Eleitor
evangélico provou que não vota unitariamente nem cai mais em lorotas tão
facilmente
Difícil
dizer se
foi o voto evangélico que abandonou Marcelo Crivella ou se foi o velho bispo da
Igreja Universal que o fez correr. O fato é que o eleitor evangélico, que até
outro dia parecia apenas parte de um rebanho ideologicamente garroteado, provou
que não vota unitariamente nem cai mais em lorotas tão facilmente. O sonho de
Edir Macedo, que imaginava fazer uma cabeça de ponte no Rio para daí conquistar
o país, virou vexame e ainda pode se tornar pesadelo.
O
Rio não
votou outra vez no bispo. Crivella ficou curto, apequenou-se. O resultado do
primeiro turno da eleição municipal, que deve se repetir amanhã, desvelou uma
novidade: os votos dos fiéis foram diluídos entre diversos candidatos. A ordem
do pastor não vigora quando o candidato indicado pela igreja é ruim. Ou
péssimo, como no caso em questão. Como essa verdade é comum em outros cantos do
país, temos uma boa nova: o voto de cabresto religioso perdeu força.
O
crescimento da população evangélica, ou a conversão de católicos em
protestantes e evangélicos ao longo dos anos, produziu a sensação de que as
igrejas dominariam em pouco tempo o cenário político nacional. Da mesma forma
que se avalia hoje que em mais 30 anos os eleitores da Bélgica, por exemplo,
serão majoritariamente de origem muçulmana. No Brasil, em dez anos, o número de
evangélicos cresceu em média 61%. No Rio, seu aumento foi ainda maior, chegando
a 64%.
A trajetória de Crivella mostra como foi importante e preocupante o que parecia ser a conformação de um curral eleitoral imbatível por ser administrado pela fé, que se imaginava blindada. O prefeito entrou na vida pública em 2002 se elegendo senador. Foi reeleito em 2010. No intervalo, concorreu sem sucesso a prefeito do Rio e a governador do estado, mas seus resultados foram melhorando. Em 2016, ganhou a prefeitura com 59,6% dos votos. Imaginou-se que o caminho estava consolidado, mas aí apareceu a inacreditável incompetência de Crivella.
Desde a
posse, em
janeiro de 2016, o capital político do bispo foi se deteriorando a ponto de ele
ter hoje um dos maiores índices de rejeição entre todos os candidatos que
concorrem neste segundo turno. Na primeira rodada das eleições, ficou com
magérrimos 21,9% dos votos. Perdeu um oceano de sufrágios em quatro anos. Pelo
que mostram as pesquisas, se Crivella fizer amanhã 30% dos votos válidos, terá
perdido a metade dos eleitores que o elegeram em 2016. Dentre eles, incontáveis
evangélicos.
A fé pode ser
disciplinada e determinada, condescendente e tolerante, mas o fracasso
eleitoral de Crivella prova que cega ela não é. O eleitor evangélico percebeu,
como cada um dos 6,7 milhões de cariocas, que a gestão do bispo foi um desastre
para a cidade. Seu governo sempre foi ineficiente, e não se pode culpar a
pandemia pela agonia que a cidade atravessa. O eleitor evangélico também vê
isso.
Vê, lê e
ouve.
A tecnologia da internet também ajudou a desidratar o monolítico voto
evangélico. Além de perceber no seu dia a dia a desordem urbana, o eleitor fiel
também foi informado pelas redes sociais. Muitas vezes desinformado, com
certeza, mas sem dúvida estas ferramentas foram importantes para quebrar a
“verdade” absoluta que se ministra nas igrejas evangélicas.
O voto
orientado pelo
pastor pode ainda dar resultado na eleição de vereadores e deputados, mas para
cargo majoritário a iminente derrota de Crivella parece estar mostrando uma
nova tendência que o tempo poderá confirmar. Por ora, Rio deve festejar o fim
do mandato do bispo como uma benção. Crivella só vai fazer falta a Márcia e aos
seus guardiões.
Derrota
entre turnos
Jair
Bolsonaro perdeu outra disputa política. Esta, depois do primeiro e antes de
abrirem-se as urnas do segundo turno. Foi em Santa Catarina, onde o seu zero
menor trabalhou incansavelmente para derrubar o governador Carlos Moisés. Bolsonaro e zerinho despacharam
para a capital catarinense a advogada da família, Karina Kufa, para conseguir
que o governador fosse afastado e sua vice bolsonarista preservada depois de o
governo ter equiparado os salários dos procuradores do estado com os da
Assembleia Legislativa. Diziam que o reajuste era ilegal. Deu certo até ontem,
quando a comissão que julgava o afastamento de Moisés teve de restabelecê-lo no
cargo porque o Tribunal de Justiça do estado decidiu na véspera que ele não
cometeu crime algum.
