amigos do ex-presidente, é uma citação de quem está desnorteado. Como estão todos nessa mesma desorientação, cultiva-se a esperança de que, pelas soluções estaduais, a começar por São Paulo, será possível chegar às definições.
Isso tem a ver com clareza no quadro da disputa sucessória, e não com o Alckmin reagir eleitoralmente e marchar para o sucesso. Nota-se um certo desespero em várias alas do PSDB, pois são muitos candidatos a governador, a senador, a deputado - que têm seu destino ligado ao êxito ou à boa performance do candidato a presidente.
Embora não sirva de consolo, a expectativa é que, quando a campanha for para valer, vai prevalecer a biografia do governador de São Paulo, seu bom senso, enfim, as qualidades que levaram sua carreira política até aqui.
Marília Arraes
Apresentamos aqui, na semana passada, Alfredo Gaspar, nome novo na política, candidato ao Senado por Alagoas que vem ameaçando, com sucesso nas pesquisas, as oligarquias políticas do Estado. Estimulados pelo registro, leitores indicaram outra novidade para abalar estruturas políticas sólidas, também no Nordeste:
Marília Arraes. Há duas semanas, o governador Paulo Câmara (PSB), de Pernambuco, procurou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Paulo, para uma reunião a que compareceu também Renata Campos, a mulher de Eduardo Campos, morto em acidente na campanha eleitoral de 2014.
Foi queixar-se a Lula da atuação eleitoral de Marília Arraes, prima de Eduardo Campos e também neta de Miguel Arraes, que está em campanha ao governo de Pernambuco e o ataca sem limites.
Marília é advogada, 33 anos, e já foi do PSB, mesmo partido do governador. Porém, migrou para o PT pernambucano e fez da violência no Estado o seu argumento eleitoral.
Jovem, mulher, sobrenome de peso, em campanha num Estado onde a violência atingiu níveis maiores do que os do Rio, Marília tem mais do que meio caminho andado: já atingiu 18% nas pesquisas, ameaçando a reeleição de Paulo Câmara.
Os candidatos pernambucanos a mandatos federais e estaduais estão agarrando essa boia com determinação. Será que o ex-presidente pode fazer alguma coisa?
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