Os
números dos últimos seis pleitos municipais mostram que a reeleição está longe
de ser um fenômeno automático.
O País tem 5.570 municípios e, neste ano, 3.510 prefeitos tentaram a reeleição. Segundo dados da Justiça Eleitoral compilados pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), dos prefeitos que tentaram a reeleição, 2.237 foram reeleitos no primeiro turno. Assim, a taxa de sucesso de reeleição foi de 63,73%.
Com
exceção das eleições de 2016, quando menos da metade dos prefeitos que
concorreram a um segundo mandato obteve êxito (49,48%), o porcentual de sucesso
de quem tentou a reeleição vem se mostrando incrivelmente estável ao longo dos
anos. Em 2012, essa taxa foi de 62,53%; em 2008, 62,51%; em 2004, 60,77%; e em
2000, 61,92%.
Esses números ajudam a desmitificar a ideia, muitas vezes repetida, de que o instituto da reeleição produziria uma incorrigível situação de desequilíbrio na disputa eleitoral e, portanto, deveria ser extinto. As taxas de sucesso de reeleição nos últimos seis pleitos municipais mostram que a reeleição está longe de ser um fenômeno automático. Muitos prefeitos tentam se reeleger e não conseguem. Neste ano, por exemplo, 1.255 prefeitos tentaram mais quatro anos de mandato e foram derrotados no primeiro turno. Dezoito ainda concorrem no segundo turno a mais um mandato.
O
fato de que a taxa média de sucesso de reeleição seja acima de 50% também não
revela, por si só, desequilíbrio estrutural da disputa. É natural que
candidatos que buscam a reeleição sejam mais conhecidos e tenham uma prévia
relação de confiança ao menos com parte da população. O importante é que a
rejeição do prefeito que tenta a reeleição não é uma hipótese remota. Na média
dos últimos seis pleitos, a taxa de insucesso esteve em torno de 40%. Ou seja,
o eleitor dispõe de fato de liberdade para não conceder um segundo mandato.
Ante
esses porcentuais, é interessante notar também que eventual exclusão do
instituto da reeleição tiraria do eleitor uma opção que ele tem exercido na maioria
das vezes. Vale lembrar que apenas em 2016 a taxa de sucesso de reeleição de
prefeitos foi inferior a 50%. Os números indicam, assim, que o cidadão aprecia
a possibilidade de conceder ao governante mais quatro anos no cargo.
Nada
disso, obviamente, significa ignorar o mau uso que alguns políticos fizeram ou
fazem da possibilidade de reeleição, desvirtuando o exercício do poder, que
fica excessivamente condicionado pela questão eleitoral desde o início do
primeiro mandato. É o que se vê, por exemplo, com o presidente Jair Bolsonaro.
Antes de completar dois anos de governo, sua atuação já está inteiramente
voltada para a reeleição. Trata-se do mesmo vício que manchou os mandatos
inaugurais de Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Mas
o problema não decorre do instituto da reeleição, e sim do seu mau uso. Não é
por acaso que a possibilidade de reeleição está presente na legislação
eleitoral de muitos países. De forma recorrente, constatam-se efeitos muito
positivos causados pelo instituto da reeleição, que permite, por exemplo, maior
continuidade na implantação de propostas políticas, maior liberdade de escolha
para o eleitor e maior responsabilidade para os políticos.
A
Emenda Constitucional (EC) 16/1997, que permitiu a reeleição do presidente da
República, governadores e prefeitos, para um único mandato subsequente, não
foi, portanto, um passo irrefletido ou um movimento meramente circunstancial.
Ao reconhecer que dificilmente um programa de governo pode ser implementado em
um único período de quatro anos, ela concedeu maior liberdade ao eleitor. E,
como mostram os porcentuais de reeleição dos prefeitos, essa possibilidade vem
sendo exercida pelo eleitorado com razoável constância.
A
legislação eleitoral tem muitos defeitos, que devem ser corrigidos por meio de uma
ampla reforma política. Mas não podem ser ignorados os pontos positivos da lei
vigente, como também não se deve achar, por princípio, que o eleitorado é
ingênuo ou ignorante. Ele sabe discernir quando a reeleição é a opção mais
responsável, a trazer mais esperança.