Defesa
do Fla
O
governo federal é tão desorganizado, atrapalhado e abilolado que lembra em
muitos aspectos a defesa do Flamengo. Além de tremer de medo, quando o torcedor
vê aqueles dois patetas do Léo Pereira e Gustavo Henrique trocando passes em frente à área, deve
pensar imediatamente nos ministros Ricardo Salles e Ernesto Araújo. Com estas
duplas, bola no pé do adversário e gol contra é questão de tempo.
Ministro
da Logística
Se
o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, conseguiu deixar estocado, sem uso, mais
de seis milhões de testes de coronavírus em plena pandemia, imagina o que ele
seria capaz de fazer se fosse
general e cuidasse da logística de uma Força Armada
durante uma guerra.
Aliás
A
ampliação por mais 12 meses do prazo de validade dos testes esquecidos por
Pazuello num galpão em São Paulo levantam uma lebre. Será que os laboratórios
não estão estabelecendo validades muito curtas para seus medicamentos de
maneira que eles vençam e o consumidor os descarte e compre um frasco
novo? Tem alguma esperteza aí ou
se trata do exclusivo cuidado com a saúde humana? Pelo preço dos remédios, é
melhor que esta história seja muito bem explicada.
Acertos
e desacertos
A
chance de Guilherme Boulos de acertar se vencer a eleição de amanhã é tão
grande quanto a de Bruno Covas. Sua chance de errar, entretanto, é maior. O
programa de Boulos é mais
ambicioso e muito mais caro do que o de seu adversário.
Além disso, gerou uma expectativa entre os seus eleitores que pode se
transformar rapidamente em frustração quando as pautas começarem a cair por
falta de recursos ou adequações legais.
Boa
surpresa
O
ministro Luiz Fux devolveu grandeza
ao posto de presidente do Poder Judiciário. Ao mandar para
o plenário todas as ações penais e inquéritos, Fux resolveu que os casos da
Lava-Jato voltarão a ser julgados e não apenas descartados sumariamente pela
turminha. Boa também sua recomendação aos larápios de dinheiro público. Não
adianta tentar esconder, “se tiver mala de dinheiro a imprensa vai descobrir”.
Carro
usado
Aquela
máxima “você compraria um carro usado do fulano de tal?” cabe muito bem agora
ao ex-deputado, ex-secretário de estado e ex-presidiário Pedro Fernandes. O
GLOBO noticiou na terça passada que Fernandes
virou corretor de imóveis. O ex-secretário foi preso
temporariamente por desvios em contratos na área da assistência social e
responde a processo correspondente. Daí, vale perguntar: você compraria uma
casa desse sujeito?
Não
culpem o Leblon
Bares
cheios você vê todos os dias em Ipanema, Laranjeiras, Botafogo, Barra da
Tijuca, Taquara ou por onde quer que você ande. Em São Paulo, BH e Recife é
assim também. Mas sempre que alguém quer fazer uma referência aos maus hábitos
dos jovens baladeiros nesta pandemia cita a Rua Dias Ferreira, o Leblon. É uma injustiça. Não
porque a garotada do bairro esteja trancada em casa, claro que não. Mas porque
não são os únicos. Gilberto Bueno, leitor do GLOBO, mandou uma carta para o
jornal dizendo que o Leblon estava fazendo escola. Será mesmo?
Crime
eleitoral
É
muito bom o livro “Uma terra prometida”, a autobiografia de Barack Obama,
lançado na semana passada pela Cia das Letras com pompa e circunstância. Há
inúmeros grandes momentos na narrativa da vitoriosa trajetória do ex-presidente
americano. Mas há também dados do cotidiano, triviais. Um deles, que quase
passa despercebido, explica como
funcionam as campanhas eleitorais nos EUA. Na véspera do
caucus de Iowa de 2007, a arrancada das primárias americanas, fazia muito frio
e a neve poderia afastar eleitores das urnas. O que a adversária Hillary
Clinton fez, como conta Obama, seria crime eleitoral no Brasil. A campanha da
candidata distribuiu milhares de pás entre os eleitores alegando que com as
ferramentas eles poderiam remover a neve acumulada em suas portas e ir votar.
Diego
disse
“Tampouco morto encontrarei a paz. Me utilizam em vida e encontrarão um modo de fazê-lo estando morto”. A afirmação de Maradona, feita em 1996, faz parte de uma coletânea de 1.000 frases organizadas por Marcelo Gantman e Andrés Burgo no livro “Diego dijo”. Ontem, dia seguinte ao velório, soube-se que os 11 filhos do jogador já iniciaram uma contenda pelo seu espólio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário