Na última semana, procurei mostrar que é preciso ir “devagar com o andor” neste esforço de interpretação. Primeiro, porque as eleições municipais tem conteúdo eminentemente local e elementos ideológicos pesam marginalmente nas grandes cidades e principalmente na polarização de segundo turno, como é o caso dos confrontos entre Bruno Covas versus Boulos ou Eduardo Paes versus Crivela. A variação aritmética entre os resultados de 2016 e 2020 diz pouco ou quase nada sobre o futuro.
Por
outra lado, chamei atenção para a diversidade presente entre regiões,
municípios de diferentes portes e partidos razoavelmente programáticos e a
maioria deles, pragmáticos.
Hoje temos 35 partidos registrados no TSE e 24 deles presentes no Congresso Nacional. Vejo análises que a partir da variação aritmética da votação e do número de prefeitos e vereadores eleitos por cada partido, começam a cravar: o “Centrão” saiu fortalecido, a esquerda caiu, Bolsonaro foi derrotado, MDB e PSDB perderam espaço. Nada mais enganoso.
Os
partidos políticos brasileiros se dividem, grosso modo, em dois grupos: os que
procuram ter alguma organicidade e identidade ideológica, e os que tem
perspectiva pragmática, funcionando mais como cartórios para registro de candidaturas
e como administradoras dos fundos eleitoral e partidário e sempre disponíveis a
negociar apoio a governos díspares como os de Itamar Franco, FHC, Lula, Dilma,
Temer ou Bolsonaro. Dos vinte e quatro partidos hoje presentes no Congresso têm
perfil razoavelmente ideológico e projeto nacional PT, PSDB, DEM, PSOL, PcdoB,
PDT, PSB, CIDADANIA, REDE, PV e NOVO. Os outros atuam conforme os ventos
políticos conjunturais. Um caso a parte é o MDB, que é um partido importante, mas
que oscila entre o pragmatismo e a consistência.
Há
um problema central na maioria das análises: o fato de não se conhecer prefeitos
de carne e osso e sua lógica. Os deputados, prefeitos e vereadores têm, em
geral, baixíssima fidelidade às direções partidárias. Se a direção nacional do
partido X apoiar Bolsonaro, Dória, Luciano Huck, Ciro Gomes ou Haddad não quer
dizer que haverá alinhamento geral da estrutura partidária. Os prefeitos e
vereadores no interior são espertos e pragmáticos, querem melhorias em seus
municípios. Evitam partidos com identidade muito forte. Em Minas, nos 12 anos
recentes em que houve a presença do PSDB no governo estadual e do PT no nível
federal, era mais cômodo para as lideranças locais se refugiarem em legendas
sem marca forte para buscar recursos nas duas esferas de poder. Imaginem os
prefeitos da Bahia com o governo estadual em mãos petistas e Bolsonaro na
Presidência. Na hora da eleição a história é outra.
Fica
para outra oportunidade discutir o papel dos fundos, a repercussão dos
“padrinhos” nas eleições locais, a cláusula de desempenho e o fim das
coligações proporcionais e os sinais de esgotamento da polarização nos EUA e no
Brasil.
*Marcus
Pestana, ex-deputado federal (PSDB-MG)
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