A confiança da sociedade – Opinião | O Estado de S. Paulo
O
SUS e as escolas públicas são mais confiáveis hoje do que eram antes da
pandemia.
O Índice de Confiança Social (ICS), levantamento realizado anualmente pelo Ibope Inteligência para aferir o grau de confiança da sociedade nas mais diversas instituições, traz resultados muito alentadores em sua edição de 2020, publicada em primeira mão pela revista Piauí há poucos dias.
Nota-se
um pequeno, porém consistente, aumento da confiança dos brasileiros em
instituições que tradicionalmente são vistas com bastante ceticismo pela
sociedade, como o Congresso Nacional, os partidos políticos, o sistema
eleitoral e as organizações da sociedade civil. Não que estas instituições
tenham passado a gozar da confiança da maioria dos brasileiros de um ano para o
outro, mas a mera diminuição da descrença em relação a elas já seria um ponto
bastante positivo para o amadurecimento democrático do País. A pesquisa do
Ibope Inteligência mostra que houve mais do que isso.
O
Corpo de Bombeiros segue no topo do ranking como instituição mais confiável do
País, com 89 pontos (88 em 2019), seguido pela Polícia Federal, com 74 pontos
(72 na edição do ano passado), as Igrejas (71 pontos em 2019 e 73 pontos neste
ano) e as Forças Armadas, que neste ano obtiveram 72 pontos, um crescimento de
3 pontos em relação à pesquisa feita no ano passado. Também se verificou um
aumento de 6 pontos na confiabilidade das instituições financeiras, que
saltaram de 59 pontos no ano passado para 65 pontos em 2020.
O
Congresso Nacional saiu de 34 pontos no ano passado para 36 pontos neste ano.
Já os partidos políticos subiram de 27 para 30 pontos. Os meios de comunicação
mantiveram a pontuação do ano passado: 61 pontos.
O
que salta aos olhos, no entanto, é o crescimento recorde da confiança dos
brasileiros no Sistema Único de Saúde (SUS). O SUS saltou de 45 pontos na
pesquisa anterior para 56 pontos no ICS de 2020, o maior índice de confiança no
sistema público de saúde em 12 anos. O aumento da confiança da população no SUS
é ainda mais expressivo tendo em vista que há anos o sistema não recebe
investimentos e é subfinanciado.
Não
fosse o SUS, nunca será demais lembrar, a história da pandemia de covid-19 no
País teria sido outra, indubitavelmente mais funesta. A sociedade demonstra ter
esta clareza, reconhecendo a imprescindibilidade de uma instituição como o SUS
em um país tão carente de serviços públicos como o Brasil. Isso lança luz sobre
a premente necessidade de união dos Poderes Executivo e Legislativo e
organizações da sociedade civil a fim de estudar e implementar medidas que
fortaleçam o SUS cada vez mais. Na Câmara dos Deputados foi instalada uma
comissão especial encarregada pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-SP),
de propor a revisão da tabela de remuneração dos serviços prestados pelo SUS,
entre outras ações. No âmbito do Executivo a situação é mais preocupante, haja
vista que há pouco tempo o ministro da Saúde, o general intendente Eduardo
Pazuello, chegou a confessar que desconhecia o SUS até tomar posse no
Ministério.
Além
do SUS, o ICS de 2020 revela um crescimento expressivo do grau de confiança da
sociedade nas escolas públicas, que pela primeira vez na série histórica
atingiram os 70 pontos (66 em 2019).
Tanto
o crescimento da confiança no SUS como o nas escolas públicas são corolários de
uma crise econômica que adquiriu contornos dramáticos com a eclosão da
pandemia. É cada vez maior o número de brasileiros que acorrem aos serviços
públicos por terem perdido condições para arcar com os custos dos serviços
privados. Como bem destacou a CEO do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari, mais
pessoas precisaram de serviços públicos no período, e “quem usa confia mais do
que quem não usa” esses serviços.
De
todas as instituições avaliadas pelo Ibope Inteligência, todas cresceram em
confiabilidade neste ano, exceto o governo federal e a Presidência da
República. A gestão, por assim dizer, do presidente Jair Bolsonaro em um
cenário de crise econômica e sanitária fala por si só.
Radiografia da calamidade – Opinião | O Estado de S. Paulo
Tesouro
lembra que o País está em situação frágil, inclusive para realizar políticas
sociais.
O Relatório de Riscos Fiscais da União, publicado no dia 26 pelo Tesouro Nacional, mostra que o estoque de ações judiciais contra a União quadruplicou desde 2014, alcançando a soma de R$ 2,4 trilhões em 2019.
Desse
total, nada menos que 35%, ou cerca de R$ 802 bilhões, são considerados como
perda provável e 66%, ou R$ 1,6 trilhão, são tidos como perda possível. As
ações de maior valor contra a União são de natureza tributária, inclusive
previdenciária, que chegou a R$ 1,901 trilhão, apresentando um crescimento
constante e expressivo desde 2015. O gasto anual com derrotas judiciais saltou
de R$ 19,8 bilhões em 2014 para estimados R$ 54 bilhões neste ano e R$ 55
bilhões no ano que vem.
O
documento do Tesouro divide os riscos fiscais em macroeconômicos e específicos.
No primeiro grupo estão as mudanças estruturais da economia que afetam as
receitas; no segundo estão os que dizem respeito a eventos que ocorrem de
maneira irregular e têm diversas origens, em geral ligadas a programas de
governo, passivos contingentes (incertos ou impossíveis de mensurar) e balanço
patrimonial do setor público (possível mudança de valores dos ativos ou
passivos do governo). Os precatórios – dívidas do governo cujo pagamento é
obrigatório por decisão judicial – são considerados pelo Tesouro como o
principal fator de risco fiscal específico.
A
preocupação com os precatórios já foi manifestada publicamente pelo ministro da
Economia, Paulo Guedes. Em setembro, ele afirmou que “os precatórios são uma
despesa que apresenta crescimento explosivo” e que “aparentemente há uma
indústria de precatórios no Brasil”, razão pela qual havia necessidade de um
pente-fino sobre esse tipo de despesa. Mas o ministro garantiu que “o governo
vai pagar tudo” e que “ninguém vai botar em risco a liquidação de dívidas”.
Na
ocasião, o ministro se viu obrigado a esclarecer que o governo não pretendia
usar a verba destinada ao pagamento de precatórios para financiar o Renda
Cidadã, nome dado ao programa de transferência de renda que estava em estudo
para substituir o Bolsa Família. A informação sobre essa manobra havia partido
do próprio Ministério da Economia e fora muito mal recebida pelo mercado por se
tratar de um óbvio calote nos credores.
O
fato, contudo, permanece: a exposição da União a riscos específicos, entre os
quais o pagamento de precatórios, chegou a R$ 4,8 trilhões neste ano, cerca de
R$ 560 bilhões a mais do que em 2019 e longe dos R$ 3,7 trilhões de 2018.
Enquanto isso, a Dívida Ativa da União, montante de tudo aquilo que pessoas
físicas e jurídicas devem ao governo federal, atinge R$ 2,4 trilhões, dos quais
o governo espera conseguir recuperar R$ 441 bilhões.
Nesse
cenário, diz o relatório, “considerando que os gastos decorrentes de ações
judiciais são despesas primárias, a sua trajetória ascendente revela-se
ameaçadora do equilíbrio fiscal brasileiro, impactando diretamente as
principais regras fiscais, como o teto de gastos e a própria meta de resultado
primário”.
O
ano atípico, com a devastação causada pela pandemia de covid-19, agravou ainda
mais o quadro. O Tesouro alerta que “o crescimento da dívida neste ano reduziu significativamente
a capacidade do país em absorver novos choques que afetem as variáveis
econômicas por meio de endividamento”.
Não
à toa, o relatório recomenda “o máximo de cautela” para a “tomada de decisões
de medidas com impacto fiscal”, pois, com a dívida em nível tão alto, eventuais
choques “podem conduzir a dívida pública a uma trajetória ainda mais alta, sem
perspectiva de estabilidade no horizonte no médio prazo”.
O
Tesouro informou que, apesar disso, é “razoável” a possibilidade de cumprimento
do teto de gastos até pelo menos 2023, desde que haja controle sobre a expansão
ou a criação de despesas. Mas não se pode esquecer que o País se encontra “em
uma posição frágil, inclusive para realizar políticas sociais necessárias”,
razão pela qual, mais do que nunca, o governo precisa deixar a inércia de lado
e acelerar as reformas sem as quais tudo o mais se inviabiliza.
Conter o esvaziamento do Centro é tarefa inadiável para futuro prefeito – Opinião | O Globo
Pandemia
agravou fechamento de imóveis e deu à região o aspecto de uma cidade fantasma
Não
se pode culpar apenas a pandemia pelo estado de coma em que se encontra o
Centro do Rio. Com seu efeito devastador sobre as atividades econômicas, ela apenas
agravou os sintomas de uma doença que já fazia a região definhar muito antes da
Covid-19. O esvaziamento era evidente, embora o poder público ignorasse o
número crescente de estabelecimentos que sucumbiam, alguns com lugar cativo na
memória da cidade — estima-se em três mil o número de lojas fechadas.
São
muitos os motivos que explicam o roteiro de decadência numa região que já teve
seus dias de glória: a crise econômica; o alto preço dos aluguéis (que expulsou
negócios tradicionais, como os da Rua da Carioca); a violência (explicitada no
assassinato do cineasta Cadu Barcellos, esfaqueado quando esperava o ônibus em
plena Presidente Vargas, no último dia 10); a concorrência predatória dos
camelôs sob a vista da prefeitura; a população de rua que não para de crescer;
e a própria dinâmica natural da cidade.
Evidentemente,
o fechamento de setores não essenciais, como bares e restaurantes, e o
incentivo ao trabalho remoto durante a pandemia agravaram a situação. Uma
pesquisa da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi) no
meio do ano mostrou que 40% dos escritórios do Centro estavam ociosos. No
episódio mais recente das saideiras, a Casa Villarino, berço da Bossa Nova,
onde Tom Jobim e Vinicius de Moraes iniciaram sua parceria histórica, anunciou
o fechamento por tempo indeterminado. “O Centro virou uma cidade fantasma
depois da pandemia”, disse Stella Imai, que administrava a casa. Segundo o
sindicato do setor (SindRio), o Centro perdeu este ano 40% de seus bares.
Região
histórica, reduto de um rico patrimônio arquitetônico e cultural, o Centro não
pode ser abandonado à própria sorte. O prefeito eleito amanhã deverá criar um
plano para revitalizar a área. Deve-se considerar que, mesmo quando a pandemia
acabar, muitos de seus efeitos persistirão. Grandes empresas já anunciaram que
deverão manter parte dos funcionários em trabalho remoto. Isso reduzirá o
número de escritórios e, consequentemente, afetará o movimento na região.
Qualquer
projeto que tenha por objetivo devolver vida ao Centro deve incluir o incentivo
à moradia. O local dispõe de boa infraestrutura urbana e inúmeras opções de
transporte, cultura e lazer. Seria mais racional do que estimular construções
em áreas que demandam investimentos públicos, como tem sido rotina nas últimas
décadas. O Centro já está pronto. A aguda crise atual, que precisa ser
enfrentada, pode ser uma oportunidade para fazê-lo renascer sob uma nova ótica.
Governo quer anistia prévia para gastança – Opinião | O Globo
Pedido
da AGU para TCU liberar recursos a obras eleitoreiras é afronta diante do
descalabro fiscal
O
governo e o Congresso receberam um alerta do Tribunal de Contas da União (TCU)
sobre a projeção de “insuficiência de caixa de R$ 46,1 bilhões” neste ano. A
estimativa foi feita a partir dos resultados apurados nas contas públicas até
agosto. Por causa da pandemia, acumulou-se um déficit de R$ 681 bilhões até
outubro, dez vezes o do mesmo período de 2019 e recorde desde 1997. Prevê-se
que o rombo total some R$ 780 bilhões este ano. O TCU advertiu para o risco de
o resultado “afetar a gestão fiscal responsável”.
Paradoxalmente,
enquanto o alerta chegava ao governo e ao Congresso, a Advocacia-Geral da União
(AGU) pedia ao TCU uma espécie de anistia prévia para o governo descumprir o
princípio da anualidade orçamentária. Pretende liberar o uso de recursos do Orçamento
deste ano — inflado pela excepcionalidade da pandemia — para financiar gastos
com obras até 2022, ano de eleições gerais. Seria uma medida tão
escandalosamente estapafúrdia, que viola não apenas o princípio da
responsabilidade fiscal, mas as regras básicas de gestão do dinheiro público —
num momento em que o governo nem sequer aprovou a Lei de Diretrizes
Orçamentárias para 2021.
Desde
a edição da Lei de Finanças Públicas, há 56 anos, a administração está obrigada
a reservar recursos somente para despesas realizadas no mesmo exercício fiscal.
Há margem de manobra na rubrica de restos a pagar, que frequentemente chama a
atenção dos organismos de vigilância fiscal, pois é onde o governo tenta pôr as
despesas de hoje na conta do amanhã. Tal rubrica começou o ano com previsão no
orçamento de R$ 180 bilhões, ou 53% do recorde no ano de 2013, quando Dilma
Rousseff antecipou gastos com obras para pavimentar sua reeleição — e abriu o
caminho aos delitos fiscais que resultaram em seu impeachment.
Nada
disso é remotamente parecido com a anistia preventiva reivindicada pela AGU. É
a segunda vez em quatro meses que organismos do governo tentam legitimar um
drible na legislação fiscal e avançar na trilha da multiplicação de despesas,
com cronograma de obras públicas ajustado ao calendário eleitoral. Em julho,
preparou-se uma “consulta” ao TCU sobre o uso de créditos extraordinários —
fora do teto de gastos —, para bancar esse mesmo conjunto de obras, antes
apelidado de Pró-Brasil. Não deu certo.
A
pressão da AGU defende interesses dos partidos do Centrão, esteio parlamentar
do governo, sobre projetos do Ministério do Desenvolvimento Regional, com valor
estimado em R$ 4 bilhões. Um dos porta-vozes da ideia é o líder governista
Ricardo Barros (PP-PR), para quem a agonia fiscal se resume a um “apagão de
canetas”. A lógica é o governo liberar recursos, via emendas parlamentares,
para destravar o andamento das reformas no Congresso.
Jair
Bolsonaro precisa rever a relação com a sua base parlamentar. O risco, como
adverte o TCU, é ele violar a Lei de Responsabilidade Fiscal na busca por um
punhado de votos. O Brasil sabe bem como acaba essa história.
Preservar empresas – Opinião | Folha de S. Paulo
Nova
lei de falências acerta ao fortalecer recuperação, sem proteger acionistas
Foi
aprovada pelo Congresso e segue para sanção presidencial a nova lei de
falências, que reforma o diploma de 2005 com vistas a agilizar e
tornar mais seguros os procedimentos de recuperação judicial —e, na pior
hipótese, de falências.
Apesar
de dúvidas que cercam um tema tão complexo, dependente de gradual absorção na
jurisprudência, há avanços importantes.
Uma
legislação de falências adequada se mostra essencial para o bom funcionamento
da economia. O ponto-chave de qualquer processo dessa natureza é viabilizar
soluções menos traumáticas, preservando um equilíbrio entre interesses de credores
e acionistas, de modo a minimizar a perda de empregos e a obsolescência de
ativos.
Uma
das inovações corretas é a possibilidade de que os credores apresentem o seu
plano de recuperação judicial, caso não se aprove a versão proposta pelos
acionistas. A quebra da empresa só será decretada no caso de rejeição ou não
apresentação dessa proposta.
A
norma aproxima o Brasil de países que dão ênfase a soluções que atendam a
interesses dos credores, evitando que os responsáveis por levar um
empreendimento à insolvência sejam preservados ou mantenham comando em demasia
do processo de recuperação.
Reforçar
a segurança de quem concede crédito, espera-se, contribuirá para maior fluidez
dos financiamentos na economia.
A
nova lei também amplia as possibilidades de recuperação judicial, abrindo
espaço para capitalização de créditos, troca de administradores e outras
soluções, desde que os credores não obtenham resultado inferior ao que
ocorreria no caso da falência —que passa a ter o prazo máximo fixado em 180 dias.
Outro
aspecto importante é a regulamentação de novos financiamentos durante o
processo de recuperação judicial, muitas vezes ferramenta essencial para o
renascimento da empresa. Até agora tal modalidade ainda expõe os novos credores
a riscos pretéritos.
Com
a nova lei ficam reforçadas as garantias e a ordem de preferência no
recebimento em favor dos novos recursos aportados. Adquirentes dos ativos
também ficam blindados de dívidas anteriores.
De
forma mais controversa, há maior flexibilização nos prazos para pagamento de
dívidas tributárias, aumentando o número de parcelas de 84 para 120. Parece
duvidoso que tal conduta mais leniente seja necessária, ainda mais se o
processo de recuperação de fato se tornar mais eficaz.
Mesmo
com controvérsias e dúvidas, trata-se mudanças com potencial de agilizar os
processos e evitar perdas desnecessárias de empregos, capital e atividade.
Estorvo escolar – Opinião | Folha de S. Paulo
Volta
de aulas presenciais é desejável, mas MEC não ajuda com postura inflexível
A
interrupção das aulas presenciais por quase um ano já se firmou como uma das
consequências mais deletérias da pandemia. Milhões de estudantes, sobretudo os
das camadas mais pobres, sofrem um verdadeiro trauma em sua formação ao ficarem
por meses sem estudar ou serem submetidos a aulas a distância improvisadas.
Diante
disso, como já se defendeu diversas vezes neste espaço, a reabertura das
escolas deve ser uma prioridade de estados e municípios —algo que vem
ocorrendo, é verdade, embora de forma mais tímida e paulatina que o desejável.
Entretanto
o recrudescimento ora observado da Covid-19, somado ao fato de ainda não haver
vacina disponível, traz o risco de interrupção ou retrocesso desse movimento, o
que não permite descartar a necessidade do ensino não presencial nos próximos
meses.
Foi
o que ocorreu, por exemplo, em partes dos EUA e da Europa, onde autoridades se
viram obrigadas a novamente cerrar escolas em meio à recente onda de
contaminações. No Brasil, instituições como a Unicamp postergaram a volta às
aulas como medida de precaução.
Causa
espécie, nesse contexto, a recusa do MEC
em homologar resolução do Conselho Nacional de Educação que
estendeu a possibilidade de aulas remotas, a expirar no final deste ano, até o
fim de 2021. O texto foi aprovado por unanimidade, incluindo a anuência das
entidades que representam as secretarias estaduais e municipais.
A
resolução, válida para os ensinos básico e superior, seja da rede pública ou
privada, visa a permitir, caso necessário, que atividades a distância sejam
computadas no próximo ano como carga horária, a exemplo do que ocorre hoje.
Busca-se,
por essa via, possibilitar a convivência entre o ensino presencial e não
presencial, inclusive em processos de recuperação escolar, de maneira a atender
às diferentes demandas e dificuldades de um sistema educacional fortemente
heterogêneo.
Ao
barrar a flexibilização para 2021, o ministério age para “forçar” a volta
presencial das aulas, independentemente da situação sanitária. Trata-se, como
se vê, de uma não solução, o que apenas vem a confirmar a desastrosa atuação da
pasta ao longo da pandemia.
Basta dizer que as primeiras medidas ministeriais de apoio às escolas foram tomadas somente em outubro, seis meses após o fechamento dos estabelecimentos. Sem ter ajudado quando era preciso, o MEC parece agora decidido a atrapalhar o que vem sendo feito.
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